Campello abre o jogo sobre candidatura e planos para o Vasco
Alvo da arquibancada muitas vezes em dois anos e meio de Vasco, Alexandre Campello confia em mudar a percepção da massa numa campanha que começa nesta terça-feira, às 18h, na casa portuguesa Trás os Montes, na Tijuca. Ao mesmo tempo que vê início surpreendente do Vasco no Brasileiro (4° lugar na tabela, com um jogo a menos), o pré-candidato que vai à frente da chapa "No rumo certo" inaugura primeira fase de CT e avança em costuras políticas.
Em entrevista ao ge, ele defendeu a gestão de críticas de atrasos salariais – “a gente pretende acabar com ela no médio prazo” -, listou realizações e caprichou na retórica sobre a rejeição da torcida, hoje a líder em programa de sócios no país.
- A torcida sempre esteve aí. Por que não fez antes? Ou porque não acreditava no que estava sendo feito ou porque não criaram condições dela mostrar o seu valor - disse.
A longa entrevista – que durou pouco mais de 1h na sala da presidência – abordou problemas do Vasco, o cenário político e as expectativas até o fim da gestão do médico ortopedista.
Confira a entrevista de Alexandre Campello:
Há pouco tempo, notava-se, essa vontade mais explícita pela reeleição. Quando ela de fato veio?
A decisão veio de amadurecimento de ideias, mas, mais precisamente, de um mês atrás. Olhando para o cenário político do clube, de tudo que essa gestão conseguiu construir, apesar de ter vivido dois anos e meio em clima de adversidade política que atrapalhou muito a gestão. Apesar dessas dificuldades conseguimos realizar muito. Isso me encorajou para lutar por mais três anos para que pudéssemos concluir série de projetos que essa gestão consegue colocar de pé, como a primeira etapa do nosso CT e o CT de Caxias que está avançando bastante. Saímos de 7 mil pagantes para 185 mil sócios. Não foi à toa. Óbvio que isso tem engajamento da torcida. Mas tem por trás disso estratégia, planejamento, infraestrutura.
É preciso criar condições favoráveis para que a torcida consiga mostrar a sua força. A torcida sempre esteve aí. Por que não fez antes? Ou porque não acreditava no que estava sendo feito ou porque não criaram condições dela mostrar o seu valor.
Quando eleito, você falava em entregar um Vasco melhor financeiramente do que pegou. No primeiro ano o clube teve um superávit (com a venda do Paulinho), no segundo, déficit (sem venda). Ainda faltam três meses, mas acha que cumpre essa expectativa?
Nossa missão não era só o equilíbrio financeiro. Dentro do nosso projeto de gestão tínhamos listado nove prioridades no comitê de gestão que montamos e do qual fiz parte para identificar fragilidades e quais eram as ações necessárias para a recuperação do clube. O que queríamos entregar nesse no final desses três anos era um Vasco em transformação. Ela não acontece em três anos, precisa de muito mais tempo do que isso. Mas acho que nesses três anos a gente conseguiu excelentes resultados.
O que o senhor cita como avanços principais?
O Vasco tinha imagem muito desgastada e nesse aspecto evoluímos bastante. Desbloqueamos de mais de 10 mil torcedores nas mídias sociais. Passamos a ter relação com mercado. Nesse período houve mudança na percepção em relação ao Vasco. Hoje, transparente, com balanços auditados por grandes empresas, como o balanço de 2019 sem nenhuma ressalva. Hoje publicamos balancetes... enfim, acho que evoluímos muito. Tudo que tínhamos de planejamento vem acontecendo porque existe estratégia. O futebol evoluiu naquilo que imaginávamos, com ano de 2018 muito difícil, brigando para não cair. Assumimos com elenco montado e, a nosso ver, elenco caro. Naquele momento a expectativa era de não cair. Mas já para 2019 brigar no meio da tabela, isso que aconteceu. Ao longo do tempo conseguimos reduzir o custo do futebol e não passar susto, ficar no meio da tabela no Brasileiro.
Para 2020, era previsto que brigássemos mais em cima por coisas maiores. Estamos observando isso. Time ainda mais competitivo do que foi 2019. Está brigando, estamos entre os quatro da tabela, com jogo a menos, sem que onerássemos mais a folha de pagamento. Nossa folha é exatamente igual a do ano passado.
