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Confira entrevista com José Pinto Monteiro, VP de Esportes Olímpicos

SempreVasco - Comente sobre o seu passado como torcedor anônimo. Desde quando o senhor se conhece como vascaíno?

José Pinto Monteiro - Nunca fui anônimo. Sempre fui, desde criancinha, um vascaíno declarado, exposto. Sou de origem portuguesa e apesar de meu pai não gostar de futebol e ser torcedor do Fluminense, aprendi com meus tios a amar o Vasco. Depois da grande alegria do Super Super de 1958, em alguns momentos cheguei até a pensar, não no anonimato, mas numa pseudo-clandestinidade. Acho que foi uma grande chance que tive de provar esse amor. Foram 12 anos - de 1958 a 1970 - exatamente naquela fase de afirmação, dos meus 11 anos até os 23, não vi meu clube ser campeão. O amor não esmoreceu, pelo contrário, aumentou. Na realidade naqueles 12 anos, o Vasco conquistou 3 títulos: Taça Guanabara de 1965, Rio-São Paulo de 1966 (empatado com Botafogo, Santos e Corínthians) e um que foi uma das maiores alegrias que tive no futebol - Campeão do Torneio do 4º Centenário em 1965. O jejum de 12 anos foi no Campeonato Carioca.

SempreVasco - Qual o primeiro jogo do Vasco que o senhor assistiu?
José Pinto Monteiro - Na televisão, ou melhor, na “televizinho”, em 1956/1957. Agora no Maracanã foi em 1958. Final entre Vasco e Botafogo, Maracanã lotado, precisávamos apenas de um empate para o Super campeonato e perdemos de 1x0. Mas o Vasco, melhor equipe, conquistou o Super Super campeonato de 1958.

SempreVasco - Como surgiu a oportunidade para o senhor ocupar a vice-presidência de esportes olímpicos e responsabilidade social?
José Pinto Monteiro - Essa pergunta é muito oportuna. Esse é um processo político que começou em 1992. A irmã do Marcelo “He-Man” - integrante da FJV - era minha colega de trabalho, na Xerox do Brasil, e comentou com o Marcelo sobre um vascaíno que promovia muitas discussões na empresa em defesa da sua paixão e era muito respeitado por isso. Em seguida, fui procurado por Fernandão e Hércules Figueiredo, que me convocaram para o processo político, que já naquela altura fazia Oposição à administração que levou o clube à situação atual. Engajei-me na hora, e durante todo esse tempo participei ativamente das campanhas vitoriosas, ainda que derrotadas, até a consagradora vitória de 2008. A indicação para vice-presidente veio por intermédio de um convite do 1º vice-presidente geral Luso Soares da Costa, por indicação do vice-presidente de financas Nelson Monteiro da Rocha. Minha experiência como executivo da área comercial de empresa multicional por 30 anos, minha efetiva participação na implantação da Vila Olímpica da Mangueira, minha trajetória como professor universitário e a militância como membro da diretoria do MUV, com certeza serviram como base para essa indicação.

SempreVasco - O Vasco contratou recentemente o Benedito Tortelli, para ser o diretor de basquete do clube. O Vasco está se planejando para disputar a próxima temporada do NBB? Qual é a maior dificuldade desse projeto?
José Pinto Monteiro - Vamos esclarecer quanto à indicação do Benedito Torteli. “Paulista”, como é conhecido no mundo do esporte e do basquete é sócio-campeão do nosso clube e foi convidado pela atual diretoria para ser diretor de basquetebol, esporte olímpico e tradicional que precisa ressurgir. O projeto inclui a participação no NBB e em todas as competições de todas as categorias, temos um projeto de longo prazo. Nosso clube voltará em muito pouco tempo a ser uma potência no basquete. Em breve, publicaremos o projeto que vai encher de orgulho a todos os vascaínos pela sua proposta consistente e responsável. A maior dificuldade é a recorrente falta de recursos que será superada com a adesão de todos os vascaínos na busca de patrocínios. Não existe fórmula mágica, o resultado virá com trabalho e patrocínios.

SempreVasco - O Vasco tinha a melhor equipe de karatê do país. Os gastos eram mínimos e vascaínos - como o senhor Ruy Proença - ajudavam também no custeamento de viagens e estadias. Por que a decisão de acabar com o departamento que gerou mais títulos ao clube nos últimos anos?
José Pinto Monteiro - Quero neste momento convidar todos os vascaínos que nos lêem para conhecer os troféus e medalhas que foram ganhos pela melhor equipe de karatê do país, pois também nos incluiremos nesta visita e quem sabe mudamos de opinião.
O fato é que durante seis meses foi solicitado aos dirigentes da melhor equipe de karatê do país, um planejamento incluindo formação de atletas e estruturação das equipes para a busca de patrocínios. Aguardamos pacientemente 9 meses e os requerimentos eram sempre os mesmos: recursos para viagens que eram negociados à revelia do clube e completo isolamento da vice-presidência. Lembro que o Vasco é um clube de aproximadamente 20 milhões de apaixonados torcedores, um clube com 112 anos de tradição, e pioneiro em ações afirmativas sociais e raciais. Não podemos ser aviltados por interesses pequenos e localizados. O Vasco merece respeito. A sua grandeza não pode ser tratada como um clube de aluguel.
Uma frase foi decisiva para o nosso posicionamento: “Senhor Vice-Presidente, nos daremos medalhas ao Vasco a baixo custo. Temos os nossos próprios patrocínios”.
Não podemos concordar com essa visão; à propósito, vocês sabem por qual clube a melhor equipe de karatê do país está ganhando as medalhas atualmente?

