Carlos Brazil indica que permanecerá no clube: "Quero ficar"
O Vasco iniciou o ano com todo vapor no sub-20 ao conquistar a Copa do Brasil da categoria, no último domingo, após empate por 3 a 3 com o Bahia em São Januário. E o comandante da base deve dar sequência ao trabalho mesmo com a mudança de presidência.
Na segunda-feira, o diretor executivo de futebol da base do Vasco, Carlos Brazil, esteve reunido com o presidente eleito Jorge Salgado, com Alexandre Campello e José Luis Moreira, atual vice de futebol. Durante a transição de poderes, Salgado e Campello têm participado da maioria das negociações da pasta.
- Tivemos uma reunião, e está bem encaminhada a permanência. Eu quero ficar no Vasco, sou muito feliz aqui, é um clube que me recebeu muito bem. Sou muito grato ao Vasco, às pessoas que me deram essa oportunidade e a quem me indicou. Acho que é um clube excelente para se trabalhar - afirmou Brazil, completando:
- O presidente Campello iniciou um processo de transformação de gestão no clube que considero de suma importância ter continuidade. E percebi claramente no presidente Salgado a intenção de, junto com sua equipe qualificada, dar continuidade a esse processo de transformação no clube. Há muito a ser realizado, claro, mas tenho certeza que o Vasco está no caminho certo. Isso me motiva ainda mais.
Pequenos detalhes restam para a assinatura da renovação do contrato de Brazil, que está no clube desde janeiro de 2018.
- Estamos desenvolvendo um trabalho em que ainda não chegamos no final, no projeto final. Acho que estamos com o planejamento bem encaminhado para tudo, mas ainda tem muita coisa a se fazer. Gostaria muito de dar essa continuidade, deixei claro isso para o presidente e falei que sou muito feliz no clube. Esse é o grande passo para que a gente resolva a permanência. Faltam alguns acertos, mas acho que a coisa vai caminhar para uma permanência.
Confira abaixo a entrevista com Brazil na íntegra:
Quais foram as chaves para os títulos estadual e da Copa do Brasil no Sub-20?
- Eu volto a 2019, quando o Marquinhos Valadares, por um problema pessoal, resolve voltar para Minas. Sua família é de lá, e ele recebeu uma proposta do Atlético-MG. Ele vinha fazendo excelente trabalho, e isso nos pega de surpresa porque tínhamos uma Copa RS logo em seguida para disputar. Trouxemos rapidamente o Alexandre Grasseli, que era o nosso coordenador técnico do alto rendimento, do sub-15 ao sub-20. Na época, ele estava no Cruzeiro como treinador do sub-17, mas conhecia a metodologia do Vasco. Nós fizemos uma proposta, e ele aceitou voltar.
- Fomos vice-campeões da Copa RS em dezembro e chegamos às quartas da Copinha em janeiro. E aí veio a pandemia. Durante o período, o profissional requisitou o Grasseli para ser auxiliar fixo. Isso tornou mais complicado para nós porque naquele momento tínhamos um calendário muito apertado, para disputar Carioca, Copa do Brasil e Brasileiro em quatro meses.
- Não queríamos priorizar nenhuma delas e, para isso, tínhamos que ter elenco. Com isso, tivemos que trazer alguns jogadores. Por quê? Porque tínhamos um Brasileiro Sub-17, e nós não queríamos prejudicar de jeito nenhum o Sub-17.
- E, diante disso, jogadores 2002 e 2001, que comporiam a equipe sub-20, precisariam de um tempo de adaptação. Mas como ter essa adaptação sem treinamento? Não havia tempo para treinar, teve semana com cinco ou seis jogos, um absurdo completo. Às vezes com viagens, era jogo quase todo dia. Isso tudo prejudicou muito.
Escolha por Diogo Siston e planejamento das competições
- Não tinha por que trazer um novo treinador sem que conhecesse toda a metodologia e sem tempo para treinar. Então optamos por efetivar o Diogo Siston, que era auxiliar do Marquinhos e do Grasseli. Ele já entendia muito bem todo o processo, já conhecia os meninos de modo geral, menos os que estavam vindo para o clube.
