Futebol

Carlos Germano fala sobre o seu trabalho e goleiros do Vasco

O ex-goleiro Carlos Germano, hoje preparador de goleiros do Vasco, fala sobre alguns temas.

MUDANÇAS NA PREPARAÇÃO FÍSICA

\"Existe uma evolução muito grande. Hoje em dia você vê que... É lógico que a prioridade sempre é a qualidade técnica do jogador, que é o teu material humano. Mas a parte física, preparação física hoje em dia fica ditando praticamente os ritmos de todas as equipes. Hoje tem que estar bem condicionado, pelos espaços, pela velocidade que imprimem hoje os jogadores. E a dinâmica, que têm algumas equipes, grandes principalmente. Mas tem que estar muito bem condicionado. Esse é o primeiro ponto. A preparação física hoje é fundamental. O jogador de futebol não vive sem. Se estiver mal fisicamente, vai deixar a desejar, independente de se ele tiver uma técnica refinada ou não\", disse ao repórter Marcelo Baena, da Rádio Bandeirantes, durante a semana, no Vasco Barra.

\"Aí você parte para o meu lado agora, como a preparação de goleiro, que é uma coisa mais específica. Ainda se utiliza muitas coisas da época em que eu jogava. Mas não tem muito tempo. Tem três, quatro anos. Da época em que eu jogava no Vasco também. Já tem mais de oito anos que joguei aqui. Você ainda consegue, até porque não tem muito o que fazer. Não tem muita diferença. É lógico que você consegue e inova algumas coisas, situações, que você vê que é necessário. Você vai aprendendo também e sabe que, se fizesse na época isso, teria um ganho melhor. Mas, basicamente, o goleiro não tem que inventar muito. É o feijão com arroz mesmo. Mas sem olhar a condição física dele, da resistência, tem a parte técnica, que é o beabá. Você tem que estar todo dia ali fazendo muitas coisas. Até coisas que juvenis teriam que fazer, você tem que relembrar, em termos de pegada, posicionamento e tudo mais\".

\"Das inovações, hoje em dia existe uma mudança, que não é recente, já é de alguns anos para cá. É a envergadura desses profissionais. Você vê a altura, estatura desses goleiros. O que requer, em cima disso? Tem uns que já têm uma certa velocidade, que já é natural, coisa dele. Mas, com a evolução, você tem que trabalhar isso. Hoje em dia, em cima dessa envergadura, estatura, apesar da altura que ganharam os goleiros nacionais, o trabalho que é imprimido em cima disso é a velocidade e o tempo de reação. Existe essa necessidade, a velocidade de chegar no chão, partir para a bola. Para você ter tudo isso, vai ter que ter força. Lá em cima tenho trabalhado isso também, um pouquinho de força. Ainda ressente um pouco de força. Você vê aqui no Vasco. A gente tem três goleiros altos - Tiago, Roberto e Rafael. São goleiros que têm... O mais baixo tem 1,89m. Você tem que trabalhar esse tipo de velocidade, para eles poderem ter e chegarem em qualquer tipo de bola. Muda sim. Tem uma certa mudança, mas não é uma coisa muito drástica, como é a preparação física. Hoje a preparação física é a alma de um time de futebol\".

GOLEIROS COBRANDO FALTAS

\"Em relação a cobrança de faltas, é algo novo também. Não é de muito tempo para cá. Começou, veio com o Chilavert, e depois veio o Rogério [Ceni], que hoje é o jogador de quase todos os recordes, nesse quesito. E com perfeição. O cara treina para isso. Naquela época tinha vários jogadores de muita qualidade e não era necessário você abandonar o gol. Até porque você também não tinha tanta liberdade assim, como tem hoje. De repente o Rogério está em um grande clube? Está, mas ele é um dos grandes responsáveis por toda a fase do São Paulo nesses últimos anos. A personalidade e tudo mais. E bate falta com perfeição\".

\"O Tiago aqui também tem essa perfeição, tanto é que ele treina. Aqui no Vasco nem tanto. Ele até parou um pouco de treinar, porque na hora do jogo é difícil ele cobrar, porque tem outros cobradores. Mas é uma coisa que não é descartada. Futuramente você pode pegar o Tiago e ser uma opção. Acho que para o momento agora... Até converso com o Renato [Gaúcho] e o Tiago. A comissão técnica achou melhor ficar como está. É um ganho. O goleiro cresceu com isso também. Não é só ele. Daqui a pouco vão surgir outros, com a mesma precisão e qualidade, para desenvolver isso\".

MELHORES GOLEIROS DO BRASIL

\"Em relação aos goleiros, existem vários com condição de dizer que ele está entre os melhores e disputar uma vaguinha na Seleção. Tem o Marcos, no gol do Palmeiras, que está em uma excelente fase. É um grande goleiro, campeão do Mundo. Tem o próprio Rogério Ceni. Tem o Bruno, do Flamengo, que já merece ser lembrado. Em algumas situações tem o Fábio, do Cruzeiro. Eu teria o Fábio Costa, mas ele está machucado, não vem jogando. Tem o menino do Corinthians, que é o Felipe. A gente está bem servido. Mas os três acho que seriam esses\".

\"Temos três grandes goleiros aqui no Vasco. Mas acho que pela situação que a gente vem atravessando, talvez não consiga ter tanta evidência assim. Mas são goleiros que futuramente vão poder estar despontando em uma Seleção Brasileira também e estar sendo lembrados como os melhores\".


