Campeão da Libertadores em 1998, Luizão expõe confusões e afirma: "O Vasco f
Entre uma tragada de charuto e outra, o folclórico Eurico Miranda havia se habituado a protestar contra o centroavante Luizão em 1999. \"É um homem da madrugada, sempre disposto a tomar umas\", disse, certa vez, o então presidente do Vasco. O jogador (que torcia pelo Flamengo na infância) deixara o clube carioca para firmar contrato com o Corinthians. Menos de um ano depois, retornou ao Rio de Janeiro. Como adversário.
Luizão se sentia muito cansado naquela noite de 14 de janeiro de 2000, mas fez questão de permanecer em campo durante toda a decisão do Mundial de Clubes contra o Vasco. Das tribunas do Maracanã, Eurico Miranda viu o centroavante acertar o gol na disputa de pênaltis - e Edmundo errar. Para o \"homem da madrugada\", que até já poderia \"tomar umas\" na comemoração do título, tratava-se de uma vitória pessoal.
Dez anos se passaram. Luizão acordou cedo para receber a reportagem da Gazeta Esportiva.Net em seu apartamento, no bairro de Perdizes, em São Paulo. Embora com feição de sono, mas já arrumado para se exercitar, o jogador mostrou entusiasmo ao falar sobre a conquista do Mundial de Clubes. Arregalou os olhos, por exemplo, para dizer que o Vasco teve medo do Corinthians no Maracanã.
A conversa durou quase duas horas. Bastante verdadeiro, Luizão não polemizou apenas com os vascaínos. Contou ainda que o meia Marcelinho Carioca foi agredido pelo colombiano Freddy Rincón depois de forçar uma expulsão contra o San Lorenzo, pela Copa Mercosul de 1999 - apenas uma das diversas brigas que o atacante presenciou no Corinthians. Em outra confusão, quase foi o próprio Luizão o protagonista: quis bater no norte-americano Dick Law em uma reunião com a Hicks Muse, parceira do clube na época.
A sinceridade de Luizão nesta entrevista também não poupou Wanderley Luxemburgo e outros clubes. O jogador chamou o técnico de \"duas caras\". Protestou contra o tratamento que recebia no Palmeiras. Classificou o Santos como \"um inferno\". E só foi interrompido pelo toque do telefone celular. Do outro lado da linha, estava o prefeito de Rubineia (sua cidade natal): Aparecido Goulart, o Cidão, seu pai e corintiano fanático.
A família toda é corintiana?
Isso é engraçado. Eu sou flamenguista, meu irmão é vascaíno, meu pai é corintiano e minha mãe é atleticana porque gostava do Paulo Isidoro. Primeiro, fui jogar no Palmeiras, um rival do meu pai. Depois, fui para o Vasco, um rival meu, embora eu já tivesse deixado de ser torcedor. Tive uma trajetória bem curiosa nesse sentido.
Como foi a reação do restante da torcida do Corinthians? Você enfrentou alguma desconfiança por ter jogado pelo Palmeiras anteriormente?
Não porque eu já tinha ido para a Europa e feito uma história bonita no Vasco. Logo no primeiro jogo pelo Corinthians, marquei quatro gols. Todo o ressentimento, se é que existia algum, ficou para trás depois disso.
Mas você foi campeão mundial pelo Corinthians.
Todos os títulos são importantes. O Mundial talvez seja ainda mais valioso para mim, por uma série de motivos particulares. Eu tinha acabado de sair do Vasco, depois de oito meses sem receber salário, com o Eurico Miranda me esculachando. E pegamos logo o Vasco na final, no Maracanã, lotado de vascaínos.
Entrou em campo \"mordido\" por causa desse vice-campeonato?
Isso é inevitável. Quando você perde uma vez, quer ganhar de qualquer jeito na próxima oportunidade. Eu estava muito puto com o Vasco também, pois venci tudo lá e fiquei sem receber os meus salários. Fui um dos caras que mais jogaram bola naquele time. Todo mundo ganhou o seu dinheiro, menos eu.
Como você se preparou para esse reencontro com o Vasco?
Nosso time estava esgotado na decisão do Mundial, pois tinha disputado o Campeonato Brasileiro até o final de 1999, enquanto o Vasco ficou só se preparando. Passei o Natal no Guarujá e voltei para São Paulo em um teco-teco no dia 2 de janeiro. Treinamos apenas três vezes e já jogamos no dia 6. Foi uma loucura, com um jogo atrás do outro.
O cansaço do Corinthians foi determinante para o 0 a 0?
O Vasco foi covarde. Não partiu para cima, mesmo estando descansado. Chegou uma hora em que eu fiz uma falta no Viola e até disse assim para ele: \"Desculpa, Viola, é que eu não tenho mais perna para correr\". Se eles tivessem se imposto de verdade dentro do Maracanã, poderiam ter vencido. Se fosse o contrário, com a gente jogando no Morumbi naquelas condições, iríamos com tudo para cima deles.
Foi o Vasco que perdeu o título mundial, e não o Corinthians que ganhou?
Não estou tirando o nosso mérito, mas o Vasco deixou de ganhar um título importante por ter medo. A verdade é que o Vasco teve medo, sim. Porque o nosso time era bom. Eles sabiam que, se dessem espaços, a gente faria gols.
Você pediu para cobrar pênalti na decisão?
Eu estava morto quando o jogo acabou. O Oswaldo de Oliveira chegou para nós e perguntou: \"Quem quer bater pênalti?\". Respondi na mesma hora: \"Eu vou cobrar!\". E eu já estava com as meias arriadas, todo acabado.
Por que quis bater, então? Muitos jogadores se esquivaram nesse momento.
É verdade. Mas eu queria participar da hora decisiva. Achei muito legal o Edu e o Fernando Baiano, dois garotos na época, terem a mesma atitude.
Já havia programado o canto onde bateria o pênalti?
Não. Era fogo porque eu havia acabado de sair do Vasco. Na maioria dos pênaltis, chuto no canto direito do goleiro. Mas o Helton [goleiro vascaíno] me conhecia. Pensei assim: \"Vou mudar de lado porque esse filho da puta treinava comigo\". E, ainda assim, ele saltou no canto certo. A minha sorte foi ter batido bem.
Você estava nervoso na hora?
Fui muito tranquilo para a cobrança. Talvez porque Deus faça as coisas certas. Eu não podia perder aquele título para o Vasco. De jeito nenhum.
Agradecemos ao nosso colaborador Lelo Feijó pelo envio da matéria.
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