Torcida

Bruno Mazzeo: "O Vasco voltou a ser Vasco"

E eu voltei a ter prazer em ver o Vasco jogar. Tá, os famosos idiotas da objetividade poderiam dizer que isso é mole depois de sapecar o Flamengo, mas meu orgulho vem de antes disso. De antes até do chocolate no Botafogo recém campeão. Meu orgulho não tem a ver com os resultados propriamente ditos, até porque nenhuma taça foi levantada até agora. Tem a ver com a postura. O Vasco voltou a ser Vasco. A jogar de igual pra igual. A não temer ninguém. Eu sabia – e escrevi isso aqui – que tem vezes em que o fundo do poço se faz fundamental para o renascimento. E é isso que está acontecendo.



Começa pela torcida. Se na reta final do Campeonato Brasileiro que decretou a queda para a Segundona a torcida vinha dando show, agora durante o Carioca esse show ganhou a forma de uma parceria como deve ser quando se trata de um clube de massa. A torcida – assim como nossos amigos – tem que se fazer presente nos momentos dificeis. Há quanto tempo eu não via tanta gente usando a camisa do Vasco no dia-a-dia, com o orgulho e a cruz de malta estampados no peito! E mais do que isso: a torcida não está se metendo em questões políticas, em certidões negativas, em denúncias aleatórias. Isso agora não vem ao caso, não é da nossa alçada. O time precisa é de uma auto estima lá em cima. De segurança. De apoio. De saber que pode arriscar, mesmo que tenha que errar aqui e ali, que a torcida estará do lado. O torcedor sabe disso, está entendendo o momento. Chegou até a exibir faixas de apoio ao presidente Roberto Dinamite quando este (e sua gestão) sofreu duras críticas por parte do ex-vice de marketing. Quando e se tiver que entrar em campo na situação política, a torcida vai botar a boca no trombone. Na hora e no momento certos, de acordo com as necessidades. Hoje o que importa é o que se vê no campo. E disso ninguém tem um “ai” a dizer.

O time não é brilhante, está longe de ser o mais genial, mas é, sem dúvida, o mais competitivo desde aquele timaço de 2000, de Romário, Juninhos, Euller e cia. Não lembro do Vasco tendo dois laterais tão constantes desde Paulo Roberto e Mazinho, como são Paulo Sergio e Ramón. Um cabeça de área que saiba sair jogando, inteligente e, ainda por cima, goleador como o Nilton não me recordo de ter visto nos últimos anos, até porque isso é artigo raro no futebol de hoje em dia. E o que dizer de Elton, o melhor centroavante que já pintou pela Colina desde que Romário deixou de ser Romário? Por mais que seja capaz de perder gols incríveis depois de jogadas igualmente incríveis, não passa em branco, não se omite, está sempre por ali, prestes a marcar. E isso faz dele infinitamente melhor do que Leandro Amaral, por exemplo, que sumiu quando mais precisávamos dele. E Jefferson, camisa 10 que me lembra aquele Danilo, que andou pelo São Paulo: aparece pouco para torcida, por mais de faça gols eventuais e dê passes, mas é de uma eficiência tática incrível. Até mesmo Amaral, bonde conhecido de outros carnavais, encaixado num bom esquema vem dando conta do recado, como aconteceu um dia com Nasa. E a defesa, martírio no ano passado, é segurança absoluta hoje em dia com Titi e Fernando. Até porque tem ali atrás Tiago, praticamente excluído do elenco ano passado, de volta mais seguro, mais experiente, um líder. Sem falar em Carlos Alberto, estrela da companhia, brilhante e agora – ao que tudo indica – com a cabeça no lugar. Nenhum deles é jogador de seleção, mas juntos formam um grupo que está dando trabalho e, com certeza, vai levar no fim do ano o time de volta ao seu lugar. E aí domingo vi Corinthians x Santos, onde estavam Madson, Morais, Rodrigo Souto e me deu um alívio. Não sinto falta de nenhum deles.




Se em janeiro o discurso era de que o Carioca era um preparativo para a Série B e que não se devia esperar por títulos, dois meses depois o Vasco já aparece como um dos fortes candidatos a erguer a taça depois de seis anos. E só não teve chance de erguer a primeira por causa de uma manobra visivelmente política com os seis pontos retirados na mão grande. Mão grande e dedo, ninguém me tira da cabeça, da turminha que tava lá anteriormente e quer ver o circo pegar fogo. Porque de presidente da OAB, passando por Szveiter e chegando no presidente do Flamengo, ninguém concordou com a palhaçada.

