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Compare as frases de Bracks em maio com os movimentos recentes do Vasco

O Vasco ainda busca reforços no mercado de jogadores sem clube, mas, com o fechamento da janela de transferências, é possível fazer um balanço dos movimentos da diretoria. No dia 30 de maio, com o time já em crise, o diretor esportivo Paulo Bracks deu sua última entrevista, reconheceu erros na montagem do elenco e prometeu corrigi-los.

O ge resgatou as respostas do dirigente, em uma entrevista de quase 1h30 de duração, para checar o que foi e o que não foi cumprido na janela. Em suas respostas, Bracks deixou claro que buscaria um camisa 10, prometeu melhores resultados e afirmou que gostaria de contar com jogadores prontos na abertura da janela. Nos três casos, a realidade não correspondeu à expectativa.

Por outro lado, Bracks prometeu reforços e foi ao mercado. É inegável que o clube se movimentou na janela, com nove contratações até agora. A busca por um camisa 10 continua. No entanto, a diretoria encontrou muitas dificuldades para fechar com as primeiras opções em cada posição e contratou atletas que, em sua maioria, não empolgaram os torcedores. Se eles conseguirão evitar o rebaixamento, só o tempo dirá.

O Vasco foi o clube da Série A que mais contratou no último mês. Poucos dos reforços, porém, estavam nos planos do clube na abertura da janela. Chegaram um zagueiro (Maicon), um lateral-esquerdo (Jefferson), três meio-campistas (Medel, Paulinho e Praxedes) e quatro atacantes (Serginho, Rossi, Sebastián Ferreira e Vegetti).

Também houve saídas (Andrey, Eguinaldo, Paulo Victor, Pedro Raul, Rodrigo e Rwan Cruz), mudanças no comando técnico e até troca de CEO durante o período, além de muitas negativas. O dinheiro curto, a pouca credibilidade depois de atrasos de pagamentos a clubes e empresários e a má posição na tabela atrapalharam bastante as negociações.

Compare as frases de Bracks em 30 de maio com os movimentos recentes do clube:

Confiança em Barbieri

- É um momento ruim de resultados, de tabela, mas estamos prontos para superar esse momento. O trabalho está sendo incansável para que a gente passe essa fase. E vamos passar. Tenho total confiança no trabalho do Barbieri... A avaliação de todos é diária. Meu trabalho, do Abel, do Barbieri, dos jogadores, dos funcionários, seremos os nomes que tirarão o Vasco dessa situação da tabela.

Três derrotas e 24 dias depois, o Vasco anunciou a demissão do treinador Maurício Barbieri. O argentino Ramón Diáz foi anunciado 22 dias depois.

Camisa 10

- Em relação ao meia, a gente buscou nomes dentro do mercado de muita qualidade. Aí eu acho que pode ter sido um erro meu, porque mirei alto demais. A gente não conseguiu por vários fatores dentro dessa negociação, seja por financeiro ou aceitação do atleta... É uma lacuna do elenco? É. Nós vamos buscar completar essa lacuna? Vamos e já estamos. E ainda bem que esse nome ainda não vazou, porque não pode vazar, porque, se vazar, não vem. Esse nome seria entregar. Não vou falar que nós vamos trazer um camisa 10 de peso porque pode não vir. Não depende só da minha caneta. Mas te garanto que o esforço incansável para trazer esse camisa 10 nós vamos fazer.

O esforço incansável não deu resultado. O Vasco segue sem um camisa 10. Assim como na primeira janela, o clube mirou alto e recebeu várias negativas. Lanzini era o jogador citado por Bracks que estava em negociação. A conversa vazou, e o argentino não veio. Independentemente do vazamento, o meia nunca esteve próximo do Vasco. Ele acertou nesta semana com o River Plate.

Além de Lanzini, Rodrigo Zalazar, Jorge Carrascal, Franco Fagúndez e Ezequiel Bullaude foram alguns nomes tentados sem sucesso para a posição. O clube ainda segue em busca de um camisa 10 livre no mercado que possa chegar.

Mudança nos resultados

- O que eu quero que o torcedor veja é a mudança dos resultados, é a mudança nossa na tabela. É a mudança nossa, a partir da oitava rodada, que a gente termina numa zona de rebaixamento - e que não importa como começa, importa como termina o campeonato -, e que a gente tenha essa mudança logo... Vamos melhorar a pontuação, vamos melhorar o aproveitamento. Isso tudo passa por melhora de performance, que estamos trabalhando aqui dentro.

Houve mudança dos resultados... Para pior. Até a 8ª rodada, momento da entrevista, o time conquistou seis pontos, com aproveitamento de 25%. Desde então, foram três pontos em oito partidas, com aproveitamento de 12,5%. Na 16ª rodada, o Vasco assumiu a lanterna.

"Montamos 80% do elenco"

- Quando falei dos 80%, 90% do elenco, vou ficar com 80%. Montamos 80% do elenco que a gente queria dentro das condições que a gente teve para fazê-lo. A conta é fácil: se pegar um elenco de 30 jogadores, 20% são seis. Quando você tem 80% do elenco e diz que está faltando 20%, está falando de seis jogadores. Não estou dizendo que serão contratados seis jogadores, cinco, quatro ou 10, mas os 80% eu reafirmo que a gente conseguiu cumprir. A gente consegue competir, sim, com esses 11 jogadores. A gente está na oitava rodada e obviamente não vamos manter o que estava sendo feito para provar que estava certo. A gente não quer ter razão, a gente quer ser feliz.

