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Com bandeiras e camisas retrô, futebol brasileiro olha para o seu passado

Em 2008, o futebol brasileiro contrariou a velha máxima que fala da nossa memória curta. Ao mesmo tempo em que celebrou a capacidade do hexacampeão São Paulo de pensar no futuro e se planejar, soube olhar para o passado e valorizar feitos e ídolos.

Nas arquibancadas, multiplicaram-se bandeiras e faixas com jogadores de dez, 20 e até 50 anos atrás. Nas ruas, viraram febre as camisas retrô - produzidas pelos fabricantes atuais com base em modelos usados no passado. Algumas razões explicam o sucesso dessas camisas.

- Elas me remetem ao tempo em que os ídolos existiam e eram identificados com o clube. Hoje não temos mais isso. Naquela época, se você falasse em Zico, falava também em Flamengo, e vice-versa - teoriza o torcedor André Tozzini, que tem 35 anos e já comprou duas camisas do Flamengo, duas da seleção brasileira (de 1978 e 82) e uma da União Soviética.


Confira galeria de fotos com camisas retrôs


O professor Marcelo Caldas, de 29 anos, tem outra explicação:

- Na verdade, eu ia só comprar uma do Fluminense para a minha ex-namorada, mas acabei vendo duas que tinham menos cara de camisa de futebol e serviam como uma opção de blusa com estilo - diz Marcelo, que saiu da loja com um exemplar da União Soviética e outro da China.


Centenário rende quatro modelos no Inter e oito no Galo

Para comemorar o seu centenário em 2009, o Inter lançará mais dois modelos retrô, ainda não divulgados, que se juntarão à camisa de 1954 (quando o time goleou o Grêmio na inauguração do Olímpico) e à de 1975 (em homenagem ao gol de Figueroa que garantiu o primeiro título brasileiro).

- Virou um ícone de moda. Você não vê tanto essas camisas em dias de jogo, mas, sim, à noite. E elas ainda remetem a fatos históricos - explica o diretor de marketing do Inter, Jorge Avancini.


Quatro modelos comemorativos formam um número bem razoável. O Atlético-MG foi mais longe em seu centenário: lançou oito modelos neste ano, um referente à cada década entre 1910 a 1980. Há uma quantidade ainda maior de camisas do Flamengo nas ruas, mas com um dado curioso: é raro encontrar uma que seja do fabricante oficial de uniformes. Ou seja, o clube pouco fatura com esse mercado.



Confira galeria com bandeiras e faixas homenageando ídolos

No Flamengo, linha de camisas se esgota em três semanas

O diretor de marketing Ricardo Hinrichsen explica que sempre teve dificuldade em lançar linhas retrô por uma questão de contrato, até que conseguiu convencer a Nike a lançar uma camisa referente ao título mundial de 1981. Mas a quantidade, pequena, esgotou-se em três semanas.

- No ano passado, já havíamos procurado a Nike para fabricar camisas em alusão ao título brasileiro de 1987, aproveitando a polêmica (sobre o penta, com o São Paulo). Mas não houve acordo. Quando dizemos que a relação (com a Nike) é difícil, as pessoas não acreditam. Mas a situação é surreal. Toda semana havia coisas desse tipo.



No fim das contas, o Flamengo emprestou sua marca para que Zico lançasse uma linha do título mundial de 1981 e para que Júnior produzisse a sua, aproveitando a conquista do Brasileiro de 1992. E há ainda camisas não oficiais e, claro, os produtos piratas.

- A pirataria é ágil. Se você não lança o produto, alguém vai se dar bem.


Palmeiras: acordo para mudar o patrocinador

O sociólogo Ronaldo Helal, que trabalha com esporte, vê o sucesso das camisas retrô como uma forma de idealização do passado. Ele diz que esse fenômeno acontece em outras áreas da sociedade e cita os filmes de Indiana Jones como exemplo: encarados como comerciais quando foram lançados, na década de 80, passaram a ser cultuados mais de 20 anos depois.

A linha retrô também agrada aos torcedores que não gostam de publicidade no uniforme. Helal lembra que a propaganda nasceu como um elemento negativo, para depois mudar de conotação.


- Quando a publicidade foi liberada nas camisas, em 1982, iniciou-se uma discussão se isso iria macular a imagem sagrada do time. Com o tempo, o torcedor passou a comprar a camisa com propaganda justamente porque era a mais oficial. Ou seja, sacralizava o que era profano.

A única exceção nesse sentido entre as camisas retrô é um exemplar, referente ao fim da década de 80, do Palmeiras. O patrocinador, o mesmo da época, é diferente do atual. Segundo o clube, houve acordo entre o fabricante de uniformes e a empresa que estampa atualmente a sua marca na camisa.


Faixas com jogadores, dirigentes, técnicos, músicos...

Assim como as camisas retrô, também fizeram sucesso bandeiras e faixas, nas arquibancadas, com desenhos de velhos ídolos. O movimento de volta ao passado começou em 2007, com cânticos parecidos com os usados em outros tempos, mas ganhou força de vez neste ano.

Foram homenageados ídolos de décadas atrás, como o botafoguense Garrincha e o time santista de 1962, ou de um passado nem tão distante assim, caso do vascaíno Juninho Pernambucano. A onda se espalhou de tal forma que chegou a dirigentes (como o colorado Fernando Carvalho), técnicos (o gremista Luiz Felipe Scolari) e até compositores (Cartola, no Fluminense, e Lupicínio Rodrigues, no Grêmio).

Fonte: ge