Conseguimos nesses mais de dois anos e meio avançar bastante no patrimônio do clube, nas finanças, equacionamento de dívida. Em 2018, tivemos superávit e redução importante de dívida. Em 2019 tivemos pequeno déficit, mas se olharmos o balanço vamos observar que em 2019 tivemos aumento de receitas recorrentes de mais de R$ 40 milhões, isso mostra a efetividade da gestão. Por que o déficit? Porque, diferentemente dos 10 maiores clubes do Brasil, nós tivemos a menor receita oriunda de ativos (venda de jogadores). Enquanto os outros clubes faturaram na casa dos R$ 100 milhões, se não me engano só um, além do Vasco, ficou abaixo (dos R$ 100 milhões), com R$ 45 milhões. O Vasco faturou R$ 14 milhões (em vendas). Essa foi a grande diferença. Se tivéssemos vendido atleta teríamos tido superávit e redução importante de dívida.
Por que o sócio, agora, deve elegê-lo?
O sócio deve olhar lá para 2017 e pensar quais eram os seus anseios, o que esperava para o Vasco. Se ele queria transparência, nós demos a todos os atos. Se esperava aumento de patrimônio, um clube que pudesse criar projeto e realizar a construção do CT próprio, isso foi entregue. Não só um, mas dois CTs estão sendo entregues. Se queria time mais competitivo, isso está sendo realizado.
Se ele não queria mais cair para a segunda divisão, na nossa gestão posso te assegurar que a gente não vai cair. Não caímos no primeiro ano, que foi o mais difícil, nem no segundo e não vamos cair nesse.
Se ele queria projeto de ampliação, de modernização de São Januário, ele está aí caminhando muitíssimo bem. Então se o sócio fizer a retrospectiva imaginando tudo que ele queria lá atrás, como se sentia lá atrás, sendo motivo de zoação dos outros torcedores, se não tinha motivo para estar feliz, eufórico, acho que hoje ele tem. Por tudo isso é que eu acho que o sócio deve manter essa gestão. Dar crédito a essa gestão. Estamos fazendo tudo o que se prometeu por vários anos e não foi cumprido. A nossa gestão não só colocou no papel que iria realizar e colocou de pé as realizações.
Tenho observado nas mídias, nos grupos de Whatsapp e hoje o vascaíno está feliz, está tirando onda. Coisa que há muito tempo a gente não via.
O que deu errado dentro desse planejamento que você cita que o Vasco ficou, por exemplo, o ano de 2019 inteiro sem pagar Profut?
Faltou dinheiro. O clube vem com dívida muito grande há muito tempo e ela sufoca o clube. Apesar de corrigir alguns problemas, como por exemplo, reduzir o custo elevado do clube, aumentar receita, essa quantidade de dinheiro que sobra não é suficiente para pagar as dívidas. Dentro desse planejamento, em 2019, existia a necessidade de venda de ativo. A partir do momento que não realizamos essa venda, sabíamos que teríamos problemas. E foi o que aconteceu.
Mantivemos as nossas despesas baixas, aumentamos a receita recorrente, mas não era suficiente para pagar as nossas despesas, mais o endividamento, os parcelamentos, as obrigações trabalhistas, a dívida bancária... então em algum lugar vai apertar.
Mas isso é natural que aconteça ao longo dos anos. O que não se pode é desviar daquilo é o mais importante. Para o Vasco sair dessa situação alguns fatores são fundamentais, primeiro reduzir dívida e segundo aumentar suas receitas. Isso é primário. Na empresa, em casa, se você tem mais despesas do que receitas, você vai ter dívidas. Nosso endividamento, mesmo tendo sobra, acaba consumindo seu caixa. E aí nessa busca por aumento de receitas não basta só ir atrás de patrocinador etc, você precisa criar condições favoráveis para que essas receitas aumentem.
Qual gasto mensal de despesas do Vasco? E de faturamento?
Aproximadamente R$ 12 milhões de despesas mensais. O Vasco, ano passado, faturou R$ 215 milhões. Então se tirar R$ 20 milhões, mais ou menos, de ativos, entre venda e mecanismo de solidariedade, fica R$ 194 milhões, R$ 195 milhões, sem a venda. E você tem mais ou menos R$ 180 milhões de despesas entre folha salarial, prestador de serviço, manutenção, enfim, dívidas bancárias e tudo mais. Essa diferença é consumida pelo endividamento. No momento que você tem uma penhora, por exemplo. Só de ato trabalhista o Vasco paga R$ 2 milhões mensais. Isso tem impacto, por mais que tenha receita maior que a despesa você não consegue pagar salário, fornecedor. Porque boa parte do que produziu não entra no caixa. Já foi retido na fonte.
