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Clubes brasileiros têm dificuldades para ampliar o sócio-torcedor

Os clubes brasileiros não reuniam, em janeiro deste ano, mais do que 157 mil sócios cadastrados nos seus respectivos programas de sócio-torcedor. Decorridos seis meses da implantação do Movimento \"Por Um Futebol Melhor\", as 27 agremiações viculadas ao programa da Ambev contabilizam 544 mil associados. O gerente corporativo de marketing da empresa, Rafael Pulcinelli, comemora o avanço, mas ressalta que os clubes ainda têm muito o que fazer em benefício do torcedor. Ele defende o aperfeiçomento das ações de comunicação e destaca a dupla Gre-Nal, no Rio Grande do Sul, como modelos a serem seguidos.

- É preciso enxergar nos sócios uma fonte de receita. O Internacional e o Grêmio são exemplos disso, pois oferecem benefícios para o seu torcedor. Eles já têm um planejamento, enquanto os demais clubes ainda estão caminhando nesse sentido - avalia Pulcinelli.
Leia abaixo a íntegra da entrevista com o execurtivo da Ambev

L!Bizz: Qual o panorama do quadro de sócios hoje no Brasil? Os clubes aproveitam bem os seus torcedores?

Rafael Pulcinelli - Resposta: O Movimento \"Por Um Futebol Melhor\" pensa numa forma de ajudar no modelo de gestão dos clubes. Antigamente, tinha-se apenas o pensamento em patrocínio de camisa como única fonte de receitas, além da venda de jogadores. Não havia um planejamento voltado para o torcedor. Salvo os jogos, pouca coisa era oferecida ao torcedor em troca da associação ao programa de sócios. Era uma relação de mão única. O Movimento \"Por Um Futebol Melhor\" é uma das opções que os clubes têm para devolver ao seu torcedor o investimento que ele faz no clube.

L!Bizz: O Movimento \"Por Um Futebol Melhor\" auxilia em que medida os clubes a impulsionar a captação de sócios? Qual é o impacto dessa medida no dia- a-dia dos clubes?

Rafael Pulcinelli - Trabalhamos não só a entrada de novos clubes, como também acompanhamos o trabalho de cada um em relação ao programa. No dia 7, vamos apresentar o Avaí e o Figueirense como os mais novos integrantes do Movimento. O projeto foi lançado em janeiro deste ano. Havia 157.800 sócios, hoje somamos 544 mil. Mais que dobrou a quantidade de sócios em pouco mais de seis meses. O Movimento é atrelado aos programas de captação de sócios dos clubes. O clube deve usá-lo como uma das opções para associar o torcedor ao seu time do coração. Uma das grandes sacadas do Movimento é proporcionar ao torcedor, principalmente aquele que torce para times de outros estados, benefícios que fujam do dia-a-dia do clube. Um flamenguista de Brasília, por exemplo, não consegue assistir ao seu time no Rio de Janeiro. Então, se o torcedor não tem nenhum benefício, não há porquê ele se associar. O objetivo do Movimento é transcender o benefício do ingresso, dando a esse torcedor descontos na compra de produtos nos estabelecimentos licenciados. O torcedor paga ao clube e obtém o retorno.

L!Bizz: Qual o clube brasileiro que está à frente dos demais no que se refere à captação de novos sócios?

Rafael Pulcinelli - Existe uma questão passional, que tem uma vida útil. Os times vão bem dentro de campo e esse resultado positivo influencia nos números de associados, e vice-versa. Porém, não é apenas isso. Reforçamos a ideia de que é necessário oferecer retorno ao torcedor. O Internacional e o Grêmio são exemplos disso, pois oferecem benefícios para o seu torcedor, atraindo-os para que se tornem sócios. Eles apresentam um pacote de benefícios que justifica a associação. Eles já têm um planejamento. Os demais clubes estão no caminho para atingir esse patamar.

L!Bizz: Há clubes reconhecidamente de grandes torcidas, que não estão na liderança, ao contrário de outras agremiações, cujas torcidas são menores, mas que avançaram muito nos últimos meses na captação de novos sócios. Como explicar esse fenômeno?

Rafael Pulcinelli - É preciso enxergar nos sócios uma fonte de receita. O Flamengo e o Corinthians possuem as maiores torcidas do país, uma média de 20 milhões cada um. Olha o tamanho do negócio, uma fonte de receita impressionante. Hoje no Brasil, estamos caminhando para isso. Alguns clubes trabalham mais essa questão, dependendo também do momento vivido por suas equipes. Existe a necessidade de aproximação maior com os clubes. O clube tem de abrir um canal direto com o torcedor, que é o seu maior patrimônio.

L!Bizz: O Maracanã está disponível para o torcedor novamente. O preço dos ingressos ainda está bem acima daquilo que o torcedor pode pagar. Como os clubes podem trabalhar para atrair esse torcedor?

Rafael Pulcinelli - Ter o Maracanã de volta é um artigo novo. É um trabalho para melhorar a operação e oferecer o melhor serviço ao torcedor. O ingresso pode fazer parte do programa, é uma questão de planejamento, que fique viável para que os torcedores de um modo geral possam voltar a frequentar o estádio. Somado o pacote de benefícios do programa de sócios à questão dos ingressos, é um atrativo a mais, um estímulo para o torcedor não só voltar ao estádio, mas também se sentir estimulado a se associar ao programa de sócios.

L!Bizz: O Bahia, após uma grave crise interna, está com um interventor. Recentemente, ele lançou um novo programa de sócios, e conseguiu, reduzindo o preço da taxa de adesão de R$ 300 para R$ 10, conquistar 13 mil novos sócios em dois dias. A redução do preço, tornando-o mais popular, é fator determinante para o sucesso dos programas de captação de sócios levados adiante pelos clubes?

Rafael Pulcinelli - O Bahia passa por uma reestruturação em sua administração. Os clubes disponibilizam diferentes pacotes de sócios e é natural que o preço popular receba mais adesões, assim como os setores de arquibancadas populares atraiam mais torcedores. O Movimento apoia o clube e aguarda a sua reorganização.

L!Bizz: Quais os clubes que apresentam os melhores resultados para a expansão do Movimento \"Por Um Futebol Melhor\"?

Rafael Pulcinelli - Temos o Cruzeiro, Flamengo e Palmeiras. Um exemplo que evidencia isso foi a contratação do zagueiro Dedé pelo time mineiro. Ela só foi possível graças à renda que o Cruzeiro tem recebido pelo seu reformulado programa de sócio-torcedor. E a consolidação do programa depende do envolvimento, do interesse dos clubes.

L!Bizz: O Cruzeiro comemorou esta semana o fato de ter atingido a marca de 30 mil sócios, com quatro anos de programa. O Bayern de Munique, somente na última temporada, conseguiu os mesmos 30 mil, ultrapassando a marca dos 200 mil associados. Por que a diferença?

Rafael Pulcinelli - A parte estrutural dos clubes brasileiros ainda vem se definindo, caminhando para ter a gestão de marketing preparada e, assim, criar uma consistência de relacionamento. À medida que os clubes se estruturam, traçam uma comunicação direta com o torcedor, que se torna um cliente que, estimulado, consequentemente passa a investir no clube. É uma curva de amadurecimento. A gestão dos clubes brasileiros precisa enxergar que o torcedor tem um potencial enorme, dependente do canal de comunicação. O Movimento é um dos principais meios que o clube pode oferecer aos seus torcedores. Depende do nível de envolvimento de cada clube com o projeto.

Fonte: Lancenet!