Futebol

Celso Roth fala de sua carreira e planos em entrevista

Treinador estava em baixa no futebol carioca depois de passagens por Flamengo e Botafogo. Agora, depois de ter ficado um ano e quatro meses sem trabalhar, assume o Vasco e tenta provar que está mais maduro.

Celso Roth estava desgastado no futebol carioca. Os últimos trabalhos do treinador, à frente de Flamengo e Botafogo (ambos em 2005), foram tão efêmeros quanto conturbados. Por conta disso, o tempo longe do futebol é a principal aposta dele para fazer sucesso em sua nova empreitada. Contratado pelo Vasco após um ano e quatro meses sem trabalhar, o comandante espera apagar os problemas que teve em outros momentos da carreira.

\"Passei muito tempo só observando as coisas. Isso foi muito importante. Cresci e amadureci\", garantiu Roth em entrevista exclusiva ao Pelé.Net.

Aos 49 anos, esse gaúcho de Caxias do Sul chegou ao Vasco há duas semanas. Seu nome sequer era cogitado dentre os possíveis substitutos do antigo treinador Renato Gaúcho.

Entretanto, Roth se encaixou no perfil da diretoria vascaína e acertou rapidamente, se colocando à disposição para ajudar no \"projeto gol mil\" de Romário.\"Estamos juntos nessa situação\", afirmou Roth.

O Vasco será o 20º clube que o treinador dirigirá na carreira. Curiosamente, os dois últimos também foram no Rio de Janeiro - Flamengo e Botafogo, ambos no Brasileirão de 2005, em curtas passagens. \"Trabalho rápido assim é roleta russa\", brincou o técnico, que não consegue um título na carreira desde o ano 2000, quando foi campeão da Copa do Nordeste pelo Sport.

Porém, Celso Roth aposta na tradição do Vasco em manter treinadores por longo prazo para conseguir implementar seu trabalho e quebrar esse jejum de títulos, fazendo da equipe, também carente de recentes conquistas, vencedora.

Confira a entrevista completa do novo técnico do Vasco:

Pelé.Net - No início da sua carreira você teve passagens por Emirados Árabes, Kuwait, Qatar e Indonésia e teve a oportunidade de viver em uma cultura totalmente diferente da nossa. Essas experiências serviram de aprendizado para a seqüência da sua vida profissional dentro do futebol?

Celso Roth - A adaptação e a convivência com a sociedade local foram muito complicadas, o que deixou nosso lado social bastante afetado. Nossas amizades lá eram basicamente com pessoas ligadas diretamente ao futebol. Mas tirando esse fator social, não tivemos nenhum tipo de problema sério, como aconteceu recentemente com alguns jogadores que estavam atuando por lá. Em relação ao crescimento profissional, ele sempre vai existir quando se tem um crescimento pessoal. Lá eu tive isso. Passei seis anos com a minha família e a mudança para um país de cultura, clima e hábitos diferentes acabou por nos enriquecer de muitas maneiras.

Pelé.Net - Depois da sua saída do Botafogo, você passou um ano e quatro meses afastado dos gramados. Como foi essa parada e o que você pôde observar do futebol durante esse tempo?

Celso Roth - Depois que eu saí do Botafogo eu fiz um projeto de vida. Planejei ir à Copa do Mundo e fiquei na Europa durante toda a competição. Antes da Copa, recebi cinco ou seis convites diretos e efetivos, mas achei que não era o melhor momento e os recusei. Após a Copa do Mundo, houve algumas sondagens, mas nada concreto. Achei muito importante essa parada, pois quando estamos envolvidos com o futebol, como estou agora com o Vasco, vivemos diretamente o clube em que estamos trabalhando 24 horas por dia e com uma intensidade muito grande.
Isso nos faz perder a noção do que está acontecendo fora do futebol. Portanto, é importante parar e observar não só os times e treinadores tecnicamente, mas também o lado do torcedor e os próprios profissionais da imprensa, para ver realmente o que está acontecendo do outro lado deste mundo maravilhoso e fantástico que é o futebol. Eu acredito que isso é crescimento e maturidade.

Pelé.Net - Seus dois últimos trabalhos longos foram no Atlético-MG, em 2003, e no Goiás em 2004. Depois, foram dois trabalhos curtos no Flamengo e no Botafogo. Comparando essas passagens, quais são as principais vantagens de passar muito tempo em um mesmo clube?

