Clube

Confira o que rola de som antes dos jogos em São Januário

Momentos antes de o São Paulo apontar no túnel, o som do badalo dos sinos, acompanhados de uma guitarra, aumentam nos alto-falantes do Morumbi. “Hell\"s Bells”, da banda australiana AC/DC, é o sinal pedido pelo goleiro Rogério Ceni para que o time pise no gramado com força para as partidas. E esta é só uma das características do que rola antes dos jogos no estádio são-paulino. E que variam de acordo com a região do país e do clube.

Agradar aos torcedores antes das partidas é a intenção dos DJs que controlam o sistema de som das arenas pelo país. Não é uma tarefa fácil, pois, em um jogo de futebol, diferentes estilos de pessoas circulam pelo estádio. O próprio Morumbi é um exemplo.

Depois de anos tocando pagode e axé e receber inúmeras reclamações das arquibancadas, o São Paulo decidiu criar um critério para o seu “set list”. Segundo Juliana Carvalho, diretora adjunta de comunicação do Tricolor, o torcedor que for ao Morumbi ouvirá artistas que fizeram shows no estádio e aqueles que são assumidamente fãs do clube.

- Agora sentimos que funciona bem. Acompanhamos as reações pelas redes sociais e recebemos muitos elogios. Foi uma maneira que encontramos para agradar mais o torcedor – explicou Juliana.

Nesta linha, o Morumbi toca desde a musa pop Beyoncé até Ramones, passando por Ultraje a Rigor e Nando Reis. Artistas com estilo bem distinto do que é tocado no Pacaembu, estádio que recebe as partidas de Corinthians, Palmeiras e, eventualmente, Santos.

- Aqui é mais sambinha, um pouco de Chico Buarque, Tim Maia... Não tocamos muito sertanejo porque as músicas costumam ser tristes. Mas sabemos que não agradamos todo mundo, né? – comentou Marcelo Castro, responsável pelo som do Pacaembu há 27 anos.

E deixar um estádio inteiro feliz não é mesmo fácil. No dia em que o GLOBOESPORTE.COM esteve no Pacaembu, antes de uma partida do Corinthians contra o América-MG, as músicas melosas de Alexandre Pires ecoaram insistentemente nas caixas de som.

- Essa música é horrível, para dizer o mínimo – reclamou o torcedor Diógenes de Mendonça.

Se as escolhas do DJ de plantão não agradam o torcedor, o contato com o profissional pode amenizar a cara feia na hora de uma música. Em São Januário, 12 caixas de som foram espalhadas pela arena. E Márcio, funcionário de uma empresa contratada pelo Vasco, fica entre os jogadores e os fãs do alambrado, na beira do campo. Os torcedores até gritam para pedir músicas ao DJ, que, de lá, solta \"São Januário, meu Caldeirão\", executada pela Banda Almirante 21, além de muito house e dance.

- Começamos a noite com músicas mais calmas e vamos aumentando o ritmo conforme a torcida vai chegando. De vez em quando tocamos o que eles pedem. Tem um MC da torcida organizada que me entregou um CD e tocamos também. Era um funk sobre o Vasco. Depois tocamos as músicas que exaltam o clube, desde samba até os funks do MC Charles.

Na Vila Belmiro, alguns torcedores também conseguem autorização para suas músicas de adoração ao Santos. Elas são espalhadas pelos cinco mil watts de potência do estádio por Paulo Roberto Gonçalves, diretor da Rádio Local há 19 anos.

- Aqui nós tentamos tocar o que não incomode o torcedor. Música é entretenimento para quem chega cedo. Procuro tocar bastante músicas dos anos 70 e 80, samba... Só não posso tocar funk porque o pessoal do Conselho Deliberativo reclama – afirmou o DJ, que só muda o ritmo para a entrada das Alvinegras da Vila, “cheerleaders” do Peixe.

Ipatingão e Beira-Rio e os privilégios aos grupos locais


Mas se em Santos o tom é mais eclético, no Beira-Rio o som é predominantemente roqueiro. Os torcedores costumam aguardar os jogos ao som de Beatles, Rolling Stones e outros ícones do gênero. Também há muito espaço para o rock gaúcho, especialmente com bandas identificadas com o clube - casos, por exemplo, de Acústicos e Valvulados e Nenhum de Nós.

O Inter tem uma especificidade musical. É um clube com uma banda própria. O Ataque Colorado é um grupo criado especialmente para compor e tocar canções de incentivo ao Inter. Virou moda na torcida e, consequentemente, a trilha mais habitual no Beira-Rio. O apoio a Guiñazu, por exemplo, é com uma cantoria tirada da banda, que costuma homenagear os principais jogadores do time. Um dos integrantes do Ataque Colorado é Kako Kanidia, justamente o responsável pela escolha das músicas tocadas no sistema de som do Beira-Rio.

- Sabemos que o pessoal gosta disso. É curioso que muita gente nos manda e-mail pedindo músicas. Costumamos atender – disse Kanidia, que até tocou um samba antes da partida do Inter com o Cruzeiro.

O Ipatingão, estádio onde o Atlético-MG mandou os últimos jogos pelo Campeonato Brasileiro e também pela Copa Sul-Americana, é bem bairrista no quesito música. As bandas mineiras Skank e Jota Quest se revezam nos alto-falantes antes do início dos jogos, o que parece agradar bastante os torcedores presentes nas cadeiras e arquibancadas. Não é raro ver alguém cantando e dançando no Ipatingão.

Já na Arena do Jacaré, o sistema de som toca apenas músicas relacionadas com os clubes mandantes. Quando o jogo é do Cruzeiro, várias versões do hino são executadas. Da mesma forma, em partidas do Atlético-MG, músicas criadas por bandas de torcedores são tocadas em altíssimo volume.

Não importa o ritmo, a música sempre está presente nos palcos de futebol e deixa a torcida no embalo para vibrar pelo time do coração. O silêncio é que não tem espaço nestas festas. Aperta o play, DJ!

* Com colaboração de Alexandre Alliatti, Sérgio Gandolphi, Marco Antônio Astoni, Rafael Cavalieri, Raphael Carneiro.

Fonte: ge