Blogueiro comenta briga entre torcidas no Mané Garrincha
Ao ver algumas imagens infames, nojentas e vergonhosas da briga de alguns torcedores no intervalo do jogo Vasco x Corinthians, em Brasília, me precipitei para o teclado. Era preciso escrever algo. Algo o quê? Ainda não sei. É preciso que todos nós escrevamos algo. O passado ensinou que as letras conseguiram superar as trevas. Por mais demorado e doloroso que tenha sido o caminho até a luz.
Vi e revi valentões equivocados, pulando pela arquibancada, lutando entre si e sem causa alguma. Tive vontade de vomitar. Torcer para um time é paixão. Só. Não é causa nem social nem política. O mundo não muda se o Flamengo ganhar, o Corinthians empatar ou o Grêmio perder. O que mudou hoje foi a vida dos que foram ao Mané Garrincha ver um jogo de dois gigantes do futebol brasileiro e acabaram testemunhando a pequeneza intelectual de alguns. Idosos tropeçavam ao fugir da confusão. Meninos e meninas, estreantes em estádios, buscavam aflitas a orientação dos pais que, claro, nem sabiam para onde ir ou se proteger.
Brigar pelo seu time de futebol é uma das maiores burrices da sociedade pós-moderna e carente. É fenômeno novo. Dos anos 70 para cá. A desilusão com a própria incapacidade de refletir gerou estes monstros do cimento. O que antes era amar o futebol virou idolatrar cegamente certas cores específicas. Alguns países conseguiram domar seus selvagens. Outros não.
E vejam só a triste ironia sociológica. Logo Vasco e Corinthians. Logo cariocas e paulistas, que há pouco tempo revolucionaram a forma de fazer política no país. Nada mais fantástico para os cientistas sociais estudarem o protesto feito na Avenida Paulista, por paulistas, contra o governador do Rio de Janeiro. Uma incrível demonstração anti-bairrismo. A causa solidária exercida surpreendentemente numa sociedade tão egoísta.
Continuo jorrando ideias conexas e desconexas. O importante é escrever. Escrevam. As imagens de Brasília continuam a martelar minha cabeça.
O texto começou falando de imagens. Imagens violentas e tristes.
A perspectiva histórica nos ensinou que algumas imagens são capazes de mudar o mundo. O cidadão chinês à frente do tanque, a menina vietnamita correndo do bombardeio americano, a execução sumária de um vietcong, a criança sudanesa esquálida espreitada por um urubu e tantas outras que, ao chocarem o mudo, exigiram mudanças.
Calhou da imagem mais pérfida dos últimos tempos no futebol brasileiro tenha sido captada na capital do país.
Um pai, aflito, tenso, procurando manter a calma e dois lanchinhos em equilíbrio. Com um instinto que só os pais entendem, ele cobriu a filha com o próprio corpo. Se viesse uma bala, uma barra de ferro, um soco ou outro fruto qualquer da selvageria acima, seriam suas costas o escudo protetor da menina. E ainda se preocupava em proteger a comida que comprara para a criança.
Dane-se o futebol. Estamos falando daquele pai. Daquela filha. Do século 21.
Podia ser um de nós.
Podia não. Aquele pai era cada um de nós. E a filha também. Somos os que protegem e os que precisam de proteção.
Que esta imagem mude tudo.
E que nos faça escrever.
Escrevam.
Fonte: Garamblog - ge