Celso Roth - É simples. Quando não existe um tempo suficiente para realizar um trabalho, ele acaba se tornando uma verdadeira \"roleta russa\", pois não sabemos o que pode acontecer. No Flamengo, aconteceu mais ou menos isso. Eu cheguei ao clube para o Brasileiro, sem disputar o Estadual, e num momento em que o Flamengo passava por sérias dificuldades financeiras e tinha problemas no seu grupo de jogadores, dando oportunidades aos atletas formados no clube.
Já no Botafogo, eu cheguei com um contrato pré-determinado que sairia ao fim do Campeonato Brasileiro. Portanto, um trabalho curto, sem tempo para imprimir uma metodologia acaba se tornando uma espécie de \"a sorte está lançada\". Já em um trabalho longo não, pois aí existe o tempo suficiente para implantarmos nossos métodos e os jogadores começam a entender nossa filosofia e um grupo é formado. A partir daí, as coisas começam a andar da maneira planejada, mesmo que demore um certo tempo para que os resultados apareçam.

Pelé.Net - O Vasco tem uma tradição de manter técnicos durante um longo tempo. Baseado nisso, você espera novamente poder realizar um trabalho de longo prazo em um clube grande?

Celso Roth - Essa tradição ajudou para que chegássemos a um entendimento bem mais rápido. E está faltando justamente isso em nosso futebol. Hoje em dia, se os resultados não aparecem, as cobranças para que se mude tudo são muito grandes. E a maior prova de que mudar não dá certo é o ultimo Campeonato Brasileiro. As equipes de melhores campanhas mantiveram seus técnicos durante toda a competição e fizeram uma boa temporada. Casos do Inter-RS, Santos e São Paulo, por exemplo. Se deixarem o treinador trabalhar, com uma seqüência de trabalho os resultados acabam aparecendo.

Pelé.Net - Após assumir o Vasco você recebeu um gesto de solidariedade do Abel Braga, atual campeão do Mundo pelo Internacional-RS. Ele se mostrou muito feliz por vê-lo novamente empregado. No entanto, outros técnicos renomados continuam sem clubes, como Antônio Lopes, Tite, Emerson Leão e agora o Joel Santana. Seria uma renovação grande na profissão?

Celso Roth - É uma renovação natural o que está acontecendo com os treinadores. Entretanto, não deixa de ser também uma questão econômica. Técnicos como Abel, Leão e Tite, que já têm um nome dentro do futebol, exigem um equilíbrio financeiro maior por parte dos clubes. Em contrapartida, temos as equipes em situação financeira ruim. E é aí que chegamos a um encontro entre as duas situações, o que acaba levando os clubes a fazerem novas escolhas. A partir daí acaba se dando oportunidades a treinadores que não estão exigindo tanto financeiramente dos times e acabam surgindo novos valores na profissão.

Pelé.Net - Você chega ao Vasco consciente do projeto em prol do \"milésimo\" gol do Romário. Como a direção do clube passou isso para você?

Celso Roth - A direção do Vasco foi muito clara quando me procurou. Ela planejou esse projeto e ele faz parte da instituição. Isso foi colocado especificamente pelo presidente Eurico Miranda, de uma maneira muito clara. E se eu aceitei isso, então estamos juntos nessa situação.

Pelé.Net - O Romário reapareceu em São Januário na última semana. Como foi o primeiro contato com o atacante?

Celso Roth - O Romário está muito bem e tranqüilo. Não o conhecia pessoalmente, mas ele sempre me passou ser uma pessoa muito direta, clara e convicta das suas posições. Eu também sou assim. E quando duas pessoas assim conversam, as coisas ficam muito simples e diretas. Estou tendo o prazer de trabalhar com o Romário pela primeira vez e conto com ele para realizar um grande trabalho aqui no Vasco. Ele está ciente da sua responsabilidade.

Pelé.Net - Depois das duas primeiras semanas de Vasco, que análise você pode fazer em relação ao grupo que tem em mãos para a disputa do Brasileiro e da Copa Sul-Americana?

Celso Roth - A qualidade que esses jogadores estão desenvolvendo nas duas semanas de treinamentos comigo é muito grande. O Vasco já demonstrou ter um grupo qualificado, pois chegou à final da Copa do Brasil do ano passado e disputou as semifinais do Estadual do Rio deste ano. Claro que todos gostariam de estar disputando a decisão, mas não foi possível. Então, mudanças acabam acontecendo quando não se conquistam os objetivos. Estamos fazendo ainda uma avaliação do elenco que temos e também dos jogadores que estão no mercado para podermos melhorar nossa qualidade técnica e principalmente aumentar as nossas alternativas.

Fonte: Pelé.Net - Marcelo Ferreira