Carioca retorna após 90 horas de mediação
Sem papas na língua, Carlos Augusto Montenegro já havia baixado o tom nas reuniões virtuais para discutir o pronto retorno - ou não - do Campeonato Carioca. Num intervalo de uma hora na noite de sexta-feira, saiu do computador e deixou microfone aberto.
- Nós não vamos ceder – disse ao telefone o membro do comitê de futebol do Botafogo.
O áudio provocou reações de todos os lados num momento em que os ânimos pareciam esfriar. Um dos representantes do Flamengo na reunião, Cacau Cotta disse à mediadora:
- Ouviu, doutora? Eles não querem acordo nada.
O trecho acima foi apenas um dos relatos de mediação que durou cerca de 90 horas e começou na tarde de sexta, dia 19 de junho, e terminou apenas na manhã de terça-feira, 23, pouco antes do presidente do STJD, Paulo Salomão Filho, usar a caneta para resolver, por enquanto, os conflitos de clubes no Carioca. O torneio tem rodada cheia neste domingo.
Ainda naquela manhã de terça-feira, a advogada Juliana Loss, coordenadora da OAB de departamento mediação, fez último contato com o presidente da Ferj, Rubens Lopes, mas nenhum dos lados acreditava mais numa “solução salomônica”.
Volta Redonda de olho
A expressão pode parecer, mas não era referência à decisão do presidente do STJD de sobrenome Salomão. O termo foi usado por Alexandre Campello, presidente do Vasco, para buscar meio termo - uma solução que não fosse tanto para um lado ou para o outro. “Decisão salomônica” é consagrado termo jurídico que faz alusão à sabedoria do jovem rei Salomão, personagem bíblico.
Numa das longas reuniões, Campello sugeriu 28 de junho para as partidas de Botafogo e Fluminense. Havia ainda uma diferença de um dia entre até onde chegava a concessão da maioria dos clubes, que viam benefícios à dupla com adiamento dos jogos - o presidente chegou a fazer metáfora do “mau aluno que não estudou e agora quer adiar a prova” -, e o limite de alvinegros e botafoguenses para irem a campo. Dia 27 de um lado, dia 29 do outro.
Uma das curiosidades da reunião envolveu representantes de Volta Redonda e do Fluminense. Flavio Horta Junior, vice-presidente do clube da Cidade do Aço, era o dirigente mais falante entre os pequenos. Semifinalista da Taça Guanabara e a dois pontos do Madureira na classificação, o Volta Redonda tem o Fluminense pela frente neste domingo.
Horta Junior discordava frontalmente de Mario Bittencourt, presidente do Fluminense e... antigo advogado do Voltaço. Para irritação dos clubes pequenos, Bittencourt fazia longas explanações contra o retorno do futebol, com críticas severas à Ferj e contra a postura dos clubes.
"Mario, eu te respeito, você é meu advogado há tantos anos, mas...". Era como iniciava seu discurso o dirigente do Volta Redonda, rebatendo o presidente do Fluminense. Ele lembrava que os dois clubes diziam, anteriormente, que assim que as autoridades liberassem voltariam a treinar.
Feridas abertas
Sem conseguir avanços na mediação coletiva, a advogada partiu para as negociações individuais. Conversou com Campello, Bittencourt, com Mufarrej, com Montenegro – que chegou a ensaiar pedido de desculpas por críticas duras que fez antes dos encontros virtuais aos demais clubes -, Landim e mais representantes de clubes. Guardou esperanças para novo contato com Rubinho. Mas não adiantou.
Na tarde de terça-feira, a decisão do presidente do STJD colocava panos quentes na ferida aberta entre os clubes. A sentença veio acompanhada de novas críticas de Botafogo e Fluminense e ainda de entrevista dura do treinador Paulo Autuori, suspenso pelo TJD, mas liberado pelo STJD na véspera da bola rolar.
Fonte: geMais lidas
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