E tudo isso de bom que vem começando a acontecer tem um grande responsável: Dorival Junior. Que técnico! Pra começo de conversa soube escolher quem contratar (e aí entram os méritos da diretoria). Não tenho dúvida de que o técnico sabia exatamente o time que queria, dentro das po$$ibilidades de um time que vai estar fora da elite. Basta ver que a escalação é praticamente a mesma desde a estréia. Tirando a entrada do Elton no lugar do Pimpão quase nada mudou. A base é essa. Todo vascaíno hoje já sabe seu time de cór, coisa difícil de acontecer até o ano passado. E mesmo quando há necessidade de substituição, seja por suspensão ou contusão, se sabe quem entra. O próprio Pimpão continua por ali, entrando e bem, quando não erra voleios bisonhos. São jogadores de quem eu nunca tinha ouvido falar. E agora não falo em outra coisa! Dizem que entre sair pra jantar com a esposa e assistir a Ituano x Mogi Morim, nosso comandante prefere a segunda opção. Isso explica como garimpa bons jogadores dos quatro cantos do país.



Pergunto: há quanto tempo o Vasco não tinha jogadas ensaiadas? Ou alguém acha que Antonio Lopes ou Renato Gaúcho eram capazes disso? Há quanto tempo não se vê um time tão unido, tão em busca dos seus objetivos. E olha que não se vê um Dorival ranzinza, respondendo asperamente às perguntas na coletiva, dando esporros públicos nos seus comandados. Mas se vê um técnico com o time na mão. Quer prova maior do que todos os jogadores comemorarem juntos os gols? Sejam eles contra o Tigres, sejam contra o Flamengo, nunca tem um ou dois no abraço. Estão sempre todos ou quase todos. A união, a dedicação, o honrar da camisa podem ser vistos nos jogos e nas entrevistas. Não se ouviu uma declaração polêmica, mesmo diante do tsunami que a imprensa vem tentando criar com o assunto “salário atrasado” estando sempre a frente de “a liderança do campeonato”. Às vezes acho que tem jornalista que queria a volta do “como era antes”, só pra poder falar mal. Pois vão ficar só querendo. Os cães ladram e o sentimento não para!



Sempre disse durante os chopps com meus amigos vascaínos que era preciso ter paciência. É claro que 20 anos de ditadura tinham que deixar estragos. E isso foi visto primeiro com a queda, junto com a crise financeira. Essas tais certidões negativas sobre as quais a gente vem lendo, fator determinante para o até então não assinado contratado com a Eletrobrás, são frutos do não pagamento de coisas de desde que o mundo é mundo. Quando boto um projeto na Lei Rouanet e vou tentar correr atrás de patrocínio para minhas peças, também tenho que apresentar essas certidões. Só que eu não só não lido com milhões, como ainda pago o que é meu dever, ano a ano. É assim que funciona com empresas estatais. Numa única ressalva à diretoria pergunto: será que só existe a Eletrobrás para patrocinar? Será que nesse tempo não dava para tentar arranjar outro? A Khalil M. Gebara, a Refrigeração Cascadura, as Organizações Tabajara? Mesmo que pagando um pouco menos? Tem horas em que vale mais um peitinho na mão do que dois no sutiã.

É flagrante que a mudança da diretoria gerou novos ares. Não há mais Romários, Edmundos e estrelas egocêntricas querendo chamar para si mais os holofotes do que as responsabilidades; não há mais aquele rodízio de técnicos sarapas, sempre os mesmos, os já conhecidos e antiquados; não há mais vetos à imprensa (tanto que esta vem fazendo sua função de tentar tumultuar com livre direito de ir e vir); e mais: há profissionalismo, vide a chegada do manager Rodrigo Caetano (outro grande reforço!), não é mais o clube de um \"dono\"; há democracia, haja vista que a oposição, liderada por Eurico Miranda, teve voz na última reunião do Conselho Deliberativo. Teve voz até para puxar o “casaca”, com os esganiçados senhores ávidos pela volta ao poder.

O novo Vasco é assim. O novo Vasco é o velho Vasco. O Vasco de todos nós. O Vasco que, mesmo que não ganhe nada, honra a camisa e luta até o fim. Como foi em toda a sua história até aqui.

O sentimento não pode parar!

E Dorival Junior pra presidente da República!

Fonte: Blog de Bruno Mazzeo - Bloglog