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Confira entrevista com Leonardo Gonçalves, presidente da Cruzada Vascaína

Entrevistado: Leonardo Gonçalves

Quem é: Presidente da Cruzada Vascaína e ex-diretor do Vasco

Data: 26/04/2010

Desde quando você se conhece como vascaíno? É uma paixão que vem de família?

Desde que eu me conheço por gente sou vascaíno. Meus avós paternos são portugueses. Meu pai é vascaíno fanático e fez lá em casa todo mundo se tornar Vasco. Eu, meu irmão e minha mãe.



Qual o primeiro jogo que você assistiu ?

Segundo minha mãe, eu ia aos jogos de 75 com 2 anos de idade no colo, mas lembro apenas de detalhes de 1977, pois tinha o Orlando Lelé e eu achava engraçado o nome e a cara dele. O primeiro campeonato que eu lembro bem foi 1982 e a final com o gol do Marquinhos.

Qual o momento mais marcante do Vasco para você?

Final da Mercosul. Eu nunca vi nada igual ao que aconteceu naquele jogo.

Qual foi a maior loucura que você já cometeu pelo Vasco?

Nada que se faça pelo Vasco, pode ser considerada loucura. A única loucura seria se eu não fosse vascaíno. Agora se você quer saber a maior demonstração de amor que eu dei pelo Vasco, eu diria que foi ter me casado com a camisa do Vasco por baixo do fraque. Durante a cerimônia na igreja, eu suava muito e minha esposa nem desconfiava o motivo. Na festa, esperei até a hora do buquê, depois que ela o arremessou, eu mandei tocar o hino do Vasco. Tirei o fraque, a camisa social e terminei a festa com a camisa do Vasco que estava por baixo.

Como surgiu a oportunidade para você se tornar diretor das categorias de base do clube?

Até 2004, sempre fui torcedor. Fanático, ia a todos os jogos no Maracanã nas minhas cadeiras perpétuas e em São Januário de arquibancada. Em 2004, tendo acabado de fazer 30 anos e já empresário do setor de tecnologia da informação há 4, senti que estava seguro e pronto para agregar em alguma coisa para o nosso clube. Além disso, atravessávamos uma época difícil. A crise financeira vascaína era grande. Diante desse quadro, eu e meu amigo Mauricio Corrêa (hoje Vice-Presidente na Cruzada) decidimos que iríamos (e deveríamos) oferecer nosso tempo ao Vasco, se este quisesse obviamente. Conversamos com o Seu Amadeu, porém ele nos recomendou a continuar cuidando de nossa vida profissional (risos), conversamos com o Grande Benemérito Nelson Gonçalves, que nos incentivou e disse que procuraria em que poderíamos ajudar. Nesse meio tempo, surgiu a figura do Grande Benemérito José Mourão Gonçalves. Amigo do primo do Mauricio, ele nos recebeu e abriu as portas para que pudéssemos contribuir com o nosso clube de coração.

Como você se sente sabendo que foi responsável por jogadores que já renderam mais de 30 milhões de reais ao clube, como o Philippe Coutinho, Alan Kardec e Alex Teixeira?

Muito feliz. Me sinto lisonjeado de ter feito parte de uma equipe de grandes vascaínos que reestruturam a base do Vasco. É pena que o trabalho foi descontinuado, pois tinham muitos valores ainda para subir. Alguns ainda se encontram no clube, porém dispensaram outros muito bons de bola que tenho certeza que dariam retorno financeiro ao Vasco.

Como você analisa a presença dos empresários nas categorias de base? Qual é o segredo para proteger o clube dos aliciadores?

Infelizmente a Lei Pelé trouxe essas figuras para dentro do futebol. O dirigente de base tem que saber conviver com isso. Em hipótese nenhuma, você pode ter um diretor da base que seja sócio de empresário de futebol. Essa relação tem que ser amistosa e profissional. O clube deve dar condições ao bom desenvolvimento do atleta, saber tirar ajuda do empresário para melhorar a infra-estrutura do clube sem ter que ultrapassar os percentuais aos quais normalmente um empresário fica sobre um atleta. Na nossa época, dávamos essas condições e os pais dos garotos sabiam disso. Viam que ali no Vasco, o filho deles teria condição para se desenvolver bem. O Vasco fazia até exame das digitais dos garotos no CIFAT e no Centro de Fisiologia com os professores Carlos Eduardo e Carlos Vinicius Herdy para obter deles o melhor rendimento.