\"Mas, a princípio, acho que esses três. De repente uma troca ou outra, o Fábio entrando nesses três. Fora isso, é Marcos, Rogério e Bruno. Acho que eles estão hoje, pela situação e pelos momentos... Tem outros goleiros se revelando. Tem o goleiro do Coritiba [Vanderlei] e o do Grêmio [Victor]. Também são grandes goleiros. É o primeiro campeonato. Eles estão se revelando também. O Brasil está muito bem servido mesmo, até para uma eventual convocação para a Seleção Brasileira\".

EX-JOGADORES LEVAREM VANTAGEM COMO TREINADORES

\"Acho que isso é a lei natural. O cara vive a vida toda dentro de um campo de futebol. Ele não está ali só pensando em... É lógico que primeiro pensando, porque é o ganha pão, o trabalho, a profissão dele. Mas chega uma certa etapa da sua vida, em que você já começa a observar outras coisas. Principalmente observar alguns treinadores, algumas passagens desses treinadores, e começa a aprender. Existe uma facilidade sim. Você citou o Mauro Galvão. O Zetti hoje é treinador, o Leão. São profissionais que já estiveram no campo e têm uma visão disso tudo. No meu caso, parti para uma coisa que fiz a vida toda, que foi agarrar. Geralmente, os goleiros querem ser treinador de time e não de goleiros. Mas no meu caso não. Primeiro, tenho que fazer uma parte aqui. Acho que tenho essa etapa para queimar ainda, de se treinar os goleiros. Tenho que queimar essa gordura ainda. Mas sim, com esses treinadores que o Vasco vem tendo ultimamente, para você aprender. Quem sabe se daqui a cinco anos eu também não possa virar um treinador de time? Você vai aprendendo. A cada dia você está aprendendo. Mas existe a possibilidade sim. O Mauro Galvão esteve algumas vezes aqui treinando os zagueiros\".

REFORMULAÇÃO NAS DIVISÕES DE BASE

\"Hoje, se você for pegar as divisões de base do Vasco, houve uma mudança muito grande. Todos os treinadores das divisões de base jogaram no Vasco. Houve a mudança essa semana. E auxiliares também. É uma mudança muito grande, apostando nesses jogadores que vestiram a camisa do Vasco, nesses profissionais, que são o Gaúcho, Tornado no juvenil, William, Cássio - lateral, Tinho, como auxiliar, Sidnei. Todos esses que passaram por aqui, em um passado próximo, há uns oito a dez anos, hoje estão como treinadores nas divisões de base, almejando chegar na equipe principal. O Vasco está com um pensamento legal. Tomara que dê certo e o pessoal possa colher muitos frutos desse trabalho\".

MUDANÇAS NO VÍNCULO DO JOGADOR COM O CLUBE

\"Por causa da Lei Pelé. Isso é claro. Antigamente você não tinha essa facilidade de mudança. Existia todo um processo para que você mudasse de clube. Você era vendido ou tinha o passe estipulado na Federação. Antigamente a gente vivia assim. Hoje não. A Lei do Passe é o seguinte. O jogador joga um ano, tem um ano de contrato. Terminou, ele está livre para cuidar e fazer o que quiser da vida dele. Venho conversando bastante. Tenho essa identificação com o clube, por ter jogado aqui quinze anos. Mas venho conversando bastante com os goleiros do Vasco, da importância de hoje estar jogando aqui, porque não cai do céu. Para eles estarem jogando no Vasco, é porque foram bem nas equipes em que estiveram. Se estão jogando no Vasco hoje, têm que aproveitar a oportunidade. E muito mais. Criar uma identificação com o clube. Isso, para mim, é o mais importante. São os títulos. Até tem um jogador aqui que \"Já estou aqui há três anos\". Mas daqui a pouco vem um título\".

ENTRAR PARA A HISTÓRIA

\"Vamos esse ano terminar bem esse Brasileiro. Vamos nos manter na primeira divisão. No ano que vem tem o Estadual. O Estadual é difícil de ganhar. Mas daqui a pouco dá uma volta olímpica. Aí já é um título. Você já fica marcado, já é um quadro que está na parede. Ele vai se identificando dessa forma. Ao invés de você ficar um, dois anos aqui, vai ficar dez, seis, sete. Você cria essa identificação com o torcedor. Isso é bom. Daqui a pouco você vai estar defendendo uma outra equipe, que não seja a nossa arqui-rival... Mas defendendo uma outra equipe, tipo um Atlético. Quando você vier em São Januário, vai ser saudado pelo seu torcedor, que é o torcedor vascaíno, pelo que você fez no passado. Tento passar isso constantemente. Todo dia, em todo aquecimento, a gente conversa sobre isso. Acho que isso é importante. E comentando para o cara, de querer conquistar pelo clube. Fico muito feliz por isso. Passei isso aqui dentro e gostaria que eles tivessem essa mesma passagem, de ficar aqui dentro cinco, seis, dez anos, e conquistar pelo clube. A gente tem essa necessidade. O título é importante, e a permanência é muito mais importante, porque quando você sai na rua, não é lembrado como o Roberto do Criciúma ou o Tiago da Portuguesa, mas sim como o Tiago e o Roberto do Vasco. É como é o Carlos Germano no Vasco. Mais em nenhum outro clube. É do Vasco. Essa identificação é importante. Espero que eles sejam felizes aqui dentro, possam dar prosseguimento nesse trabalho, no ano que vem ser campeão estadual, terminar bem esse Brasileiro, de repente no ano que vem mesmo almejar uma classificação para uma Libertadores. Que eles possam fazer história aqui dentro também, porque isso é que fica marcado na vida da gente\".

Fonte: Vasco Expresso