O senhor falou que não houve venda, mas o Vasco recebeu proposta pelo Nathan, que agora está saindo, e o Lucas Santos (Robinho). Por que não vendeu?
A gente busca valorizar nossos ativos. Sinalizamos ao mercado que não vamos vender por qualquer valor. Todos sabem da condição financeira do Vasco. É fácil um clube chegar aqui e oferecer dinheiro qualquer achando que vai levar. Recebi proposta pelo Nathan e recusei. Pelo Robinho, era baixa e recusei. O mercado tem que entender que se não chegar com proposta razoável, não vai levar.
E por que vendeu o Nathan agora, por cerca de R$ 8 milhões?
Agora é diferente. Ele tem contrato só até o meio do ano que vem e daqui a mais alguns meses poderia assinar pré-contrato. O Vasco iria perder o jogador, ele não queria renovar. Não tinha jogado ainda, ele foi reserva nos juniores, mas para fora ele tinha valor, tinha mercado. Mas aqui não conseguiu jogar nem nos juniores e nem um minuto no futebol profissional.
Mas ele foi titular na Copinha do ano passado. (Nota da redação: em 2019, foram 39 jogos e 22 como titular)
Enfim... Mas a gente tentou renovar, ele não quis. Ia acabar saindo de graça. Optamos por minimizar prejuízo.
E os casos do Marrony e do Raul?
Acho que Marrony foi venda por bom valor no mercado interno. Não tivemos proposta dele para fora e acho que o Vasco vendeu bem. Até porque ainda tem mais uma parte a receber pelos próximos dois anos. Entre 1 milhão, 1,5 milhão de euros a receber. Sobre o Raul, ele foi sondado pelo Red Bull e não queria mais jogar no Vasco, queria sair. Mais ou menos a situação do Nathan. Ou liberávamos ele colocando para dentro algum recurso ou ele iria sair mais na frente de graça.
O futebol russo fez proposta pelo Talles também?
Teve uma proposta, mas ele não queria sair. Nós também entendíamos que o jogador valia mais do que a proposta feita.
Especificamente sobre salários, por que não prioriza funcionários ao invés de pagar jogadores?
A gente procura equilibrar. A ideia, claro, é sempre pagar todos. Mas, às vezes, o recurso não é suficiente. Então você paga primeiro um, até porque não tem aportes com valores grandes, como teve na venda do Marrony. Por exemplo, entrou R$ 3 milhões. O que consigo pagar com isso. Entrou R$ 4 milhões, o que consigo. A gente paga de acordo com os recursos.
O senhor sofreu com atrasos aqui no Vasco quando era médico. Hoje, como presidente, como lida com isso, como se comunica com os funcionários?
Não é confortável para ninguém ter salários atrasados. O clube não quer atrasar salário, a gente briga muito, fazemos ginástica enorme para colocar recursos para dentro na tentativa de manter salários em dia. Não é rotina recente, é antiga, que a gente pretende acabar com ela no médio prazo. Agora, como tratamos isso? O Vasco tinha departamento pessoal, mas não tinha de Recursos Humanos. Trouxe para cá RH, que, além de trabalhar na seleção de profissionais, dão treinamento, qualificam nossos funcionários, eles têm papel de comunicar da melhor forma possível com os nossos colaboradores. É dessa maneira. Acho que isso melhorou muito a relação com os colaboradores.
O senhor sente rejeição por parte do vascaíno? Tem feito pesquisas para medir?
É óbvio que tenho uma percepção, de modo geral, (sobre rejeição). Eu acho que, ao longo do tempo, a percepção do sócio e do torcedor que não é associado do clube mudou. Na medida em que as pessoas acabam constatando a evolução do clube, que o clube está no caminho certo, que o clube tem uma diretriz e um projeto, elas mudam a percepção.
Talvez a rejeição seja maior dos não-sócios, digamos assim. Isso porque, talvez, não tenham tantas informações ou convívio e contato maior com o clube. Com isso, um menor conhecimento sobre o que está sendo realizado.
