Imprensa

Brasileiro 2011 reúne clubes de apenas dez cidades do país

O Censo 2010 apontou que o Brasil possui mais de 190 mil habitantes. Menos de 16% deles vivem em municípios representados na primeira divisão do Brasileiro.

A 41ª edição do torneio, que começa amanhã à tarde, reúne clubes de apenas dez das 5.565 cidades do país.

É a segunda menor variedade da história. Em duas oportunidades, ambas extraordinárias, o campeonato contou com equipes de nove municípios: 1971, ano de criação do Nacional, e 1987, quando a organização ficou a cargo dos maiores clubes.

Entre os países do primeiro escalão no futebol, o Brasil é o que possui a liga mais concentrada, superando até mesmo Inglaterra e Argentina, que, naturalmente, concentram boa parte dos competidores em suas capitais.

Sem essa características, o Brasileiro deste ano até ignora Brasília, mas segrega seus clubes às capitais dos Estados. Só o Santos foge à regra.

Amigo e inimigo


Além das vantagens de estar em centros com economia mais sólida e mídia consolidada, essenciais para exposição de marcas, esses times usufruem de rivalidades locais geradas nos tempos em que os Estaduais eram o ponto alto dos calendários.

Seis das dez cidades envolvidas com a Série A possuem mais de um clube no certame. E Bahia, Coritiba, América-MG e Figueirense, os quatro que ascenderam à primeira divisão, vêm de centros já presentes no ano passado.

\"Rivalidades mais acentuadas te ajudam a faturar. Se você souber trabalhar bem essa situação, fará com que seus torcedores consumam mais\"\", afirmou o diretor de marketing do Internacional, Jorge Avancini.

De Porto Alegre vem um dos melhores exemplos de como a disputa entre dois clubes pode ser explorada.

O Inter saiu da crise na primeira metade da última década para faturar dois títulos da Libertadores alavancado por um programa de sócios, logo adaptado pelo Grêmio.

A partir daí, as duas torcidas passaram a travar uma disputa para saber qual clube captaria mais associados.

\"Se o Grêmio não tivesse esse programa, não teríamos chegado a 106 mil sócios\"\", disse Avancini. O Inter é o clube com mais associados no país -o Grêmio aparece em segundo, com 62 mil.

O pay-per-view também mostra os benefícios da dualidade. Cruzeiro e Atlético-MG, os arquirrivais de Belo Horizonte, esperam lucrar mais com venda de jogos pela TV em 2011 do que o Vasco, apesar de terem torcidas bem menores do que os cariocas.

O fenômeno é explorado até fora dos clubes. A estratégia de marketing do título de capitalização É Gol foi feita em cima do confronto entre os dados de venda para torcedores de equipes rivais.

\"Você motiva uma concorrência entre as torcidas. Uma quer comprar mais do que a outra\"\", falou o diretor de projetos especiais da Rede Record, responsável pelo título, Júlio Casares. \"O Alético-MG passou a vender mais depois que o Cruzeiro aderiu.\"\"

Solução

Até mesmo a CBF resolveu fazer uso das rivalidades. Após suspeitas de entrega de jogos na reta final dos últimos campeonatos, a confederação escalou oito clássicos para a rodada derradeira do torneio, em dezembro.

A lógica, evidente, é que o peso do encontro entre adversários é tão grande que um clube, mesmo sem objetivo na tabela, não abdicará de buscar a vitória para favorecer ou prejudicar o rival.

\"No fim do campeonato, corre-se o risco de os clássicos ficarem esvaziados. No meio da temporada, davam vigor a um Brasileiro que é longo demais\"\", criticou o vice de futebol do São Paulo, João Paulo de Jesus Lopes.

Fonte: Folhapress