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Como Rossi saiu do interior do Pará para virar peça-chave do Vasco

Em pleno dezembro, no verão brasileiro, quando os jogadores de futebol aproveitam as férias para ir a lugares badalados e praias paradisíacas, Rossi tem um caminho diferente: pega um avião para Santarém, depois uma balsa que leva duas horas para atravessar o Rio Amazonas, e, por fim, percorre de carro um caminho que dura quatro horas até Prainha.

Só lá, no interior do Pará, Rosicley Pereira da Silva está em casa. Para amenizar a distância, ele escolheu tatuar no braço esquerdo sua vida: tem os rostos de seus pais e a igreja de Nossa Senhora das Graças, a padroeira de Prainha, com um menino segurando uma bola de futebol.
 

- Minha vida está toda neste braço. Eu sou devoto de Nossa Senhora das Graças. Meus pais são tudo para mim. Sempre que posso, no fim de ano, vou para lá e assisto às missas. Não é fácil sair de onde saí e chegar em clubes como Internacional e Vasco. Fazer parte de uma reconstrução da Chapecoense.

Chego a me arrepiar, porque ser referência numa região onde poucos jogadores saem de lá, acredito que isso dentro de campo me traz mais força para vencer as dificuldades. Isso realmente acontece.
 

O búfalo com cara de mau

Contar as origens de Rossi é essencial para explicar o que o torcedor do Vasco vê toda vez que o camisa 7 entra em campo. Não falta entrega. Às vezes há até excessos: não é raro o atacante se exaltar em lances, ou reclamar de forma mais acentuada.

Esta personalidade se moldou desde os banhos na beira do Rio Amazonas até a maturidade pessoal. A comemoração do búfalo, animal típico do Pará, é uma forma de homenagear sua terra, mas também um símbolo de Rossi como jogador.

- Acaba reforçando uma imagem de brabo. Eu gosto, acho que passa respeito dentro de campo. Acho que sou muito competitivo. Muita gente acha que tenho cara de mau, mas fora de campo é aquela tranquilidade de sempre. Dentro de campo não vou querer perder nunca. Por isso essa cara de mau.

Eu sou espontâneo para caramba. Acho que jogador não tem que ficar em cima do muro quando quiser falar algo sobre política, VAR, juiz. Jogador pode falar o que quiser, mas sempre respeitando quem vai atingir.

 

Flamengo e Fluminense conheceram de perto a personalidade de Rossi. Com 15 anos, após se destacar em uma Copa São Paulo de Juniores pelo Castanhal – onde jogou com Yago Pikachu -, Rossi foi indicado por olheiros e passou por Flamengo e Fluminense. Como ele mesmo admite, não ficou por fazer muita besteira.

- Na base do Fluminense fiz muita besteira, por isso não fiquei. Era muita coisa para um moleque de 15 anos que mora na beira do Rio Amazonas. Não aproveitei a oportunidade, mas papai do céu me abençoou, pude rodar e agora estou de volta ao Rio de Janeiro.

Amizade com Pikachu e dívida em açaí

No Vasco, Rossi também reencontrou um antigo amigo. Com Yago Pikachu, ele disputou uma Copinha e apareceu para o mundo. No Cruz-Maltino, os dois formam o lado direito da equipe turbinado à base de açaí.
 

- O nome dele não era nem Rossi na época, era Prainha, porque ele é do interior do estado. Então muita gente chamava ele de Prainha. Não sei de onde tiraram Rossi pra ele. Mas é um cara bem tranquilo. Eu ajudo ele bastante com açaí, principalmente (risos). Eu falo pra ele só fazer o gol lá que está tudo pago. Só tenho que falar coisas boas dele porque além de ser meu conterrâneo, é um grande amigo que eu tenho - contou Pikachu.

- É um grande amigo e a gente espera manter essa relação dentro de campo por muitos anos. Toda vez que o Pikachu ou a família dele vêm, ele sempre traz açaí. Eu sempre peço para ele. Agora, minha mãe está vindo e vou ter que pagar o que ele já me deu. Estou devendo uns três litros de açaí (risos) - completou Rossi.

Contra o Palmeiras, nesta quarta-feira, às 21h30 (de Brasília), em São Januário, será mais uma chance para Rossi e Pikachu fazerem sua parceria. Quem sabe, com uma comemoração de búfalo, em mais uma homenagem à terra natal. Em Prainha, ficarão orgulhosos de seu representante mais famoso.

Fonte: (ge)