Como e por quê a Cruzada foi criada? Qual é o objetivo do movimento?

Quando acabou a gestão da qual eu participei, eu tinha, entre várias, uma certeza muito clara: não havia mais espaço pra guerra. A oposição deveria ser oposta a do MUV para permitir que a gestão Dinamite pudesse trabalhar e trazer o Vasco de volta aos tempos de glória. Foi assim que a Cruzada nasceu. Um movimento do bem. Sem ranços, pregando respeito aos adversários políticos, porém não fechando os olhos para o que acontecesse de errado. Um movimento sem culto, nem ódio a uma determinada pessoa. Um movimento de anônimos, os mesmos anônimos que em 1927 construíram São Januário, os mesmos anônimos que escreveram a linda história do nosso clube. Hoje, a cada dia, vejo que o nascimento da Cruzada foi a melhor obra que participei dentro do Vasco. Maior até do que a contribuição na formação do Philippinho, Alex, Guilherme e outros. A cada anônimo que se junta a nós com vontade de reerguer o Vasco, sinto que a nossa força dobra.

A Cruzada é composta, em sua maioria, por ex-conselheiros, diretores e apoiadores da gestão do presidente Eurico Miranda. O que o motivou, particularmente, a se tornar oposição também ao presidente Eurico?

Essa é uma falsa impressão que as pessoas têm. Que participaram da ultima gestão e hoje pertencem a Cruzada, temos eu e o Mauricio Correa apenas. O resto do grupo são pessoas novas, muito competentes e quem tem grande vontade o Vasco. Como falei, criamos o grupo para fazer oposição de forma séria e construtiva, ajudando inclusive ajudando o Vasco o que era impensável antes. Quem quer seguir a Cruzada, esteja à disposição. Não temos restrição a nenhum nome no Vasco.

Qual é a diferença entre Cruzada e Casaca, os dois maiores movimentos de Oposição do clube?

Em linhas gerais, o radicalismo e a coerência. Nosso grupo prega o dialogo. Eles não. Nosso grupo promove encontros respeitosos entre membros da situação e da oposição. Eles não. Além disso, acho que eles criticam hoje muita coisa que acontecia na gestão anterior que eles defendem com unhas e dentes. Ou seja, falta coerência assim como faltava a essa gestão de agora enquanto oposição quando criticavam um monte de coisas e hoje repetem várias delas em sua gestão.

A Cruzada hoje está se preparando para administrar o Vasco. Com certeza, o MUV não fez isso e o Casaca confia na experiência do Eurico para isso. Nós montamos grupos de trabalho para entender e mapear a situação do clube e desenhar soluções. Fizemos uma comissão que está estudando o estatuto e montou um projeto de reforma que será apresentado ao Presidente da Comissao de Reforma de Estatuto do Vasco, Dr. Maquieira no próximo mês. Também criamos uma comissão de estudos sobre a situação financeira do clube para propor solução de equacionamento das dividas de pequeno, médio e longo prazo. Além disso, temos projetos que apresentamos sempre nas nossas reuniões abertas. Convido o torcedor e sócio do Vasco a vir conhecer o nosso movimento. Meu e-mail presidente@cruzadavascaina.com.br está aberto para todos os vascaínos a fim de ajudar e sugerir idéias para o futuro do nosso clube.

Talvez a grande dificuldade atual da Cruzada seja a ausência de Beneméritos em seus quadros. Há uma preocupação em caso de vitória na eleição dos sócios?

Nenhuma. Confiamos na capacidade dos Beneméritos de decidirem o que for melhor para o Vasco. Além disso, temos contatos com vários Beneméritos e Grande Beneméritos e independente da posição política deles, nutrem muita simpatia pelo nosso grupo pelo respeito com que sempre tratamos as pessoas, inclusive os adversários políticos.

Especula-se nos bastidores que o Jayme Lisboa Alves, sobrinho do ex-presidente Eurico Lisboa, será o candidato da Cruzada Vascaína nas próximas eleições. O que há de verdade nisso? A Cruzada já tem algum(ns) pré-candidato(s)?

