Clubes grandes do Rio não realizaram troca de treinadores no Estadual
Demorou, mas chegou o dia em que o futebol carioca pode se vangloriar em relação ao paulista, em que seus dirigentes podem dizer — mesmo que não seja exatamente verdade — que foram mais profissionais do que os colegas do outro lado da ponte aérea. Pela primeira vez nos últimos 30 anos Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco resistem ao ímpeto de demitir seus treinadores ainda na disputa do Estadual, enquanto ao menos um dos grandes — Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo — viu sua comissão técnica ser desfeita durante o Paulista.
O mais recente caso foi o de Vagner Mancini, demitido pelo Corinthians depois da derrota para o Palmeiras no domingo. Antes dele, Ariel Holan pediu para sair do Santos, insatisfeito com a pressão tão precoce sobre seu trabalho. Somados os oito clubes, são 23 trocas de técnicos nos últimos dez anos, média de mais de dois por temporada.
Rogério Ceni, Roger Machado, Marcelo Cabo e Marcelo Chamusca começaram e tudo indica que seguirão em seus cargos depois que o Carioca terminar. Os dois últimos, sem a classificação para a semifinal, o que poderia pesar a favor de uma demissão. No caso de Chamusca, com o agravante de atuações que deixam o torcedor alvinegro preocupado com as chances na Série B.
Renato é alvo no Timão
Para o técnico Cristóvão Borges, demitido ainda no período do Estadual por Fluminense e Vasco, em 2015 e 2017, respectivamente, isso já pode ser um reflexo da nova regra da CBF, que a partir desse ano limita a dois o número de técnicos inscritos pelos clubes durante a disputa do Campeonato Brasileiro.
— Espero que isso seja uma tendência, um sinal de mudança de mentalidade, e que os dirigentes fiquem mais criteriosos na hora de contratarem treinadores.
Difícil afirmar com certeza, uma vez que a restrição da entidade só vale para o Brasileiro. No caso do Corinthians, Vagner Mancini não resistiu à eliminação ainda na primeira fase da Sul-Americana e à derrota para o arquirrival pelo Paulista. Com um novo treinador já no começo do Brasileiro, o time paulista poderá ter ainda mais uma troca, somando três treinadores diferentes só em 2021.
A diretoria do Parque São Jorge, obviamente, trabalha para que isso não aconteça — a troca de treinador é ao mesmo tempo causa e consequência da falta de resultados. Entre os nomes na mesa do presidente Duílio Monteiro Alves está o de Renato Gaúcho, que recentemente saiu do Grêmio. Ao mesmo tempo que o nome agrada, ele parece não casar com o momento dos paulistas, impossibilitados de pagar seu alto salário e de bancar um elenco do nível que o treinador tem como meta para trabalhar.
Mancini era um nome que se adequava à realidade do Corinthians e sua demissão, mesmo depois da derrota para um Palmeiras que vive momento inquestionavelmente superior em termos técnicos e financeiros, demonstra uma valorização interna do Campeonato Paulista, algo que outros torneios estaduais perderam nos últimos anos. A própria torcida do Santos, ao protestar com rojões em frente à casa de Ariel Holan depois de uma derrota para o Corinthians, passou a mensagem de que o resultado no Paulista tem um peso grande.
Muricy Ramalho, hoje coordenador de futebol do São Paulo, deixou o cargo de técnico do tricolor ainda durante o Paulista de 2015, consequência da falta de resultados somada aos problemas de saúde dele. Questionado sobre o peso que o Paulista ainda tem, foi enfático:
— A competição ainda tem importância sim. Tanto que quem não vai bem, os dirigentes trocam.
Gestão das expectativas
Muitas vezes, carece aos clubes que demitem ainda durante o Estadual uma calibragem melhor das próprias expectativas, o que explica a permanência de Marcelo Cabo e, principalmente, Chamusca nos respectivos cargos mesmo depois do Estadual fracassado. Tanto em São Januário quanto em General Severiano, não há mais espaço para vendedores de fantasias. Vasco e Botafogo vivem a realidade de Série B e as dificuldades de trabalho inerentes a ela.
Para o técnico Zé Ricardo, demitido pelo Botafogo em 2019, na reta final do Estadual, a análise mais criteriosa do cenário por parte dos dirigentes pode ajudar a explicar a sobrevivência dos técnicos dos quatro grandes do Rio ao Estadual.
— A interrupção de um trabalho pode acontecer por um ou mais fatores. O que penso é que, via de regra, os campeonatos estaduais são o ponto de partida de um planejamento e, como tal, sofrem as dificuldades e os percalços inerentes desse momento, mas que deve ser avaliado com cautela e equilíbrio, sob pena de colocar em xeque todo ano.
Fonte: Agência O GloboMais lidas
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