Rejeição, acho, todos os candidatos têm. Uns mais, outros menos. Mas o que tenho percebido é um crescimento grande, nos últimos meses. Há um tempo, a maioria não me via como candidato forte na eleição. Mas acho que isso está mudando até entre os possíveis candidatos. Sobre pesquisa, vamos fazer no momento certo. Eu, diferentemente dos outros candidatos, tenho muito mais contato com o sócio e com o torcedor e, talvez, eu tenha mais oportunidade de ter essa percepção.
Um dos pré-candidatos, Jorge Salgado, teve alguns encontros com o senhor. Perguntou se o senhor se candidataria, inclusive. Ele tem dívida com o clube da época do ex-presidente Roberto Dinamite e, uma nova, feita agora. Como está essa relação? O que discutiram?
A gente sempre conversou. Desde que eu entrei, sempre falei com ele e com outros beneméritos. E com todos os que tinham interesse em conhecer e saber como ia a situação do clube, para onde iríamos caminhar e de que maneira a gente trabalhava para dar solução aos problemas. Sempre foram conversas positivas, nas quais ele demonstrou satisfação grande pela maneira que o clube vinha sendo conduzido.
Mais recentemente, nos encontramos algumas vezes. Em uma ocasião, ele (Salgado) voltou a externar o entendimento que a gestão vinha sendo muito boa. Que a gente conseguia realizar o que não foi feito nos últimos 20 ou 30 anos.
(Salgado) chegou a me dizer, em determinado momento, que foi sondado por um grupo e que não seria candidato se eu fosse. Em determinado momento, eu disse para ele que seria candidato. Mas ele entendeu em aceitar o convite desse grupo. É isso.
Em relação à dívida, todo mundo sabe que existiu. Foi contraída mesmo lá atrás, ele ajudou na época do Roberto. Isso foi ratificado agora. Não vejo nenhum problema quanto a isso. Muitos já ajudaram o clube, ele não foi o único.
Algum candidato procurou o senhor para fazer algum tipo de composição? Descarta alianças?
Não, ninguém mais me procurou. Conversar, já conversei com um monte, a maioria deles. A gente conversa. Não descarto alianças, isso nunca se descarta. Obviamente, com alguns não haverá união nunca, mas a gente está aberto para receber apoio, sem dúvida alguma.
O senhor acha que quantos candidatos vão confirmar a candidatura?
No final, acho que serão três candidatos. Eu, com certeza, estarei. Não sei os outros. Alguns, com certeza, vão ficar no meio do caminho. A tendência, com a eleição se aproximando e com o resultado de pesquisas, aqueles que percebem que não têm chance acabam por desistir ou se aliam a outros. Isso é natural no processo, sempre aconteceu. É difícil cravar quem vai ou não vai. Em determinado momento, um não vai bem, outro decola, depois cai. Eleição é assim.
Acha que manterá essa base de apoio até o dia da eleição? Recentemente, chamou o André Luiz Vieira para o Patrimônio e o José Luis, no Futebol, dois ex-aliados do ex-presidente Eurico Miranda.
Na realidade, desde o começo da gestão, eu busco alguém para a diretoria pela capacidade. A gente já tem muita briga política dentro do Vasco, muita coisa ruim, um clima ruim faz muito tempo. É péssimo isso. Eu venho tentando unir e agregar as pessoas que podem colaborar seja de que grupo for. Eu trago aqueles que estão dispostos a colaborar e que têm capacidade para ajudar o clube. Isso é o mais importante.
Em relação à eleição, o apoio tem crescido. Tem muita gente fazendo isso, vindo conversar e reconhecendo o trabalho e o crescimento do Vasco. Quer seja no âmbito esportivo ou na percepção de mercado e evolução da marca. Na transparência do clube. Essas pessoas entendem que o clube está caminhando de forma correta para o que a gente gostaria. Isso sem lançar a chapa. Então, iniciando as conversas, acredito que, cada vez mais, a chapa ganhará corpo.
Houve momentos - até perto do seu último ano de gestão ainda havia - em que o senhor esteve ameaçado de sofrer impeachment. Por isso compôs, por isso buscou apoio?
