Futebol

Bastidores da passagem de Serginho, emprestado pelo Vasco, no Criciúma

As palavras de Cláudio Tencati ao final do jogo derrubou uma ruína que existia no Criciúma Esporte Clube. As frases formuladas vindas de um técnico que se mostrava mentalmente esgotado foi o estopim de uma bomba que explodiu. Mas, afinal, o que aconteceu nestes bastidores do elenco, da direção, do futebol!? Para um time que tinha 37 pontos na rodada 31 e somou apenas um ponto em 21 em disputa, algo aconteceu.

Na última semana, conversei com pelo menos oito pessoas ligadas ao time, direta ou indiretamente, para entender os últimos fatos. Obviamente não descobri tudo, mas algumas situações mostram o porquê o Tricolor foi rebaixado. Vamos lá!

CADÊ O CAFAJESTE!?

Após o empate contra o Fortaleza, em casa, Tencati foi questionado na coletiva sobre uma situação envolvendo Yannick Bolasie, a qual indagava se o atacante estava mais preocupado com a rede social do que o time dentro de campo. 

“Não existe nada disso, na verdade, têm uns cafajestes que trabalham dentro do clube, nós vamos descobrir ainda. Vazaram, também, o telefone do nosso executivo. Aqui dentro não vai entrar enquanto eu for treinador. Têm uns que vamos pegar”, repudiava Tencati. 

Essa fala foi no dia 24 de julho. Um dia depois, o gerente de futebol, Alex Brasil, foi demitido. Alguns jogadores quiseram entender, mas a atual gestão com a comissão técnica conseguiu contornar essa mudança. O Tigre venceu o Juventude fora e o Atlético Mineiro em casa.

JOGADORES PEDEM À VOLTA DE JULIANO CAMARGO

Após o jogo do Juventude, Juliano Camargo foi apresentado no dia 5 de agosto, mas já trabalhava no time desde o final de julho para trazer reforços. A vinda dele foi uma escolha do grupo de jogadores e teve o convencimento de Éder para fazer o presidente Guedes mudar de ideia. No programa Visão de Jogo, no ano passado, Guedes foi enfático ao dizer que, enquanto fosse presidente, Juliano Camargo não trabalharia mais no clube. 

“Eu gosto das coisas muito claras, mas eu defendo a bandeira do Criciúma, por tudo que o Juliano representa, pensando no clube, trouxemos ele de volta”, relatou o então presidente, Vilmar Guedes. Neste mesmo dia, o Tigre apresentou Éder como gerente de futebol.

A PRESSÃO POR REFORÇOS

Os dias passaram, o Criciúma oscilava dentro de uma normalidade e tudo transcorria normalmente. Mas aí veio a janela de transferências. A pressão para trazer reforços era grande e o Criciúma contratou seis peças: Dudu, Patrick de Paula, Jonathan Robert, Serginho, Werik Popó e Pedro Rocha.

Dudu era um jogador que já vinha sendo negociado por Alex Brasil; Pedro Rocha tinha sido especulado no meio do ano e, Éder, na negociação, ajudou na vinda dele. Os outros têm a digital do Juliano Camargo, que chegou a informar, em entrevista para a Rádio Eldorado, que o atacante Serginho foi indicação do técnico Cláudio Tencati.

NÃO ERA LESÃO

Logo quando chegou, Serginho fez uma atividade no Centro de Treinamento e, no outro dia, não apareceu no campo. A informação do Criciúma foi que o atleta tinha se lesionado. Mas não. Nós recebemos a informação que o jogador ingeriu uma substância que cairia no doping, caso ele fosse sorteado a fazer o exame antidoping. Isso já gerou um desconforto interno, porque o volante Eliel também já tinha caído no doping no jogo contra o Fluminense e o clube chegou a realizar palestras internas para que isso não viesse ocorrer. Por isso ele ficou um tempo sem ser relacionado.

‘NÃO CHEGUEI DE UM TIME DO INTERIOR DE SÃO PAULO’

Quando passou o tempo de que pudesse entrar em campo, Serginho não foi escolhido por Tencati. Aí veio o primeiro combate. O atleta foi cobrar do comandante ao dizer que não tinha vindo de um time do interior de São Paulo para ficar no banco do Criciúma. A cobrança foi forte e já destinava que a gestão de grupo de Tencati, que, em três anos foi o grande artifício, começaria a ruir.

