Torcida

Blogueiro: Momento para a torcida acordar é agora

Nessa manhã de 22 de junho de 2013, enquanto o cheiro acre do gás lacrimogêneo ainda irrita quem passa pelas ruas e avenidas de muitas de nossas principais cidades, o número de sócios-torcedores inscritos no programa Por Um Futebol Melhor passava de 504.000 participantes adimplentes com seus clubes.

Mais de meio milhão de sócios-torcedores, um número realmente impressionante.

Mais de meio milhão de generosos contribuintes, movidos pela paixão e, agora, também pelo doce tilintar das caixas registradoras registrando descontos apreciáveis em compras rotineiras. Caixas registradoras que são quase peças de museu, já trocadas por computadores emitindo notas em sistema on line com as receitas dos estados e da federação.

Independentemente dos descontos, o que de fato motiva essas pessoas é a paixão, é o amor pelo clube de futebol do coração.

Pela paixão, os torcedores sustentam os clubes e suas engrenagens de faturamento.

Bilheteria – os torcedores vão aos estádios e deixam seu dinheiro vivo, à vista, direto no caixa.

Sócios-Torcedores: indo ou não ao estádio, mês a mês o dinheiro do torcedor entra no caixa.

Patrocínio – seja de empresa privada, seja de empresa estatal, o interesse do patrocinador é ter sua marca vista pelo torcedor (no Brasil, por enquanto, patrocínio se limita a isso, basicamente); a empresa paga pela visualização de sua marca pelos torcedores, ou seja, mudando o sentido, os torcedores com sua simples existência estão gerando receita para o clube.

Licensing e Produtos – nem é preciso dizer muito, pois a cada peça licenciada vendida para um torcedor ou para a esposa/namorada/parente/amigo do torcedor de um time, presenteado com essa peça, é, novamente, a sua ação ou a de quem gosta dele que gera receita.

TV PPV – o torcedor assina, o clube ganha, simples assim.

Direitos de Transmissão – quanto mais torcedores tem um time, mais dinheiro recebe por seus direitos de transmissão; tal como no patrocínio, também aqui o simples fato do torcedor existir é o bastante para gerar receita para seu clube.

Como no início da trilogia fantástica de “Guerra nas Estrelas”, poderia colocar aqui, se fosse um vídeo, uma legenda rolando na tela: Houve um tempo muito distante, nesse mesmo país e galáxia, em que os sócios patrimoniais e os mecenas abonados (se não for abonado é difícil ser mecenas…) sustentavam os times com seu amor e, principalmente, seu dinheiro.

Nos grandes clubes esse tempo passou. É mera lembrança de remoto passado. Clubes como Corinthians e São Paulo, donos das maiores receitas do Brasil em 2012, tem nas receitas pagas pelos sócios patrimoniais pequena parcela de seus ganhos totais anuais. No Corinthians, as mensalidades dos sócios patrimoniais responderam por 2,7% da receita total de 358,5 milhões de reais. No São Paulo, os sócios do clube geraram 6,7% da receita total de 284,2 milhões de reais.

Menos de 3% num caso, menos de 7% no outro. Em termos práticos, podemos dizer que o restante – 97% e 93%, respectivamente, foram receitas geradas graças aos torcedores do futebol. Sim, porque não conheço ninguém que torça pelas piscinas dos clubes ou pelos seus salões de festas, o que os próprios dirigentes sempre reconhecem, como fez Marco Aurélio Cunha no post anterior, ao dizer, cada um, que seu clube é futebol.

Apesar da grandeza desses números, nenhum simples torcedor, devidamente associado via programas de sócios-torcedores, tem direito a votar nas eleições da esmagadora maioria de nossos clubes. Muito menos o direito de serem votados. E tanto um quanto outro são pilares de qualquer regime democrático.

Olhando a relação dos clubes no site do programa Por Um Futebol Melhor, encontramos na liderança, com folga, Internacional e Grêmio. Em quarto lugar o Santos. Em comum, os sócios-torcedores desses três clubes têm o direito básico e sagrado de votar. E de serem votados, nos dois primeiros casos (fico devendo essa informação a respeito do Santos).

O Brasil acordou, uma vez mais, e está nas ruas clamando por muitas coisas, que vão além dos R$ 0,20 iniciais. Tirando a violência premeditada de bandidos, seguida por inocentes úteis de má índole, é um movimento bonito com milhões de brasileiros nas ruas. Querem, ou melhor, queremos todos nós que a corrupção seja combatida, que tenhamos melhores escolas e atendimento médico, queremos melhores condições de vida e, por que não, até melhor transporte por menor custo.

Isso é parte da democracia. Seria muito interessante que cada torcedor de futebol, em especial quem se associou ao seu clube do coração, pensasse a respeito de sua relação com essa entidade e começasse a deixar claro para os dirigentes que também quer participar da vida do seu clube. Tenho certeza que ninguém está preocupado com as piscinas, mas somente com o time, em todas as suas divisões.

Um dos pilares da democracia é a renovação dos quadros dirigentes, com a permanente formação e ascensão de quadros políticos. É o tal do “sopro de oxigênio”, tão necessário a países e a clubes, além de federações e confederações.

O exemplo está vindo das ruas, o bom exemplo.

O povo está participando e exigindo mudanças, como é seu direito. Esse é um bom momento para os torcedores também acordarem e exigirem de seus clubes transparência, democracia e participação nas decisões, votando e sendo votados, pelo bem dos próprios clubes. Porque quem sustenta tem o direito de participar.

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