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Cabral cita frase de Olavo: "A base está nas mãos de empresários"

Num encontro com o amigo Olavo Monteiro de Carvalho, presidente da Assembleia Geral do Vasco, alertei-o para a transmissão pela TV, dali a pouco, de um jogo do time sub-20 do Vasco com o Atlético-MG. Estabeleceu-se em seguida o seguinte diálogo: (Ele) – O problema é que os jogadores não são do Vasco. Está tudo na mão dos empresários.

(Eu) – Inclusive aquela garotada vascaína da Seleção Brasileira Sub-15? (Ele) – Aquela garotada também.

Compareci no dia seguinte ao Redação SporTV, e abordei o tema, pedindo providências do presidente Roberto Dinamite. O Vasco, em seguida, divulgou uma nota informando que, de acordo com a legislação vigente, nenhum atleta com menos de 16 anos pode ter vínculo com qualquer clube.

Saí em campo para conhecer melhor o assunto e concluí que a própria lei em vigor estimula uma farsa trabalhista que prejudica todos os clubes do Brasil. Pelo seguinte: como os clubes estão impedidos de estabelecer vínculos profissionais com atletas menores de 16 anos, qualquer um – eu, você, qualquer um mesmo – pode procurar a família do jogador e firmar um contrato garantindo participação nas futuras receitas do jovem atleta. Para usar uma expressão corrente no mercado de capitais, o negócio está aberto para quem quiser investir na baixa, com a esperança de ganhar na alta.

O investimento varia de acordo com as necessidades da família do garoto. Você pode, por exemplo, pagar dois mil reais a ele ou ao pai dele. Se você for proprietário de uma casa vazia, você pode oferecer como moradia à família do atleta, caso ela seja de outra região do Brasil. Oferece a casa de graça, mas cria, oficialmente, um aluguel que certamente não será pago, mas passará a figurar como crédito para o investidor.

Trata-se de um expediente muito comum utilizado pelos empresários e que tem sido muito rentável para eles. É que o simples pagamento de salário não impede que apareça um concorrente e ofereça mais dinheiro. Já que, com o oferecimento de uma casa para morar, o empresário compromete a família inteira do jogador.

Enquanto isso, mesmo sem a garantia de futuros vínculos profissionais, os clubes se sentem obrigados a investir na formação, na saúde e na educação da garotada. É nos clubes que o jovem atleta aprende as regras do futebol, que aprende a chutar com as duas pernas, que adquire as condições físicas para as futuras atividades e que encontra o horário adequado ao estudo e ao desenvolvimento da carreira (já fui honrado pelo Vasco com a formatura do ensino médio de uma turma que ganhou o nome de “Sérgio Cabral” e que tinha, entre os formandos, nada menos do que o craque Philippe Coutinho).

Você não acha que está na hora de ser criada uma legislação que defenda os clubes desses empresários do lucro fácil?.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal Lance)

Fonte: Jornal Lance