Eu diria o seguinte: quando houve a ruptura em abril (de 2018, quando desembarcaram da diretoria todos nomes da "Identidade Vasco"), especialmente, muita gente jurava que eu não resistiria seis meses de pressão. Faltam agora três meses para acabar meu mandato, e a gente conseguiu contornar. Conseguiu resistir a todas essas manobras na tentativa de derrubar a diretoria sem absolutamente pensar no clube, no que era bom ou ruim ao clube. É óbvio que tive sustentação de um grupo ou de outro, mas sem nunca negociar nada. Nunca negociei absolutamente nada. Só mesmo o apoio daqueles que entendiam que o trabalho era sério e que não seria correto aquele movimento. Muitos que me apoiaram não eram favoráveis ao Campello, mas entendiam que aquilo não era bom para o Vasco. Que não era saudável para o clube. A gente conseguiu sobreviver muito por conta disso.
José Luis Moreira (atual vice de futebol) vai apoiar o senhor? Antônio Peralta (ex-VP) também?
É cedo. Não é legal pensar nessas coisas agora em uma campanha. Isso se dá ao longo do tempo, lá na frente. É preciso estar aberto a alianças e a agregar. Não fico barganhando cargos, isso não é legal. O importante é pensar no projeto, trazer quem pode ajudar, trazer quem tem interesse no que está sendo feito, fortalecer o movimento de reconstrução do clube.
Se ocorrer de alguém da atual direção decidir tomar outro caminho e não apoiá-lo...
As pessoas têm todo o direito de fazer as suas escolhas, desde que exista lealdade. Quem está aqui até hoje já teve oportunidade de avaliar o que está sendo feito. Estamos no final do mandato. Então, eu acho que, se alguém pensou que a gente não estava no caminho certo, deveria ter desembarcado, como alguns desembarcaram. Eu não acredito que quem caminhou até aqui... daqui para frente fará escolha diferente.
Ao se eleger na Lagoa, o senhor tinha um adversário - e os relatos são de que naquele dia quase brigaram - que hoje, talvez, é um dos principais aliados. É o Carlos Leão, vice de finanças, da Cruzada Vascaína. Como se reconstruiu essa relação?
Foi uma aproximação natural. Aquele foi um momento muito conturbado na política do clube, algo que vinha de anos. Acho que aquele momento na Lagoa foi, talvez, o ponto mais alto de uma efervescência muito grande, na qual muitas pessoas erraram.
O senhor errou ao fazer a aliança com o Julio Brant na última eleição?
Sim. Talvez. E digo que não era a minha vontade, mas isso é preciso ser analisado dentro de um contexto. Existia uma pressão muito grande, até da torcida, para que a gente fizesse aquele movimento. E, talvez, a gente deu a solução errada para um problema, que foi unir para vencer o Eurico. Talvez aquela não fosse a melhor solução. Enfim. Como eu disse, o período era conturbado que acabou culminando com a decisão coletiva. Não foi algo isolado.
E a aproximação com o Leão, seu atual vice de finanças?
A ruptura não foi entre Julio e Campello. Foi coletiva. Eu assumo a gestão, e muitos não acreditavam que fosse fazer o que fiz. Que não fosse cumprir tudo o que tinha prometido. Isso começou a mudar a partir da publicação do balanço (de 2018). Quando eu publico o primeiro balanço, contrariando especialmente o ex-presidente Eurico e outros vários atores, que entendiam que a gente precisava ter um certo jogo de cintura. Isso fez com que muitos que tivessem duvidas à gestão mudassem a percepção. Isso aproximou o grupo do Leão, que é a Cruzada. Houve a aproximação, os ânimos se acalmaram e as pessoas passaram a perceber que o caminho estava certo.
Jogo de cintura foi, então, retirar ação de contestação dos beneméritos? (Nota da redação: em agosto de 2018, o jurídico de Campello desistiu de ação.)
Não. Ali... vamos lá: eu achava que quem tinha de publicar o balanço era eu enquanto o Eurico defendia que ele tinha de fazer com uma retórica que não colava. Ele fez, qualquer um pode fazer. Para o que serve, a gente não sabe. Balanço que vale é o que é publicado e apresentado na Receita Federa, que foi o que eu publiquei e assinei. Publiquei no site do clube, com informações oficiais. Esse é o válido. Eurico fez um, ele gostaria que eu assinasse e fosse publicado. Esse não foi usado. Naquele momento, ele tinha a argumentação de que o exercício de 2017 tinha sido dele e que ele deveria fazer. Eu contra argumentava que isso não era cabível, que não era legal e que a responsabilidade dos atos em 2017 era dele e que a minha obrigação era das informações contábeis. Óbvio que se tivesse algo de errado, o responsável era ele. Ele teria o direito de contestar, se houvesse algo diferente.