- Esse desenvolvimento teria que ser feito com certos planejamentos, não prioridades. Então pensamos: "Vamos dar certa prioridade à Taça Guanabara para que a gente a conquiste e tenha vaga na final do Carioca". Não era abrir mão do Brasileiro, a gente iria com time alternativo no início do Brasileiro e entendia que haveria tempo de uma recuperação para a classificação.
- A Copa do Brasil era intermediada no meio dessas competições. Evidentemente que a gente também priorizou a Copa do Brasil. Quando era possível, a gente ia com o time principal. Às vezes tinham jogos de duas competições no mesmo dia.
- Evidentemente que requereu um planejamento muito específico, o Rio de Janeiro tinha uma competição como nos moldes anteriores. Em São Paulo, por exemplo, o estadual foi muito curto, e os times cariocas acabaram muito prejudicados em algumas competições.
- Dentro do planejamento, conseguimos ganhar a Taça Guanabara, o que nos permitiu estar na final do Carioca e já garantido para a Copa do Brasil 2021. Aí a gente abriu mão completamente da Taça Rio para pontuar no Brasileiro e priorizar a Copa do Brasil.
- Infelizmente no Brasileiro não conseguimos a classificação. Graças a Deus, dentro de tudo que foi planejado, o saldo foi extremamente positivo com dois títulos em três competições. Apesar de não obtermos a classificação no Brasileiro.
- Fiquei muito feliz com o resultado num momento em que muitos torcedores não entendiam a permanência do Siston. A gente tinha uma sequência de derrotas no Brasileiro que não condizia com a realidade do Vasco e com a qualidade dos meninos. Aquilo ali não era real.
- Aí que entra a questão da resiliência e da teimosia. A gente via claramente a evolução do time nos treinamentos e jogos. Isso fez com que evidentemente a gente mantivesse tudo que estava sendo feito. Graças a Deus conseguimos conquistar o Carioca e a Copa do Brasil.
Quem surpreendeu a vocês e quem crê que pode figurar tão logo no profissional?
- Com toda sinceridade, quem mais nos surpreendeu nesse processo foi o Siston porque ele mostrou uma qualidade absurda de trabalho. Muito estudioso, aprendeu muito enquanto esteve com Marquinhos e Grasseli. Foram profissionais muito importantes para ele. Ele tinha características muito boas dos dois além da experiência dele como jogador de futebol, que isso contribui muito dentro do vestiário.
- Ele, por ser muito estudioso, acaba agregando a questão da prática que ele viveu dentro de campo com todo o histórico dele de atleta, com a história dele dentro do próprio do Vasco, com todo esse estudo. Ele é muito empenhado em tudo que ele faz.
- Em termos de jogadores, eu não gosto muito de pontuar, acho que os jogadores 2000, que estão estourando idade, acho que vão compor bem a equipe principal. Caio (Lopes), Laranjeira, João Pedro, Weverton e Guilherme Carneiro estouraram a idade, acho que vão poder disputar a Supercopa caso a CBF confirme para fevereiro.
- Mas eles vão ter que subir, e eu acho que podem dar muito retorno para o clube. Vi entrevista do professor Luxemburgo falando que não era o momento de eles subirem, somente o Pec, que já estava no profissional. Acho que ele está corretíssimo, não é o momento de queimar etapas.
O que projeta para o sub-15 e sub-17 nos próximos anos?
- O sub-17 teve o Brasileiro, com uma geração excelente, mas infelizmente ficamos nas quartas de final com o Fluminense. Lógico que do outro lado tem trabalho, e o Fluminense acabou sendo campeão. Fizemos dois excelentes jogos e entendi que fomos muito prejudicados no jogo das Laranjeiras.
- Mas sabemos que o caminho estava correto, que a qualidade dos atletas é excepcional, e acabou que alguns meninos na fase final da Copa do Brasil complementaram o Sub-20 com uma performance extraordinária.
- Siston ficou muito impressionado com os meninos. Na final da Copa Brasil Sub-20, tínhamos o Pimentel no banco, o Andrey, o Marlinho, o Juan, que acabou entrando. Tínhamos o Buiu, que acabou entrando no lugar do Riquelme e fazendo o gol do título.