SempreVasco - Nossos rivais conseguem patrocínios para manter seus esportes amadores em alto nível. Por que até agora o Vasco não conseguiu um único patrocínio, nesses dois anos?
José Pinto Monteiro - O Vasco sofreu um período de grande desgaste e isso pesa muito na decisão dos patrocinadores. Temos que mostrar organização e estrutura para receber este fomento que impulsionará nossos esportes. Várias sondagens foram e estão sendo realizadas, mas sequer temos estrutura para manter o mínimo necessário para que equipes de base possam desenvolver seu trabalho. Infelizmente, o clube ficou estacionado por anos e teve seus esportes “loteados”. Transformar este processo degenerativo requer tempo, persistência e planejamento. E estamos buscando com muita dedicação. Temos hoje diretores para cada modalidade – atletismo, basquete, vôlei, lutas e esportes aquáticos, que trabalham incansavelmente.
Mas gostaria aqui de dar algumas informações. Os esportes aquáticos do Vasco estavam sendo administrados por uma empresa – SPORTECH – há 8 anos, e por essa razão, nosso parque aquático - que é o único estádio de esportes aquáticos de clube do Brasil - não recebeu nenhum investimento para manutenção e modernização neste período. Convido todos os vascaínos também para visitarem as quadras que estamos preparando nossas equipes e recebendo os adversários para as partidas de vôlei e basquete.
Quanto aos patrocínios, é publico o investimento da Eletrobrás no Vasco, precisamente nos esportes paraolímpicos e na iniciação olímpica.

SempreVasco - O vice-presidente de finanças Nelson Rocha disse que o livro de ouro - contribuição financeira ou material dos torcedores vascaínos para determinado esporte - não pode mais existir no clube. Qual a sua opinião sobre esse tema? Houve algum problema com esse tipo de angariação de recursos? Os patrocinadores devem custear a modalidade por completo?
José Pinto Monteiro - Esta diretoria entende que cada esporte deve ser auto-sustentável. É preciso formar o entendimento de que a organização e planejamento são fundamentais para o sucesso. Não basta abrir um “livro de ouro” para uma equipe disputar um campeonato e depois esta mesma equipe não ter possibilidade sequer de manter o deslocamento de seus atletas. Hoje em dia, qualquer patrocinador quer ver um projeto, com início, meio e fim. Não há outra forma de se obter recursos.

SempreVasco - Um novo pensamento defende a profissionalização do clube. Isso significa que o clube deve contratar profissionais com experiência no ramo e remunerá-lo. Somente desta forma, seria possível cobrar resultados pelo trabalho apresentado. Essa teoria vai de desencontro às mais tradicionais, que defendem o dirigente amador, aquele que trabalha por amor ao clube, de forma completamente passional. Qual a sua opinião sobre o assunto? Qual o modelo mais indicado?
José Pinto Monteiro - Entendemos que esta fase do dirigente amador é ultrapassada na administração do esporte como um todo. Não cabe mais a figura do “mecenas”. Ou o clube possui um projeto e o encara como sua única possibilidade de obter recursos, ou não terá como manter qualquer modalidade em alto rendimento. Entendo que não é preciso o clube virar empresa, porém, aqueles que não são administrados como tal estão fadados à penúria. Poucos são os que já conseguiram transpor essa barreira e, não por acaso, são os que possuem melhores condições de trabalho e estrutura, e, consequentemente, são os que mais atraem investidores e assim alcançam os melhores resultados.
Creio que os dirigentes amadores podem contribuir com suas experiências para a elaboração do planejamento estratégico do clube, tendo em vista sua vivência profissional em cada área de atuação e pela sua paixão e/ou vocação em ajudar, porém, não há mais espaço para que este mesmo dirigente amador seja o executivo de qualquer área de um clube nos dias de hoje.

SempreVasco - O Vasco é o clube com o maior número de medalhas olímpicas do Brasil. Qual a responsabilidade de dirigir esse departamento?
José Pinto Monteiro - A responsabilidade é enorme, principalmente porque os vascaínos aprenderam a torcer por um clube e não apenas por um time de futebol. Muita coisa está sendo feita e nosso primeiro balanço social mostrou o quanto precisamos juntar forças para melhorarmos. Ser dirigente do Vasco é uma responsabilidade única, independente de que departamento você dirige.