Algumas pessoas da direção, com interesse de fazer beneméritos, algo político, tentaram me convencer que eu deveria deixá-lo fazer. Ali foi o primeiro embate que deu origem à ruptura em abril, que deu origem a saída de três vices da Identidade Vasco. Ali começou o embate.
Na última semana, o 1º vice-presidente geral, Elói Ferreira, entrou com recurso na Junta pela impugnação do seu nome da lista de sócios elegíveis. O que diz sobre isso?
Há sempre o recurso da Justiça, né? A questão financeira (alegada) é incabível. As minhas mensalidades são pagas anualmente, está pago até o final do ano. O que houve foi um problema de leitura. Ao se pegar o extrato, se observa que houve uma cobrança indevida da Feng (empresa que cuida do programa de sócios). Ela cobrou duas vezes a mensalidade e o 13º. Por que? A Feng é acostumada a tratar com o sócio torcedor, que precisa renovar anualmente. Eu fiz questão de integrar os sistemas e integrar o sócio estatutário. Este não renova o contrato a toda hora, o contrato é para a toda a vida. Isso gerou alguns problemas, e eles cobraram em duplicidade. Se você olhar, esta lá embaixo: pago, R$ 160 no cartão de crédito. Que é o 13º e o mês de dezembro. Isso é ridículo.
Mas, (essa ação do Elói), até achei bom. Isso conta ao meu favor. É a demonstração cabal de que a reprovação das minhas contas foi política. Foi o ato gerador para me tornar inelegível. Por isso, eles queriam tanto mudar o estatuto. Eles pretendiam colocar essa questão no novo estatuto: tornar o sócio que teve as contas rejeitadas ficaria inelegível. Eles não conseguiram, o estatuto não foi aprovado. Isso não faz parte do estatuto atual. O pedido de impugnação é nulo, ao meu ver.
Mas gostei que ele tenha feito o pedido. Isso mostra ao vascaíno o que essas pessoas fazem no Conselho Deliberativo. Eles reprovaram uma conta (2018), que foi feita por uma grande empresa, com toda a transparência, que foi motivo de elogio por especialistas. Tinha quatro pequenas ressalvas e não se poderia esperar nada de diferente. A gente sabe como eram tratadas as coisas na gestão anterior, então, não teria como ter um balanço sem ressalva. Em 2019, todas aquelas ressalvam foram sanadas. Publicamos agora um sem nenhuma ressalva, feito pela BDO, que está entre as maiores empresas do ramo.
É uma demonstração inequívoca que a reprovação de contas foi política e tem a finalidade de ir no meu CPF. Esses indivíduos querem ir no meu CPF e tentar me prejudicar na pessoa física. Então, gostei muito que ele tenha feito. Isso me dá armas para comprovar o que tenho dito.
Em uma entrevista, o pré-candidato Fred Lopes, seu ex-aliado, lembrou que o senhor era crítico ao ex-presidente Eurico por colocar filhos para trabalhar no Vasco. O seu filho, porém, também trabalha no Vasco. Ele é remunerado? O que faz?
O meu filho é diretor jurídico. Ajuda o clube em questões jurídicas, não recebe um centavo. Não vive disso aqui. E não tem poder de decisão nenhuma em movimentação financeira. Essa é a diferença. Meu filho não faz contrato e não negocia com ninguém. Ele só dá apoio jurídico, como grande vascaíno que é. Aliás, com grande serviço prestado. Agora mesmo, a gente negociou um pool de credores, que ele conseguiu, que tira mais de R$ 30 milhões de possíveis penhoras. Essa é a diferença.
O Vasco não faz um investimento, não compra um jogador faz tempo. Quando o Vasco vai ter, de maneira responsável, capacidade de investimento?
Talvez mais um ou dois anos a gente tenha condição de investir. Pode ser que comece mais cedo, vamos ver. Se a gente não tivesse tido um ano de 2019 sem venda de ativos, a ideia era ter capacidade de investimento agora. Sem a venda de ativos em 2019, o clube trouxe para 2020 ativos daquele ano. Foram mais de R$ 40 milhões de déficit de caixa para esse ano e ainda veio a pandemia.