‘ESTRUTURA MUITO RUIM’, AFIRMA DE PAULA

O comandante tinha o controle do elenco que estava, mas não conseguiu justificar para os reforços que eles não eram titulares naquele momento. Os jogos passavam, os contratados não entravam e os conflitos internos aumentavam. Patrick de Paula começou a reclamar da estrutura do clube, seja do Heriberto Hülse, do Centro de Treinamento ou até do hotel em que o time ficava, no bairro São Luiz.

Tencati chegou a ouvir do próprio atleta as críticas, as broncas e, também, foi cobrar satisfação junto ao jogador, contudo, não conseguiu dar jeito. Era mais um jogador insatisfeito a ficar como opção, e não como titular.

Mas ainda assim os resultados aconteciam e tudo passava. É aquele ditado, “quando a bola entra, tudo se resolve”. Acho que o ditado é assim, eu, hein!

DEPARTAMENTO ISOLADO

Neste momento, não descobri quando e porquê, e se alguém estava certo. É que o presidente Vilmar Guedes isolou o departamento de futebol. Não que ele não ouvia, mas não apenas concentrava as decisões com a dupla Juliano e Éder para definir qual caminho seguir no mundo da bola. Um exemplo claro ficou no empate contra o Botafogo. O gol no final foi motivo de muita comemoração, afinal, empatávamos contra o líder.

Aí eu não entendi muito bem se foi uma promessa ou uma cortesia de fornecer um ‘bixo extra’ para o grupo de jogadores pela insistência e pela forma que atuou em campo. Éder foi falar com Guedes para pedir o incentivo, mas o mesmo o ignorou nesta situação, e do pedido de ofertar uma grana para os atletas. 

“Adoro o presidente Guedes, me ajudou demais, e eu não estou atacando ele, estou falando que as pessoas que estiveram à volta dele tiveram uma influência terrível, e talvez ele, em alguns momentos de fragilidade, de resultado, ficou ouvindo essas pessoas. É uma pessoa que tenho um carinho enorme”, palavras do Tencati após o jogo contra o Bragantino mostrando que, internamente, o clima já vinha ruim há um bom tempo.

‘A VACA ESTÁ INDO PRO BREJO’

Dali em diante a bola não começou a entrar, e a cobrança do presidente Guedes pra cima da diretoria do futebol foi forte. “A vaca está indo para o brejo, eu ofertei tudo o que vocês pediram e nós vamos cair!?”, disse o presidente em uma das reuniões, segundo o comentarista Renato Semensati, da Rádio Eldorado. 

Na reta final, em certos momentos, até água para irrigar o campo do CT faltou, conforme Tencati em coletiva. O clube pagava, em torno de 120 mil reais, o ponto para o elenco ficar na Série A, e aumentou a premiação pela permanência na reta final.

RENÚNCIA DE VILMAR GUEDES

Ah, neste meio tempo, teve a confusão entre Allano e Tencati, que foi forte e já mostrava o grupo rachado. Meritão também, muito insatisfeito, pediu para sair e até chegou colocar em rede social após a derrota do Criciúma contra o Corinthians que a “arrogância precede a queda”. Tudo ruiu para um time que foi rebaixado. 

Sem aguentar a pressão interna e por problemas familiares, como Guedes informou em entrevista ao Márcio Cardoso, da Rádio Eldorado, o então presidente anunciou a renúncia.

O Tigre perdeu para o Flamengo em uma quarta-feira, dia 4. Na quinta, de manhã, convocou uma reunião com os pares de direção, no Heriberto Hülse. Quem foi convocado imaginava que a ação era demitir Tencati. Contudo, ele pediu para sair. Até o pronunciamento ocorreria na parte da manhã, mas ele foi, parcialmente, convencido a mudar. Saiu do pátio do Majestoso rapidamente para a sua família e lá tomou a decisão.

Na Alianda, recebeu o repórter Márcio Cardoso e ali comunicou a sua saída. Jogadores, diretores e comissão técnica, ninguém entendeu. Algumas pessoas do clube que viram a postagem no Instagram do Tabelando e no Portal Engeplus me chamaram para perguntar se era verdade. Ali era o ponto final de um time que jogava a Série A.

Uma equipe que fez um primeiro semestre de um time gigante e um segundo semestre deplorável. Por vaidade e ego, conforme disse o treinador Tencati, o Tricolor terminou rebaixado para a Série B. Que o próximo ano seja melhor, seguimos tendo fé!

Engeplus

Foto: Leandro Amorim/VascoSerginho
Serginho

Fonte: Engeplus.com.br