Clubes descartam Liga com 'virada de mesa'
A ideia de criar uma Liga para organizar o Brasileirão serve para os clubes, neste momento, como uma maneira de pressionar a CBF para que algumas demandas sejam atendidas. Se a confederação não ceder, as associações pretendem seguir com o projeto de um torneio organizado por elas, em duas divisões, e que deve constar na ata de fundação um importante detalhe: proibição de "viradas de mesa".
A possibilidade de um novo campeonato, talvez já a partir de 2022, começando do zero ligou o alerta de alguns dirigentes esportivos envolvidos nas conversas, ainda bem preliminares: haveria convites ou se manteria a estrutura atual das Séries A e B?
Dúvida pertinente em um momento no qual três dos clubes de maior torcida e orçamento do país, Botafogo, Vasco e Cruzeiro, estão na Série B — os mineiros pelo segundo ano consecutivo. Uma Liga brasileira já em 2022 manteria os participantes atuais, respeitando o acesso e descenso de 2021?
Sim, segundo três presidentes de clubes ouvidos pelo blog. A ideia é que fique documentado que o critério esportivo seja obedecido, desde o início da Liga. Para isso, os 40 clubes participantes das Séries A e B em 2021 seriam signatários, o que na visão de alguns dirigentes evitaria 'viradas de mesa'.
Desde que o Brasileirão adotou o formato de pontos corridos, em 2003, acabaram as manobras para que clubes mais tradicionais não jogassem divisões inferiores. Gigantes como Grêmio, Palmeiras, Atlético-MG, Inter, Corinthians, Vasco, Fluminense, Botafogo e Cruzeiro caíram e retornaram dentro de campo, bem diferente do que ocorria em décadas anteriores.
O Fluminense chegou a jogar a terceira divisão nos anos 1990, mas voltou para a elite pulando a segunda divisão com a organização dos clubes do Brasileirão de 2000, a Copa João Havelange. Era comum também torneios incharem participantes de um ano para o outro ou alterações de regulamentos que garantissem sempre os mais tradicionais na elite.
O plano de uma Liga está bem cru — surgiu em reunião na manhã desta terça-feira (15), horas antes do encontro presencial com a diretoria da CBF no Rio. Portanto não há ainda projeto, nem um esboço, mas no bate-papo entre os dirigentes um dos pontos fundamentais é obedecer critérios esportivos, inclusive para participar de torneios continentais, como Libertadores e Sul-Americana, e mundiais, já que Conmebol e Fifa exigem isso.
Juridicamente, a Liga pode enfrentar problemas se a CBF não autorizar. Por isso que, neste momento, não se pode descartar que se algumas demandas dos clubes forem atendidas o plano pode até ser engavetado:
1) Peso maior para eleger presidente da CBF. Hoje, os 20 clubes da Série A votam com peso 2 e os 20 da B com peso 1. As 27 federações estaduais têm peso 3 em seus votos, portanto são de fato quem elegem o presidente. Clubes também querem mudar regra para inscrição de chapas, que hoje pede que haja a assinatura de oito federações e cinco clubes. Cartolas querem que seja preciso o aval de 13 instituições, independentemente se federação ou clube;
2) Clubes querem ajustes no calendário que evitem que se perca jogadores em datas de jogos das seleções;
3) Mudanças no comando da arbitragem, principalmente para maior transparência no VAR. Clubes querem que áudios da conversa entre os árbitros sejam divulgados no dias seguinte aos jogos, como faz a Conmebol;
4) Que a CBF ajude na articulação em Brasília para a criação da lei que dê aos mandantes dos jogos os direitos de transmissão das partidas, que hoje, pela Lei Pelé, é dividido entre os dois clubes, o que dificulta negociações com empresas interessadas.
Se a CBF acatar parte desses reivindicações, e os clubes participarem da sucessão do presidente afastado Rogério Caboclo, que deve deixar o cargo após acusação de assédio sexual por uma funcionária, é possível que qualquer discussão sobre Liga seja suspensa.
Fonte: Blog do Marcel Rizzo - UOL