Futebol

Confira a análise tática de Vasco 2 x 0 Botafogo

\"\"Por um desses paradoxos que tornam o futebol tão apaixonante, o clássico no Engenhão foi definido no segundo tempo a favor do time cruzmaltino quando o Botafogo era mais organizado e ocupava melhor o campo de ataque.

Contudo, o que tornou o triunfo vascaíno incontestável, apesar das reclamações pelo gol anulado de Herrera em posição duvidosa – lance dificílimo que este que escreve também marcaria impedimento -, foi a nítida superioridade do time de Ricardo Gomes na primeira etapa. Muito por conta das modificações no desenho tático que surpreenderam Joel Santana e seus comandados.

A grande incógnita era o posicionamento do estreante Diego Souza. Com a confirmação do time com dois volantes, Felipe e Bernardo no meio e Éder Luís na frente, imaginou-se um Vasco no 4-2-3-1. No entanto, Gomes optou pelo mais simples: não mexer na estrutura tática e posicionar o novo camisa dez no ataque.

Mesmo sem entrosamento, Diego Souza foi o destaque do clássico pela movimentação que confundiu a zaga adversária, além da disposição incomum, impondo seu conhecido vigor físico, e da categoria para aproveitar a bisonha falha de João Filipe, limpar Jefferson e tirar do alcance dos defensores alvinegros que correram para salvar o inevitável.

Ricardo Gomes também tinha a preocupação de acertar o frágil sistema defensivo diante do ataque mais positivo do Estadual, com 28 gols. Com Allan improvisado na lateral-direita substituindo o suspenso Fagner, a retaguarda precisava de mais proteção do meio-campo e cuidado com a bola aérea para Abreu. O treinador, então, trocou o posicionamento dos volantes: Romulo, mais alto, saiu do lado esquerdo e ficou centralizado à frente da zaga para ajudar na disputa da primeira bola. Eduardo Costa foi para a direita e Felipe recuou em definitivo pela esquerda, transformando-se num volante-meia, liberando Bernardo para articular e configurando um losango no meio.

Curiosamente, a mexida que visava acertar a marcação desorganizou o Botafogo e melhorou a produção ofensiva. Joel repetiu a formação da vitória sobre o Americano e a expectativa era que ele também mantivesse a distribuição dos jogadores: uma linha de quatro na defesa, com os laterais Lucas e Márcio Azevedo liberados para apoiar sustentados por Rodrigo Mancha mais plantado, Arévalo Rios à direita, Somália pela esquerda e Everton solto para encostar em Herrera e Abreu.

No entanto, o que se viu foi uma balbúrdia na intermediária alvinegra, talvez provocada pela preferência de Joel por embates individuais. Somália saiu da esquerda para marcar Felipe; Everton, provavelmente orientado a voltar com Eduardo Costa, ficou à esquerda e Arévalo, aguardando Romulo pela direita, se viu obrigado a avançar, deixando Mancha solitário na marcação a Bernardo e na proteção à zaga. Resultado: losango desconstruído e, por conseqüência, meio-campo desmanchado.

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Primeiro tempo: equipes no 4-3-1-2, com predomínio vascaíno pelas mudanças no meio-campo que desconstruíram o losango do Bota, com Everton recuado pela esquerda e Arévalo sem saber se auxiliava Mancha no cerco a Bernardo ou saía para marcar Romulo.

Não fosse a ótima fase de Jefferson e a má pontaria de Éder Luís, o Vasco teria encaminhado a vitória já nos primeiros 45 minutos. Joel acertou o posicionamento no intervalo e o Bota voltou mais organizado, com Everton centralizado à frente dos volantes que passaram a marcar por setor (o mais lógico) e mais à frente. O time cresceu e forçou uma mudança no Vasco: Eduardo Costa e Felipe trocaram de lado para que o meio-campo continuasse marcando e criando.

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No início da segunda etapa, Joel acertou o posicionamento e a marcação no meio, que passou a ser por setor. O Vasco tentou se adaptar e manter o domínio, com Eduardo Costa e Felipe trocando de lado, mas o Bota cresceu.

O domínio alvinegro se desfez quando Mancha saiu de campo para receber atendimento médico, o meio-campo dispersou com a ordem de Joel para Arévalo e Somália inverterem o posicionamento, João Filipe vacilou e o gol vascaíno obrigou Joel a mexer.

A troca dos laterais Lucas e Márcio Azevedo por Caio e Marcelo Mattos repaginou o Bota num 3-4-1-2, com Mancha na zaga e Caio e Somália nas alas. Porém, as mudanças radicais e a desvantagem no placar, além dos protestos na arquibancada, desarrumaram de vez o Bota e encaminharam a vitória vascaína, consolidada no belo gol de Éder Luís, que acertou a conclusão mais difícil depois de perder chances bem menos complicadas no primeiro tempo. Um prêmio à equipe que nunca se desorganizou na partida.

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As entradas de Caio e Marcelo Mattos pouco acrescentaram e o 3-4-1-2 de Joel ruiu com o gol de Éder Luís que consolidou a vitória do time que em nenhum momento abandonou sua estrutura tática.

O Vasco desperdiçou a chance de golear um adversário atônito e que precisa definir uma proposta de jogo consensual entre jogadores e treinador. Mas o justo triunfo, além de colocar a equipe da Colina na liderança do Grupo A da Taça Rio e acabar com um incômodo jejum de vitórias em clássicos de quase um ano, resgata a confiança de um time que ainda busca regularidade para definir suas metas na temporada, ou ao menos no primeiro semestre.

Alecsandro é reforço interessante, ainda que seja para tornar o elenco mais robusto, com opções de força e velocidade no ataque. Para Ricardo Gomes, a melhor notícia é a construção de uma base menos frágil na defesa e que ganha alternativas para, mesmo sem planejar, surpreender rivais tão hesitantes quanto o Botafogo de Joel Santana.


Agradecemos ao nosso colaborador Edson Machado pelo envio da matéria.

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Fonte: Blog Olho Tático - Globesporte.com