Camisa 9 na Copinha, Cícero é comparado a Adriano na Colina
Sentados no concreto do estádio, pai e filho veem o campo mais de perto - ainda sem nas obras, em São Januário. Cicero, de 18 anos, vai ter a primeira chance de mostrar que pode vestir a camisa 9 do clube, nesta quinta-feira, na estreia do time na Copa São Paulo de Juniores, contra o São Francisco (BA). Com paciência, esperou na fila de até 11 garotos, entre eles, dois de sobrenome famosos, como Rodrigo Dinamite e Romarinho de Souza Faria.
Com 1,82m e 80 kg chegou aos 13 anos em São Januário. Ainda no seu primeiro ano de juniores, Cícero surpreende pelo nível físico que apresenta, com resultados entre os três melhores da categoria. A força e o estilo de jogo o faz ser comparado a um atacante que não vive seus melhores dias.
- Acho que meu estilo de jogo se parece um pouco com o Adriano, como falam aqui para mim.
Filho do comerciante de máquinas e ferramentas João Dazzi Bobbio, Cícero ainda era criança quando decidiu deixar seu quarto, em Linhares (ES), onde tinha videogame, ar condicionado, TV e todo conforto de uma família de classe média, para morar debaixo das arquibancadas e dividir alojamento com outros sete garotos.
- Sempre tive coisas boas em casa, por isso acho ainda mais difícil largar tudo para um lugar onde tenho metade do que tinha. Mas agora é a minha oportunidade. É a hora de mostrar porque estou aqui - diz, determinado, Cícero.
O último atacante revelado nas categorias de base do Vasco, que foi campeão e titular e teve sucesso no profissional foi Valdir, que despontou no únco título da Copa São Paulo de Juniores, em 1992. No longo intervalo, poucos tiveram chances, como Allan Kardec, hoje no Santos, que não foi bem no profissional.
- Quero mudar essa história. Sei que o Vasco não forma um atacante que a torcida considera ídolo há um tempo. Estou ansioso. Quero ir bem na Copa São Paulo e aproveitar essa brecha, para subir para o profissional o mais rápido possível - afirma ele, que é descendente de italianos e passaporte para o país europeu.
Achado pelo olheiro Nelson Teixeira, falecido recentemente, Cícero foi descoberto pelo ex-jogador vascaíno Bismarck, que o empresaria há seis meses. O contrato com o Vasco, assinado em 2009, vai até setembro deste ano. Bismarck lembra que, se o Vasco não aproveitar o garoto, o mercado dele é grande na Europa.
- É um atacante de área, que vai bem de cabeça, tem uma canhota femonenal, que tem tudo para se destacar na Copinha. Tem todas características para ir bem lá fora, mas o Vasco também pode aproveitar no profissional - afirma Bismarck, que compara o estilo de jogo de Cícero ao de Leandro Damião.
´Quero a minha história, com meu suor´
João, pai de Cícero, se arrepia só de falar no sonho da vida da família: ver um estádio gritando pelo nome do filho. Para ele, seria uma emoção do tamanho do próprio nascimento de Cicero. Com a opção de um dia voltar para Linhares para cuidar dos negócios do pai, o atacante dos juniores do Vasco não pensa no dinheiro e nunca quis ajuda da família no Rio, para não se destacar dos outros companheiros, a maioria de origem humilde.
- Tem gente que diz que quer ficar rico, milionário no futebol, ir para a Arábia. Eu jogo porque gosto. Quero chegar na minha cidade, ouvir: É o Cicero, que joga no Vasco Tenho isso na minha cabeça o tempo todo - diz Cícero.
Quando chegou ao Rio e foi aprovado após duas semanas em teste, Cícero mal saída de dentro de São Januário, tamanho era o medo que seus pais tinham de que algo de ruim acontecesse ao filho. A alimentação também era um problema: algumas vezes o pai enviou dinheiro para ele comer fora do clube.
- Ter outra condição de vida não me tira responsabilidade nenhuma. Não penso em jogar e, se não der certo, estou tranquilo. Puxo fila no treino, me dedico ao máximo para não depender de ninguém. Quero a minha história, com meu suor - afirma ele.