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Comércio na Barreira do Vasco é prejudicado com interdição de São Januário

A interdição de São Januário para o público em jogos do Vasco da Gama levou a uma queda de 60% na receita mensal dos comerciantes da região, diz um estudo da Prefeitura do Rio de Janeiro.

A Justiça proibiu a entrada de cruzmaltinos no estádio desde uma confusão nas arquibancadas em junho, na partida contra o Goiás.

Torcedores do Vasco atiraram rojões, quebraram estruturas e entraram em confronto com a polícia, que chegou a disparar tiros. Não houve relatos de feridos com gravidade.

O clube recorreu, mas, nesta semana, o fechamento foi mantido em segunda instância.

"Essas deliberações têm infligido um impacto substantivo sobre os empreendimentos comerciais localizados nas cercanias do estádio, induzindo prejuízos econômicos consideráveis para os comerciantes locais", afirma o Observatório do Trabalho Carioca, da Secretaria Municipal de Trabalho e Renda.

O movimento que costumava caracterizar os dias de partida transformou-se em uma paisagem de escassez"

— Observatório do Trabalho Carioca da Secretaria Municipal de Trabalho e Renda

"A ausência de torcedores tem conduzido a um declínio nas receitas e na geração de renda das comunidades da Barreira do Vasco, Tuiuti e Arará, região já impactada com perdas históricas de postos de trabalhos pela retirada de indústrias e transformações no mundo do trabalho", descreve.

A secretaria fez entrevistas na região e colocou um questionário nas redes sociais. Segundo a Associação de Moradores da Barreira do Vasco, aproximadamente 18 mil pessoas foram, direta ou indiretamente, afetadas com a proibição dos jogos.

O Observatório do Trabalho Carioca apurou que 92,8% dos buscadores de emprego na região possuem uma renda familiar de até 2 salários mínimos.

"A interrupção dos jogos com público teve um impacto profundo e abrangente no comércio local, afetando diretamente os comerciantes com pontos fixos que pagam aluguel e despesas recorrentes", diz o texto.

"Esses comerciantes, que dependem do rendimento gerado pelos jogos, compartilharam relatos de uma redução acentuada de quase 60% na receita mensal. Essa diminuição significativa reflete a importância crítica dos eventos esportivos para a saúde financeira desses estabelecimentos", informa.

A secretaria estima que quando São Januário recebe torcedores "os comerciantes têm por hábito a contratação de até 300 funcionários, a maioria composta por moradores das comunidades locais".

Além disso, nos dias de jogos, aproximadamente 250 vendedores autônomos credenciados atuam dentro do estádio, atendendo as arquibancadas e áreas sociais, e fazem até R$ 8 mil de receita.

Há 19 anos, o trailer de lanche da empresária Denise Coutinho é o sustento da família. Agora, ela está preocupada: "Muito triste de aguentar. Com o pouco que você ganha, coloca comida dentro de casa."

O dinheiro não circula, e as pessoas têm que ter oportunidade. A Barreira necessita desse evento"
— Paulo Arruda, empresário

Proibição polêmica

O relatório de um juiz sugerindo a interdição de São Januário após a de junho provocou revolta, principalmente de moradores da Barreira do Vasco, comunidade na Zona Norte do Rio.

O Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos enviou um parecer ao Ministério Público pedindo apuração. Mas palavras do juiz de plantão, Marcelo Rubioli, viralizaram.

Rubioli escreveu: "Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem área de escape, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio."

Em julgamento na tarde desta quarta-feira, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) manteve a proibição de público em São Januário. Por dois votos a um, o estádio seguirá com portões fechados, mas está liberado para receber jogos sem torcida. O Vasco vai recorrer da decisão no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.

"Tivemos um voto favorável, mas infelizmente não foi suficiente. O Vasco agora vai levar o caso a Brasília para que seja analisado pelos ministros do STJ", disse o advogado do Vasco, Marcelo de Andrade Figueira.

A relatora desembargadora Renata Cotta e desembargador Carlos Santos de Oliveira votaram contra a liberação. Sob argumento de que ainda deve haver perícia para a liberação do estádio e que a decisão em liminar deve se manter "enquanto não estiver comprovada a segurança" do local.

A desembargadora Andréa Pachá, voto dissonante no julgamento, defendeu que o estádio fosse liberado para receber público. Alegou que o clube não tem poder de polícia e tomou todas as medidas possíveis. "Torcida organizada não tem não a ver com a segurança do estádio. Lugar de criminoso é na cadeia", afirmou a desembargadora no voto.

O Vasco ainda tem conversas em andamento com Ministério Público do Rio de Janeiro por um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Caso isso aconteça, o processo se extingue.

Fonte: G1