Clayton "forçou" ida ao Vasco por "oportunidade da vida"
De uma hora para outra, Clayton saiu de um quase anonimato no Vasco para ganhar as páginas de sites e jornais do Brasil. E o motivo não foram suas atuações em campo - que até então são discretas - mas sim por uma possível irregularidade que poderia, inclusive, acarretar em pontos perdidos pelo Cruzmaltino. Estaria o atacante transformando o seu desejo contínuo de transferência para São Januário em um pesadelo para ele e o clube?
Prevendo que teria poucas oportunidades no Atlético-MG - clube que detém seus direitos econômicos - o jogador "forçou" uma saída para o Vasco ao saber do interesse dos cariocas mesmo ciente de que havia sido bem avaliado pela comissão técnica do Galo.
Prova disso foi que o então técnico da equipe, Thiago Larghi, chegou a relacioná-lo para duas partidas do Campeonato Brasileiro, justamente as que, meses depois, serviriam de ferramenta para os clubes da parte debaixo da tabela sinalizarem sobre uma possível irregularidade.
Porém, como não entrou em campo pelo time mineiro e após consultar a CBF, o Cruzmaltino entendeu que não teria problema contratá-lo e colocá-lo para jogar, mesmo com o atacante tendo atuado em uma partida pelo Bahia, equipe que defendeu por empréstimo.
Clayton, por sua vez, pediu à diretoria atleticana sua liberação e assinou contrato com o Vasco por um novo empréstimo até o fim deste ano.
Em setembro, pouco antes do Cruzmaltino anunciá-lo, o diretor-executivo de futebol do Atlético-MG, Rui Costa, revelou ao UOL Esporte que o jogador solicitou a transferência:
"Na medida em que o Vasco acenou com a possibilidade de ele ser protagonista, ele nos pediu para ir. Ele disse que esse período no Vasco seria importante para a próxima temporada dele no Atlético".
O protagonismo, porém, ainda não veio. Clayton disputou apenas sete partidas pelo Vasco, sendo titular em apenas uma, em sua estreia contra o Bahia. Ele ainda não fez gol.
Tranquilo no banco
Os boatos de uma possível irregularidade de Clayton começaram a ganhar mais força durante a partida entre Vasco e Goiás ontem (18), em São Januário, terminada em 1 a 1. O atacante foi relacionado e estava no banco de reservas, mas não entrou no jogo.
No decorrer do duelo, o jogador demonstrou tranquilidade e não pareceu estar ciente do caso. Conversou em muitos momentos com os companheiros e participou normalmente do aquecimento atrás de um dos gols.
"Oportunidade da vida"
Em sua apresentação no Cruzmaltino, no início de setembro, Clayton falou em "oportunidade da vida", mesmo com um contrato de apenas três meses com o Vasco.
"O Vasco é a oportunidade da minha vida. É um clube grande, o grupo é maravilhoso, e o professor Vanderlei é um cara fora de série. Espero aprender muito com o grupo, com o professor e honrar a camisa do Vasco", disse na ocasião.
Entenda a polêmica com Clayton
Enquanto a bola rolava ontem (18) para a partida entre Vasco e Goiás, em São Januário, terminada em 1 a 1, o blogueiro do UOL Paulo Vinícius Coelho informava, em participação no canal Fox Sports, sobre uma movimentação nos bastidores que apurava uma possível irregularidade na inscrição do atacante Clayton pelo Cruzmaltino. As informações que circulavam em conversas acaloradas entre times da parte de baixo da tabela indicavam, inclusive, a possibilidade de perdas de pontos do clube no Campeonato Brasileiro.
O UOL Esporte, porém, ouviu algumas das partes diretamente envolvidas na questão e apurou que os cariocas se mostram tranquilos juridicamente em relação à situação do atleta.
Equipes que brigam contra o rebaixamento conversaram entre si e levantaram a suspeita sobre Clayton em função do jogador ter atuado dia 28 de julho pelo Bahia, contra a Chapecoense. Em seguida, ele retornou de empréstimo para o Atlético-MG - que detém seus direitos econômicos - e foi relacionado pelo Galo para as partidas contra o Athletico-PR e próprio Bahia. Porém, apesar de ter assinado as súmulas, ele não entrou em campo em nenhuma delas e não foi advertido com nenhum cartão.
Na sequência, o Atlético-MG o emprestou ao Vasco e o atacante atuou, até o momento, em sete jogos.
O Cruzmaltino garante ter consultado a CBF antes de finalizar o contrato. Somente após o aval da confederação, a diretoria registrou Clayton. Tal procedimento deixou o clima em São Januário mais tranquilo quanto ao caso. O clube se escora, principalmente, nos artigos 43 e 46 do Regulamento Geral de Competições para garantir que a situação só poderia ser considerada irregular caso o jogador tivesse entrado em campo pelo Atlético-MG, o que configuraria que ele teria atuado por três times diferentes na Série A.
Além do Vasco, o UOL Esporte ouviu ao menos cinco pessoas envolvidas diretamente com o STJD, entre membros da cúpula e auditores. Todos lembraram de casos recentes que suscitaram o mesmo tipo de dúvida no tribunal e reforçaram a mesma conclusão: somente o fato de entrar em campo por três clubes poderia gerar punição. Ao menos três denúncias recentes foram julgadas improcedentes sob a mesma ótica.
Outro fato assegurado por estas pessoas é o de que a volta de empréstimo de Clayton do Bahia para o Atlético-MG não configuraria uma nova transferência.
Alerta por outro lado
Em que pese a tranquilidade de alguns, há especialistas que enxergam uma brecha para possível punição. Ao menos dois deles, ouvidos pelo UOL Esporte, fizeram o alerta.
Na visão da dupla acostumada com o tribunal desportivo que julga casos do futebol brasileiro, o perigo mora no artigo 214 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Ele diz que um jogador classificado como "irregular" não pode nem sequer constar na súmula. O Vasco, por sua vez, segue apostando na situação regular, permitindo sua utilização e inviabilizando tal interpretação.
O que dizem os artigos 43 e 46 do RGC:
Artigo 43: "O fato de ser relacionado na súmula na qualidade de substituto não será computado para aferir o número máximo de partidas que um atleta pode fazer por determinado Clube antes de se transferir para outro de mesma competição, na forma do respectivo REC.
Parágrafo único - Se, na condição de substituto, o atleta vier a ser apenado pelo árbitro ou pela Justiça Desportiva, será considerada como partida disputada pelo infrator, para fins de quantificação do número máximo a que alude o caput deste artigo".
Artigo 46: "O atleta que já tenha atuado por 2 (dois) outros Clubes durante a temporada, em quaisquer das competições nacionais coordenadas pela CBF e integrante do calendário anual, não pode atuar por um terceiro Clube, mesmo que esteja regularmente registrado.
1º - O atleta, durante a temporada, poderá estar registrado por, no máximo, 3 (três) Clubes.
2º - Excluem-se dos limites de atuação e de registro fixados no caput e no § 1º deste artigo as copas regionais e os certames estaduais.
3º - Entende-se por temporada, para os efeitos deste artigo, o período compreendido entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de cada ano"
Fonte: UOL Esporte