A Cruzada não tem candidato a presidente definido. O Estatuto do nosso grupo diz que próximo às eleições do Vasco convocaremos uma Assembléia Geral e decidiremos -via voto direto dos nossos diretores e associados - o que faremos nas eleições. E será isso que acontecerá.

No passado nós tivemos dezenas de milhares de vascaínos contribuintes, grande parte deles compostos de idealistas, como foi comprovado em campanhas associativas com motes como a construção de São Januário e da Sede Náutica da Lagoa. É possível resgatar esse idealismo ou os tempos são outros? O vascaíno mudou?

Eu acho que ainda é possível resgatar isso, mas pra isso a diretoria tem que dar exemplo de austeridade, transparência e credibilidade. A administração do Eurico tinha perdido muito dessa credibilidade, então muitos vascaínos passaram a se recusar a contribuir financeiramente. Com essa diretoria, isso tinha tudo pra ser recuperado. Era para a AAV e a Amovasco serem dois sucessos bombásticos. O problema é que começaram a contratar parentes e amigos com salários elevados, participação mal explicada do Carlos Leite no futebol e a transparência é zero. Isso desestimulou a torcida e os vascaínos a contribuírem. Infelizmente a realidade é essa.

Um novo pensamento defende a profissionalização do clube. Isso significa que o clube deve contratar profissionais com experiência no ramo e remunerá-lo. Somente desta forma, seria possível cobrar resultados pelo trabalho apresentado. Essa teoria vai de desencontro às mais tradicionais, que defendem o dirigente amador, aquele que trabalha por amor ao clube, de forma completamente passional. Qual a sua opinião sobre o assunto? Qual o modelo mais indicado?

O modelo ideal é o misto. O dirigente “amador” é quem zela pelo clube. Tem amor, raiz. Ele não vai permitir que o clube seja prejudicado por negligência dos profissionais que trabalham ali. Ao diretor “amador” que eu prefiro chamar de não-remunerado pois amador pode dar a conotação do cara que não tem capacidade de estar ali, cabe indicar a diretriz e fiscalizar o trabalho do dirigente remunerado. O remunerado tem a obrigação de estar ali no clube pelo menos 8 horas diárias, respirar Vasco e tocar o operacional da área.

Qual é a sua grande crítica à gestão do presidente Eurico Miranda?

Na verdade, são duas. A primeira é entrar em pleno século XXI sem trabalhar de forma correta o marketing do clube. Isso prejudicou a imagem do clube e a dele própria, fazendo que os investimentos de parceiros escasseassem e os vascaínos se afastassem do clube. A outra foi não ter sabido a hora de parar de investir no projeto olímpico. O investimento era obrigatório contratualmente, mas foi desproporcional e desmedido. Isso contribuiu muito para o crescimento da divida do Vasco.

Qual é a sua grande crítica à gestão do presidente Roberto Dinamite?

Não ter aproveitado a comoção que houve com a eleição dele. O programa de sócios demorou a abrir. Quando abriu, mostrou-se pouco atraente tendo quase 50 mil cadastros e hoje menos de12 mil sócios adimplentes. Foi obtido patrocínio estatal, mas não houve planejamento para o pagamento dos impostos correntes que seria fundamental para obtenção de certidões. Ou seja, o presidente anterior não soube como captar e viveu sempre apertado. Esse captou, mas não soube investir e você vê o Vasco em situação idêntica a anterior mesmo com mais entrada de recursos financeiros.

Qual seria a escalação do melhor time do Vasco de todos os tempos de acordo com os jogadores que você viu jogar?

Acácio ou Carlos Germano, Paulo Roberto, Torres, Mauro Galvão e Mazinho. Luisinho, Geovani, Juninho Pernambucano e Felipe. No ataque, pode escolher qualquer dupla entre Edmundo, Roberto e Romário que dá samba. Daqui a uns 10 anos, aposto que vai ter jogador revelado pelo nosso trabalho nessa seleção como Philipinho, Guilherme, Luan entre outros.

O Vasco em uma palavra.

Amor.

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Fonte: Semprevasco