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Baixa arrecadação ajuda a explicar problema com o fluxo de caixa do Vasco

O atraso no pagamento de parcelas da compra de alguns jogadores, além da dívida com Andrey Santos e empresários, preocupa torcedores do Vasco. Onde está o aporte feito pela 777 Partners? O cenário pode afetar o investimento ao longo da temporada?

Antes de tudo é importante ressaltar que o Vasco priorizou manter o funcionamento do clube, com os salários e as parcelas do RCE em dia, por exemplo, e, para isso, teve que descumprir prazos e renegociar pagamentos. A SAF trata a situação sem alarde, havia previsto alguns atrasos e confia na regularização dessas dívidas nos próximos meses.

Por outro lado, isso obviamente coloca em risco as finanças. Clubes afetados, como Atletico Tucumán-ARG e Nacional-URU, cogitam acionar a Fifa caso os pagamentos referentes a Capasso e Pumita, respectivamente, não sejam regularizados. O estafe de Andrey Santos ameaça ir à Justiça, caminho que também é considerado por empresários que estão sem receber comissões. A situação afeta também a credibilidade da SAF, que garantiu uma nova era para o Vasco.

O que foi feito com o aporte?

O acordo prevê que a 777 invista R$ 700 milhões até 2025. A primeira parte foi aportada em setembro do ano passado: R$ 120 milhões. Mas, antes da constituição da SAF, o grupo americano havia adiantado R$ 70 milhões através de um empréstimo-ponte. Boa parte desse montante foi usada para colocar as contas em dia.

Empréstimo: R$ 25 milhões para encargos salariais (salários, férias e 13º atrasados); R$ 5 milhões para custos e despesas diversos; R$ 5 milhões para compra e empréstimo de atletas; R$ 35 milhões para dívidas de outras naturezas (acordos e parcelamentos, amortização de empréstimos e amortização de mútuos). Veja aqui a descrição do uso do dinheiro.

Primeiro aporte: dos R$ 120 milhões aportados pela 777 em setembro de 2022, o primeiro balanço financeiro da SAF aponta que 32% do valor foi destinado aos custos operacionais (correntes ou atrasados) e "mais da metade" serviu para pagamento de dívidas. Sobre contratações, o relatório informou apenas que as negociações geraram um total a pagar de US$ 3,3 milhões (R$ 16,6 milhões) em comissões a agentes e cerca de US$ 1,2 milhão (R$ 6 milhões) em luvas para atletas.

Acabou o dinheiro?

Os atrasos não significam que o Vasco está sem dinheiro. Quando o clube alega que tais dificuldades se dão pelo fluxo de caixa quer dizer que, até então, saiu mais dinheiro do que entrou. A baixa arrecadação, com receita operacional líquida de R$ 47,4 milhões entre agosto e dezembro de 2022, era esperada. Afinal, com o time na Série B, a previsão de lucro era baixa. A expectativa é melhorar ao longo dos anos com a participação em competições sul-americanas.

O fluxo de caixa é um termo indispensável da gestão financeira. Basicamente significa o que você recebe e o que paga em seu negócio. Com receita muito abaixo das despesas e o aporte da 777 comprometido quase em sua íntegra por custos operacionais e dívidas, como foi então que o Vasco investiu tanto na janela de transferências?

O departamento de futebol atacou o mercado priorizando o pagamento em parcelas para não interferir no fluxo de caixa da empresa. Foram investidos cerca de R$ 110 milhões em 16 reforços, mas a grande maioria das aquisições de direitos foi feita de forma parcelada.

E o próximo aporte?

A preocupação é com o investimento no futebol, que deveria ser prioridade da SAF e fundamental para o sucesso dentro e fora de campo nos próximos anos. O próximo aporte da 777 acontecerá em setembro, portanto um mês depois do fechamento da segunda janela de transferências.

Previsão de injeção dos R$ 700 milhões na SAF:

  • 2022: R$ 70 milhões (empréstimo) + R$ 120 milhões (1º aporte)
  • 2023: R$ 120 milhões (2º aporte)
  • 2024: R$ 270 milhões (3º aporte)
  • 2025: R$ 120 milhões (último aporte)

É provável que parte desse valor seja usada para quitar compromissos firmados nos últimos meses, além de custos operacionais. Com base no fluxo de caixa, a SAF vai apostar na geração de receitas para manter o investimento no elenco e no funcionamento do clube.

SAF vale R$ 1,7 bilhão?

- A 777 Partners se compromete a comprar 70% da SAF do Vasco numa injeção de R$ 700 milhões. O valor total da SAF, portanto, seria de R$ 1 bilhão (+ os 30% que ficaram com o clube). Além disso, o fundo americano se propõe a saldar a dívida do clube, hoje em R$ 700 milhões. Ou seja, estamos falando de um montante de R$ 1,7 bilhão. Não há nada igual ou perto disso no futebol do Brasil.

A declaração acima foi dada pelo vice-presidente do Vasco, Carlos Roberto Osório, durante o período de negociação com a 777. O valor total da SAF é outra dúvida que os atrasos recentes provocaram na torcida. A empresa pagará R$ 700 milhões por 70% do futebol e se comprometeu a assumir até R$ 700 milhões da dívida do clube. Isso significa que a 777 vai injetar R$ 1,4 bilhão?

Na verdade, não. O compromisso é de investimento de R$ 700 milhões da maneira detalhada acima. A ideia é que o pagamento das dívidas aconteça com as receitas geradas pelo próprio clube. No balanço financeiro da associação já consta a transferência desse passivo para a SAF. O clube associativo passou a informar dívida líquida em torno de R$ 25 milhões, um valor irrisório em comparação ao que era antes da venda do futebol para a 777.

E o dinheiro da venda do Andrey?

Principal joia do Vasco nos últimos anos, Andrey Santos foi negociado com o Chelsea em dezembro de 2022. O clube inglês pagará no total 12,5 milhões de Euros (cerca de R$ 68 milhões) pelo volante. Na negociação, ficou acertado que a SAF repassaria R$ 12 milhões ao jogador, o que não aconteceu - esta é uma das dívidas do clube que vieram à tona esta semana.

O Chelsea negociou o pagamento ao Vasco em duas parcelas: 6,25 milhões de Euros (R$ 34 milhões) já caíram na conta do clube. A segunda parte será quitada em janeiro de 2024. A SAF precisa repassar 30% de cada parcela a Andrey.

Vale destacar que a venda do atleta não estava prevista no orçamento da SAF e caiu como um extra nos cofres do Vasco. Mas onde está o dinheiro? A transação não foi registrada no último balanço financeiro e só será lançada no relatório do ano que vem. O relatório apenas apontou receita de 1,5 milhão de euros (R$ 8,3 milhões) com a cessão de direitos econômicos, mas sem especificar de qual negociação esse dinheiro é oriundo.

Fonte: ge