- O Buiu (Caio Eduardo), apesar de ser meia, vinha jogando na lateral esquerda no lugar do Riquelme. O próprio Cadu, que é o titular do gol, é sub-17, é 2003.
- Essa linha de formação facilita muito esse processo da transição de categorias. Chegam no sub-20 já sabendo o que fazer. Tínhamos o outro Marlon, o Luizinho, que veio do Nova Iguaçu. Meninos com potencial muito grande para o sub-20
- Da mesma forma temos projeção excepcional para o sub-17 e sub-15, já que o sub-16 que em 2021 será sub-17 foi o nosso sub-15 campeão invicto em 2019. Perdeu um jogo só no ano, quando fomos vice-campeões da Copa da Amizade. É uma geração excepcional, que praticamente não teve jogos em 2020. O sub-16 complementou o sub-17.
- Vão juntar gerações as 2004 e 2005, o que nos faz acreditar num time muito forte no sub-17. Da mesma maneira na equipe sub-15. O nosso sub-14 tinha muito potencial quando era sub-13 em 2019. Isso só fez fortalecer com a captação. No ano passado, não tiveram competição, e a gente espera que se torne uma equipe muito forte.
- Temos projeção de formar grandes equipes em todas as idades. Volto a dizer que o trabalho de captação e de análise de mercado é muito forte. Houve muito investimento e avanço grande nesse sentido.
No que o Vasco precisa avançar para dar seguimento à formação de talentos, que vem sendo bastante positiva?
- Acho que o grande avanço na gestão do Campello foram investimentos em recursos humanos, acho que a gente trouxe profissionais dos melhores no futebol de base do Brasil. Houve investimento na área de captação de análise de mercado e de análise de desempenho. Acho que isso foi bastante positivo para o clube.
- Houve investimento muito forte na parte de metodologia, a gente trouxe um coordenador metodológico que é muito conceituado no mercado. Ele é instrutor da CBF e consultor da Conmebol.
- Todos juntos construímos essa metodologia. A contribuição dele foi muito importante dessa coordenação metodológica, mas praticamente foi uma metodologia feita por todas as mãos ali dentro. Parte técnica, parte de gestão. Enfim, tudo mundo contribuiu muito, e isso foi bem legal. Essa metodologia é quase que um planejamento estratégico dentro do futebol de base. A gente não é engessado. Quando a gente entende que é preciso modificar, a gente modifica no dia a dia em reuniões sistemáticas. Acho que esse foi o grande investimento, em recursos humanos.
- Houve um investimento em infraestrutura considerando que o Vasco não tinha um local fixo de treinamento. Isso era muito importante para que os agentes entendessem que o Vasco agora tinha um local de treinamento e para que os pais pudessem programar as idas e vindas dos filhos. Isso é muito importante. A escola dentro do Vasco facilita muito, mas nem todos estudam lá, então a gente precisa sempre estar muito bem alinhado.
Importância da conclusão do CT em Caxias
- Evidentemente que você tendo um CT mais próximo, como é Caxias, que parece ser prioridade do novo presidente terminar o mais rapidamente possível, você vai formar melhor. Você vai ter academia do lado, não vai perder tanto tempo com uma hora para ir e para voltar do Artsul para São Januário. E que é um local (Artsul) que não é do Vasco e é muito longe. Isso faz com que a formação seja prejudicada de certa forma.
- Torcedor sempre questiona por que os meninos chegam sem força para jogar na equipe principal. A gente sabe que, apesar de todo o trabalho que é feito, existe essa deficiência realmente. Eles precisam passar um tempo no profissional antes de ir para os jogos para que façam esse trabalho de força com mais intensidade dentro do centro de treinamento do profissional.
- A gente precisa avançar isso na base, e isso vai ser possível com o CT em Caxias, que é muito mais perto e é nosso. Vamos ter uma academia nossa, um local nosso. É muito importante para seguirmos avançando na formação dos meninos. Acho que esse é o aspecto principal. Com o CT da base pronto em Caxias, não somente o trabalho físico, técnico, tático e psicológico fica beneficiado, como também a questão da alimentação dos atletas.
- Mas há outros aspectos, como disputar competições no exterior. O Vasco precisa viabilizar isso melhor de certa forma para podermos evoluir ainda mais na formação.
Fonte: ge