Clássico dos Milhões chega aos cem anos em 2023
Um dos maiores clássicos do Brasil chega aos cem anos longe do auge, mas esperançoso de que uma guinada na competitividade possa estar se aproximando. Talvez ela comece já hoje, às 18h10, quando Flamengo e Vasco entrarem em campo, no Maracanã, pelo Carioca.
Afinal, é o jogo de um time abalado pelo começo ruim de trabalho, que acumula resultados negativos em sequência, contra outro que atravessa dias de otimismo. E não estamos falando de um cruz-maltino em crise e de um rubro-negro voando em céu de brigadeiro. É sim o contrário, por mais estranho que isso possa soar.
Milhões tornaram esse estranhamento possível. O Vasco superou os R$ 100 milhões em gastos para formar o elenco que vem de três vitórias seguidas. Treze jogadores assinaram e outros ainda podem chegar e sair do elenco até o fechamento da janela de transferências, em abril, em uma reformulação que dá sinais de salto de qualidade em relação aos grupos passados.
Os milhões que aproximam são os mesmos que afastaram os rivais do clássico entre as duas maiores torcidas do Rio, a primeira e a quinta mais numerosas do Brasil, de acordo com a pesquisa O GLOBO/IPec do ano passado: cerca de R$ 820 milhões de faturamento anual a mais por parte do Flamengo, de acordo com os balanços mais recentes, referentes a 2021.
A formação desse abismo financeiro gerou também um abismo esportivo. Atualmente, o Flamengo soma 23 vitórias a mais nos confrontos diretos. E quase metade dessa hegemonia, dez vitórias de vantagem, foi construída apenas nos últimos sete anos de um clássico centenário.
As salas de troféus dos rivais também foram diretamente afetadas pela discrepância na capacidade de investimento. Na última década, a do rubro-negro, na Gávea, ganhou 14 novas taças. A do cruz-maltino, em São Januário, duas.
A retomada de um maior equilíbrio em campo hoje pode ser o primeiro passo para o Vasco provar que velhas máximas, de que não existe favoritismo em clássicos, ou de que o futebol é cíclico, cada vez mais difíceis de se bancar na prática, são realmente verdadeiras.
Houve um tempo na rivalidade entre as duas equipes que isso pareceu mais factível. Como quando o Vasco acumulou mais vitórias sobre o arquirrival, na década de 1980, a despeito do fato de ser a época em que a geração mais vencedora do Flamengo esteve em campo.
Ou quando Petkovic cobrou falta com mestria aos 43 minutos do segundo tempo para fazer 3 a 1 na final do Carioca sobre o Vasco, explodir a torcida rubro-negra e tratar de colocar definitivamente um ponto final na era mais vitoriosa do time de São Januário.
Flamengo e Vasco, rivais desde que dividiram um campo pela primeira vez de maneira oficial, em 1923, no extinto estádio da Rua Paysandu, também competem hoje para ver quem vai gerir o Maracanã. A rivalidade centenária resistiu à decadência vascaína e agora ganha novas perspectivas com a SAF. O Clássico dos Milhões está vivo. Quem sabe, pronto para mais cem anos.
Fonte: O Globo