Com divulgação de balanços, dívida dos clubes chega a R$ 4,6 bi
Com um crescimento contínuo de receitas, os grandes clubes brasileiros não conseguem segurar os gastos e aumentaram também o tamanho de suas dívidas no ano passado. Um levantamento do UOL Esporte nos balanços de 2012 mostra que o débito total dos 12 maiores times brasileiros subiu bem acima da inflação e atingiu R$ 4,6 bilhões.
Pelos números expressos nos documentos financeiros, houve um crescimento de R$ 647 milhões nos passivos desses clubes, o que representa um aumento total de 16,4%. Esse percentual é bem superior à inflação: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou 5,84% no último ano.
As receitas dos 12 maiores clubes também cresceu acima da inflação, como mostra levantamento da BDO Consultoria, empresa que tem como sócio o vice-presidente de Finanças do Corinthians, Raul Corrêa e Silva. Pelo estudo, apenas o Cruzeiro não teve aumento de renda. E nove dos 12 times tiveram crescimentos de receitas também acima da inflação. O time mineiro e o Santos, aliás, são os únicos que tiveram redução de seus débitos.
A explicação para essa contradição está nos altos gastos com o futebol e com a falta de quitação de obrigações, como mostram os balanços patrimoniais dos clubes. Maior receita do país no futebol nacional em 2012, com R$ 360 milhões, o Corinthians não pagou todos os impostos no ano passado. Seu débito total saltou para R$ 299 milhões, com uma variação de 17,6%.
Só em imposto de renda houve um acréscimo de R$ 37 milhões de dívida e, em INSS, de pouco mais de R$ 20 milhões. Em compensação, o clube reduziu seus débitos bancários.
\"Quando assumimos a gestão, houve uma decisão de primeiro se estruturar, aumentar as receitas, fazer investimentos. Precisava crescer a receita para pagar impostos. Agora, que fizemos os investimentos, não temos nenhum atraso de imposto em 2013\", afirmou o corintiano Corrêa e Silva, que admite que terá de encarar multas. \"Agora, faz parte do nosso orçamento estrutural o pagamento de imposto. Antes, não conseguíamos pagar porque havia muita coisa passada\"
O dirigente do Corinthians aposta no Proforte - programa do governo federal que prevê perdão de 90% das dívidas dos clubes - para regularizar os débitos fiscais do clubes. Ressalte-se que o clube de Parque São Jorge é um dos únicos clubes cuja dívida é menor do que a receita de um ano. Isso demonstra que o débito do clube, apesar de alto, tem menos peso sobre suas finanças.
SANTOS É ÚNICO QUE DIMINUIU DÍVIDA E CUSTO NO FUTEBOL
O Santos foi o único entre os 12 maiores clubes a diminuir o montante das dívidas em 2012 e dos custos com o departamento de futebol. Renegociamos dívidas a curto prazo, fizemos um esforço para operar o caixa positivo e, com isso, pagamos dívidas bancárias. Em 2012, nosso superávit foi de R$ 14 milhões, afirmou ao UOL Esporte o membro do comitê de gestão do Santos, Álvaro de Souza. Todos os clubes, com exceção do Santos, aumentaram os custos com o departamento de futebol, com variação de mais de dois dígitos. O dirigente santista revela que a redução de 3% aconteceu por uma razão planejada e outra nem tanto. Primeiro, diminuímos o plantel, que era algo que precisávamos fazer. Jogadores como Borges e Elano deixaram o clube. Agora tem outro aspecto que não era esperado e influenciou isso também. Ganhamos menos títulos e, por isso, pagamos menos prêmios e bichos, explicou. Em 2011, quando ganhou a Libertadores da América, o Santos desembolsou cerca de R$ 22 milhões com bonificações aos atletas, montante que caiu para R$ 17 milhões no ano posterior..
O Flamengo também só começou a pagar impostos regularmente neste ano com uma nova administração. As gestões anteriores do clube carioca levaram a crescimento muito maior na dívida em relação a praticamente todos os rivais. Após uma auditoria, o balanço financeiro de 2012 mostrou um débito total de R$ 758,7 milhões, o maior entre todos os clubes. Também o clube rubro-negro tem o maior salto em seu passivo: 71%.
O principal fator para esse crescimento foi o aumento das dívidas fiscais, que ultrapassou R$ 100 milhões. O item provisões para contingências (dinheiro reservado para perda de processos judiciais) também aumentou mais de R$ 100 milhões em 2012. Questionado sobre esses números, o vice-presidente de finanças do Flamengo, Rodrigo Tostes, disse por e-mail que a pergunta sobre o débito \"deve ser feita à administração anterior\". \"Posso responder pelos números de 2012\", afirmou.
A estimativa do dirigente rubro-negro é de que o clube pague um total de R$ 80 milhões em impostos no atual ano. Pesam também sobre o orçamento débitos com jogadores e empréstimos bancários. Para resolver a situação: \"Dinheiro novo de sócio-torcedor\", explicou Tostes.
Outro que teve considerável crescimento de seu débito com bancos foi o São Paulo. Sua dívida bancária atingiu R$ 130 milhões no ano passado, elevando o total do débito do clube a R$ 341,5 milhões. Essa situação, no entanto, está resolvida com a venda do atacante Lucas, segundo a diretoria do clube. Um total de R$ 108 milhões entrou nos cofres são-paulinos apenas em 2013.
\"O custo para antecipar o dinheiro do PSG era muito alto, havia seguros e garantias bancárias. Fizemos empréstimos de curto prazo para ter dinheiro no ano passado com juros mais baixos. Neste ano, já liquidamos tudo. Nossa dívida bancária voltou para R$ 60 milhões\", afirmou o diretor financeiro do São Paulo, Oswaldo Vieira de Abreu.
A situação mais preocupante, de fato, está entre os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro e no Atlético-MG, todos com débitos acima de R$ 400 milhões. O Botafogo é o segundo do ranking de maior dívida entre os grandes, com mais de R$ 600 milhões. De novo, as dívidas fiscais e os processos judiciais são os grandes vilões. O Vasco se destaca pelo alto crescimento de sua dívida, 30%, que elevou o total para R$ 466 milhões.
Estudo da BDO demonstrou também que há uma divisão geográfica entre os clubes que tiveram superávit (gastaram menos do que arrecadaram) e os que registraram déficit (arrecadação menor que os gastos). Clubes de São Paulo e Rio Grande do Sul fecharam com saldo positivo e os do Rio de Janeiro e de Minas Gerais no negativo.
O Grêmio, por exemplo, teve um crescimento de dívida próximo do índice de inflação, com 5,72%. O importante é que as dívidas que vão vencer nos próximos dois meses caíram. Nas dívidas de longo prazo, aumentamos por conta de um empréstimo bancário e aumento de R$ 1 milhão nas dívidas tributárias, afirmou Odorico Roman, vice-presidente e membro do conselho de administração.
Uma ponto de otimismo é levantado pelos cartolas: o controle de contas dos clubes melhorou o que permite saber o tamanho real do problema em cada um deles. \"Hoje, todos os balanços dos grandes clubes refletem de fato a realidade do clube\", contou Corrêa e Silva, do Corinthians.
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