SempreVasco - O Vasco tem buscado angariar fundos da Lei de Incentivo ao Esporte para reformar as instalações do clube, como os ginásios e o parque aquático. Qual projeto está em nível mais avançado? Algum está mais próximo de tornar-se realidade?
José Pinto Monteiro - Temos 5 projetos bem desenvolvidos – esportes aquáticos, atletismo, basquete, vôlei e esportes paraolímpicos -, que dependem apenas de ajustes uma vez que aguardamos as mesmas certidões que estão causando entrave nos valores de nosso patrocinador master – a Eletrobrás.
Podemos adiantar que a reforma dos ginásios e do estádio aquático estão bem avançadas e esperamos terminar o mandato do presidente Roberto Dinamite com boas novidades nessas duas estruturas esportivas.

SempreVasco - O senhor tem em seus planos continuar na chapa do presidente Roberto Dinamite, nas eleições do ano que vem, como vice-presidente de esportes olímpicos e responsabilidade social?
José Pinto Monteiro - Ainda é cedo para qualquer tipo de especulação eleitoral, mas temos a certeza que estamos realizando, mesmo às duras penas, um trabalho que nos fará chegarmos fortes para que possamos dar continuidade ao projeto que a diretoria traçou para o clube. Cabe lembrar que os cargos de vice-presidentes são de confiança e, portanto, não há ninguém que esteja apto a continuar sem a definição da diretoria eleita.

SempreVasco - Poucos vascaínos sabem, mas o Vasco tem um projeto na área de natação voltado para os atletas paraolímpicos. Tudo capitaneado pelo grande nadador Mauro Brasil. Conte-nos um pouco sobre esse projeto.
José Pinto Monteiro - O Vasco está desenvolvendo um programa paraolímpico. A natação faz parte desse programa. Este projeto que estamos desenvolvendo na natação paraolímpica, está rigorosamente alinhado com o perfil pioneiro do clube e é um item muito importante no patrocínio da Eletrobrás. Aproveito aqui a oportunidade para convidar todos os vascaínos que nos lêem para conhecer integralmente o Programa Paraolímpico no site do Vasco. Mais uma vez, o pioneirismo deixa seu registro em nossa história.

SempreVasco - Mais uma vez o Vasco está sendo pioneiro, dessa vez com o Colégio Vasco da Gama, um dos mais bonitos feitos de um clube sempre focado no campo social. Se antes a luta vascaína era contra a discriminação racial, agora é pela inclusão do ser humano. Comente um pouco sobre a importância dessa iniciativa do clube.
José Pinto Monteiro - Vejam, mais uma vez temos que ir aos fatos. O Colégio Vasco da Gama foi fruto de uma parceria do clube com uma rede particular de ensino em 2004. Naquela altura, a proposta era de garantir aos atletas que vinham de outros Estados a escolarização. Com as dificuldades financeiras, o convênio foi desfeito e o clube assumiu a responsabilidade financeira e pedagógica da instituição. Para nossa surpresa, o Colégio Vasco da Gama estava funcionando sob regularidade precária junto à Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro e ameaçado de fechamento e pior do que tudo isso, havia também a possibilidade do não reconhecimento dos diplomas até então conferidos as turmas anteriores. Em suma, tínhamos um grande desafio.
Um trabalho extremamente minucioso que levou 9 meses de preparação, feito pela minha equipe, e com o envolvimento direto do presidente Roberto Dinamite conseguimos a regularização do colégio, assegurando a todos os alunos atuais e aos alunos formados, a regularidade de seus diplomas e estudos.
A partir de então, estamos montando uma estrutura que inclua não somente as aulas da grade curricular oficial, como também buscando uma maior integração de nossos alunos-atletas com a sociedade, através de práticas inclusivas. A tendência nacional é transformar essa experiência em lei. O Estado de São Paulo já sancionou uma lei que obriga os clubes a terem colégios. O Vasco, mais uma vez, saiu na frente e mais ainda, com um colégio com ensino integral.
Acreditamos que desta forma, mesmo que o atleta não tenha sucesso na carreira, cumpriremos nossa obrigação com o país, formando cidadãos capazes para a sociedade.

SempreVasco - Qual seria a escalação do melhor time do Vasco de todos os tempos de acordo com os jogadores que o senhor viu jogar?
José Pinto Monteiro - Carlos Germano, Orlando Lelé, Brito, Orlando Peçanha e Felipe; Juninho Pernambucano, Donato e Mazinho; Sabará, Roberto Dinamite e Romário.

SempreVasco - O Vasco em uma palavra.
José Pinto Monteiro - Grandioso.

SempreVasco - Deixe um recado final para os vascaínos que acompanham o SempreVasco.com.
José Pinto Monteiro - Que o sentimento não pare e que não tenhamos dúvidas que construiremos um Vasco sólido para nossos descendentes. O Vasco unido é maior do qualquer vascaíno. Trabalho diuturnamente por um Vasco unido, maior e melhor.

Fonte: Semprevasco