Desde então, o Vasco teve enorme dificuldade de competir na Série A, chegando à lanterna, posição que ocupa no momento. O clube teve seis saídas na janela (dois volantes, um lateral-esquerdo e três centroavantes) e nove chegadas (um zagueiro, um lateral-esquerdo, três meio-campistas, dois atacantes de lado e dois centroavantes).

Elenco em construção

- Eu sempre disse que a gente quer ser competitivo e fazer um ano sólido. O elenco está sendo montado, ainda é um elenco em construção, para ser competitivo. Se está faltando competitividade em alguns jogos, a falha é da montagem do elenco e da parte técnica, sim. E isso vai ser corrigido internamente.

Até o momento, o Vasco está longe de fazer um ano sólido e isso ainda não foi corrigido internamente. Na janela, o clube contratou nove reforços, repôs saídas e preencheu lacunas. O elenco, no entanto, continua com brechas. O sonhado camisa 10 não foi contratado. A comissão técnica também entende ser necessária a contratação de mais um zagueiro que atue pela direita.

Chegadas no início da janela

- O que eu quero, e isso posso dizer, é que esses jogadores estejam prontos aqui no dia 3 de julho. É o que precisamos. Mas para isso eu preciso contratar antes. E sem entrar em polêmica nenhuma com frases de ninguém. Mas preciso trabalhar contratação de jogador diariamente, não somente quando a janela abre. Estamos trabalhando forte para a próxima janela, e não vou esperar chegar em julho para fazer esse movimento.

O Vasco contratou apenas dois jogadores antes da abertura da janela: o zagueiro Maicon e o atacante Serginho. Os dois enfrentaram o Cruzeiro, no primeiro jogo após a abertura da janela, mas nunca mais foram titulares. Medel desembarcou no Brasil no dia 8 de julho e participou da partida seguinte, contra o Athletico.

Os demais reforços chegaram no fim da janela. Praxedes, Paulinho e Sebastían Ferreira se apresentaram ao Vasco na semana passada e estrearam poucos dias depois, contra o Corinthians. Jefferson também já vinha treinando com o grupo, mas não foi relacionado para o jogo passado. Vegetti e Rossi foram contratados nesta semana e ainda não estrearam.

"Vamos entregar"

- São cerca de 20 anos de turbulência. Em cinco meses a gente não vai ter um voo sem nenhuma turbulência. Estamos tendo a nossa turbulência. A gente vai buscar estabilidade, continuar crescendo em termos de processo, projeto, montagem de elenco, parte técnica, força da camisa. Trabalho para isso não vai faltar. Não tenho problema com cobrança, pode cobrar porque a gente vai entregar.

Até agora, não entregaram. Depois desta entrevista, o Vasco jogou oito vezes, com uma vitória e sete derrotas.

Dívidas atrapalham no mercado?

- Temos pouquíssimos clubes no Brasil superavitários que hoje pagam tudo rigorosamente em dia. Se as dívidas atrapalham no mercado? É óbvio que atrapalham. Mas isso não vai nos impedir de fazer movimentos na janela. Isso não vai impedir.

Impediu. O Vasco, por exemplo, não conseguiu contratar o centroavante Michael Santos, do Talleres. Por causa das dívidas, o presidente do clube argentino pediu garantias bancárias à SAF, que não respondeu. Sem acordo, o Vasco buscou a contratação de Pablo Vegetti, do Belgrano.

Apoio da torcida

- A gente precisa do apoio do torcedor, porque o Vasco sem a torcida não é o Vasco. A gente sabe que esse apoio vai vir com a entrega dos jogadores. A gente tem uma grande oportunidade de já no próximo jogo mostrar isso para o torcedor. Ser competitivo, fazer um ano sólido, sair dessa situação incômoda com muito mais trabalho, muito mais entrega, assumindo os nossos erros, dando a cara para bater.

No jogo seguinte à entrevista, o Vasco foi goleado pelo Flamengo por 4 a 1, no Maracanã. Após o clássico, torcedores vascaínos tentaram invadir São Januário. A situação ficou insustentável depois da derrota para o Goiás, com uma enorme confusão em São Januário e, posteriormente, a interdição do estádio - hoje, o Vasco só pode jogar lá sem a presença da torcida.

Experiência na frente

- Se é o momento de admitir falha, de olhar para dentro e dizer "erramos", problema nenhum. Erramos em não ter um jogador com mais experiência ali na frente. Erramos em não ter um jogador com mais experiência do meio para frente. E a gente vai corrigir isso.

O Vasco fechou seis contratações do meio para a frente nesta janela, a maioria delas com idade acima dos 25 anos: entram nesse pacote Serginho (28 anos), Sebastián Ferreira (26), Paulinho (26), Rossi (30) e Vegetti (34). O mais jovem foi o meia Praxedes, emprestado pelo Bragantino, que tem 21 anos.

Fonte: ge