Se o clube não estivesse muito bem administrado, teria fechado. Apesar de todas as dificuldades e da pandemia, estamos conseguindo pagar os salários e montar um time capaz de estar entre os quatro do Brasileiro. Isso demonstra capacidade de gestão.
Todo mundo reduziu salário de jogador, o Vasco, não. Eu paguei muito mais salário do que meses da minha gestão. Agora, não se muda o curso de um transatlântico em um estalar de dedos. As coisas vão lentamente.
Os direitos do Benítez estão fixados em US$ 4 milhões?
É por aí. O contrato tem alguns detalhes, que eu não posso falar. Isso não quer dizer que eles não aceitem uma proposta diferente. Exemplo: multa rescisória de contrato. As pessoas acham que não se pode vender por menos. É aquilo... eu tenho um Fusca, não quero vender e é meu carro de estimação. Agora, se depositar R$ 200 mil, leva. Isso não quer dizer que eu não vá aceitar R$ 150 mil.
É possível fazer uma arrecadação com a torcida, como foi feito no CT?
Não. É diferente... Esse negócio é em dólar, não é um valor de R$ 1 milhão. É maior. A torcida comparece, ajuda, mas a questão é a velocidade de gerar esse recurso. No CT, levamos 13 meses para arrecadar R$ 6 milhões. Fazer algo de repente pode gerar frustração. Vamos negociar para ver, vamos aguardar. Vamos com calma.
A superioridade financeira do Flamengo em relação a outros cariocas dificulta o Vasco a arrecadar?
Não temos de mirar no Flamengo. A questão de patrocínio é de percepção de marca. Se o clube e o time estão bem, a marca cresce. A empresa que vai patrocinar os caras lá, sabe que tem de pagar um valor mais alto. Mas eu não tenho de estar preocupado com isso, tenho de me preocupar em melhorar a minha marca. Aqui está crescendo. O Flamengo pode ser o que for, mas não tem torcida mais engajada do que a nossa. É um processo, tenho de cuidar do meu. Temos de brigar com a gente mesmo, não com eles.
Nos últimos tempos, o senhor se aproximou da prefeitura do Rio. Muito pela questão do CT (da cessão do terreno público). Quais os benefícios disso? O Vasco se envolve na política partidária?
O clube não se envolve em política. Acontece que o clube depende do poder público. As pessoas falavam muito do entorno de São Januário, mas eu precisava de um choque de ordem. Quem faz? É o papa? Não. É o prefeito. Todo mundo fala: teve uma época o prefeito era vascaíno, o governador era vascaíno e o presidente era vascaíno. E o Vasco não tirou proveito de nada. Eu falei com prefeito, com governador, com presidente. Eu estou preocupado com o Vasco, em trazer benefícios para o Vasco. O poder público tem de entender a importância do Vasco para a sociedade. Se hoje tem um dirigente que é do partido X, vou lá falar com ele. Se amanhã for do partido Y, vou lá falar com ele. Como eu fui com o governador. Não é só o Vasco que faz isso. E não é à toa que o Maracanã foi entregue para outros dois clubes. Pois o governante de lá veste uma camisa listrada. Entendeu? A gente tem de estar presente e brigando. Então, essa é a nossa ação com a prefeitura. A relação é institucional, e é assim que a gente faz. Se uma coisa boa é feita para o clube, a gente agradece. Se alguma coisa ruim é feita para o clube, a gente reclama. Como fizemos com o governador do Estado, até com ação judicial.
Se as obras realmente começarem no ano que vem, o Vasco jogará onde?
Acho que deve ir para o Maracanã. Para mim, o estádio é do estado. A gente terá de construir soluções. Elas existem, então, temos de ver a melhor. Se o jogo é de grande público, o melhor palco é o Maracanã. Caso contrário, se busca outras. O Maracanã precisa de taxa de ocupação alta, caso contrário ele é deficitário. Vamos buscar a melhor solução. O fato é que onde for o vascaíno vai.
Qual a sua posição sobre a MP do Mandante?
Sim, sou favorável. Já assinei a manifestação, não sei porque o Vasco não saiu nessa última divulgação. Os contratos que a gente tem com a Globo serão respeitados. Isso não quer dizer que o Vasco não possa ser favorável à lei do mandante.
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