Autuori revela frustração e discursa em tom de despedida
Nos quase dez minutos de entrevista improvisada no saguão do aeroporto Santos Dumont, o técnico Paulo Autuori foi questionado se ainda havia chance de permanecer em São Januário. Calmamente, o ainda treinador do Vasco disse que se sentia triste e impotente com a situação atual do clube e que a sua decisão não seria revista, apesar dos apelos da direção e do amigo e diretor de futebol Ricardo Gomes. O destino deve mesmo ser o São Paulo.
Autuori disse que tomou sua decisão às 12h da última sexta-feira, prazo final para o cumprimento da promessa de pagamento dos salários atrasados a funcionários e jogadores. E que a comunicou por e-mail, às 18h, ao diretor geral Cristiano Koehler.
- As pessoas estão sempre à espera que o Paulo pudesse empurrar um pouco as coisas com a barriga. Mas nesse momento se eu dissesse que estou acreditando, como acreditei em outros momentos, estaria mentindo - disse Paulo Autuori.
Sem dizer claramente em todo o momento da entrevista que estava fora do Vasco, apesar dos insistentes questionamentos, Autuori, por outro lado, mostrou que pode mesmo estar saindo de São Januário para o Morumbi.
- Nos últimos anos o São Paulo me procurou algumas vezes e hoje eu estaria feliz da vida se pudesse dizer \"não\" de novo, porque estaria confortável no clube em que estou. Mas não estou confortável. Uma vez resolvida a situação com o Vasco, estou aberto a qualquer possibilidade - afirmou o treinador.
O diretor geral, o diretor de futebol e o presidente Roberto Dinamite ainda vão se reunir com Paulo Autuori, mas o treinador deixou bem claro que não mudaria sua decisão. A virada do semestre e a promessa furada de pagamento no dia 5 de julho foram determinantes na escolha de Paulo.
- Na sexta-feira (5 de julho) foi uma frustração enorme para todo mundo. Era prazo que foi dado para regularização... Havia uma expectativa enorme dos jogadores, como havia também a expectativa dos jogadores em relação à posição que eu iria tomar, porque eu tinha compromisso com eles. Eles sabem, as pessoas que estão envolvidas no grupo sabem. Sempre tomei posições em relação à minha responsabilidade como técnico. Não seria diferente em qualquer outra situação, como não foi nessa - disse o treinador.
Na entrevista em que ratificou sua decisão de deixar o clube, Paulo mostrou preocupação com o futuro do Vasco, tirme para o qual torcia na infância e na adolescência, mas que ele vê, hoje, \"imobilizado\" em uma crise sem precedentes no centenário clube de São Januário.
- A minha maior tristeza é me sentir completamente impotente. Esperava poder ter, junto com outras pessoas, muito mais capacidade de ação. Mas tem momentos na vida que transcende a realidade. O Vasco transcende o futebol, as pessoas, a situação, a oposição, a situação do Vasco hoje precisa de todos para tirar o clube dessa imobilização. Esse clube é muito grande, tem uma história linda, uma torcida fantástica, mas que tem que ser confrontado com a realidade - afirmou o treinador, que fez apenas 13 jogos pelo time.
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