Autuori reclama de estrutura, jogos fora do RJ e idas a Pinheiral
Paulo Autuori estava disposto a desabafar. Terminado o treino do Vasco na última sexta-feira, o técnico fez questão de colocar claramente seu ponto de vista em relação à falta de privacidade no Cefan (Centro de Educação Física Adalberto Nunes), onde o time vem treinando. O comandante se posicionou quanto ao atraso de salários e deu um prazo limite.
Não parou por aí. Fez questão de mostrar descontentamento sobre como o futebol brasileiro vem sendo conduzido em relação ao tratamento com os jogadores. Para o treinador, é inadmissível ter de viajar com o grupo para que ele se mantenha concentrado num objetivo. É o que vai acontecer a partir de segunda-feira, quando o grupo do Vasco embarca rumo a Pinheiral, no Sul fluminense, nos dias que antecedem a retomada do Campeonato Brasileiro (o Vasco visita o Internacional, dia 7). A viagem está marcada, mas o técnico não concorda.
- Minha opinião é muito clara quanto a isso. Não vai mudar porque é conceitual. Temos que ter nossa casa. (No Brasil) para ganhar foco tem que sair da sua casa, do seu habitat. Você não precisa disso. Não adianta toda hora que precisar focar em um jogo você isolar a pessoa. Sou contra isso. Se o cara não tem capacidade de estar focado o tempo todo, não tem que estar no grupo. Simples assim. Eu não posso aceitar que cada vez que estivermos focados temos que ir para Pinheiral. Os momentos de ir a Pinheiral ou qualquer outro lugar são momentos específicos, não pode ser uma rotina. Se tiver que se isolar para se concentrar fica difícil.
Uma saída encontrada pelo treinador para evitar este tipo de concentração é identificar o perfil correto de atletas para o elenco.
- Para isso é saber eleger os jogadores que vierem e eleger os que estão aqui e que se enquadram ou não nessa postura. Você tem que botar o cara para fazer dois treinos numa sexta-feira. Aqui no Brasil tem muito isso. Vai botar o cara para saber se ele vai sair ou não. Está na hora de dar responsabilidade para as pessoas. Se não der isso, não adianta sair para a rua para protestar - disse Paulo Autuori, referindo-se às manifestações por todo Brasil.
O técnico aproveitou para fazer mais um debate quanto ao modo que vem sendo conduzido o futebol brasileiro. Ao ser questionado sobre o clássico com Flamengo, no dia 14 de julho, pela sétima rodada da Série A, ele entrou na questão de clássicos estaduais serem disputados fora do seu estado - o local da partida entre Fla e Vasco ainda não foi definido.
- É uma outra situação que o Brasil está descaracterizado. Tem um lado legal, que o pessoal do outro estado pode ver os jogos, mas a maioria torce para o time de lá. Isso descaracteriza. Você já viu clássico do Rio fora do Rio? E estão achando uma maravilha, que vai ganhar uma grana lá. O certo é você estar dentro do seu estado jogando e proporcionando aos torcedores das duas equipes envolvidas assistirem ao clássico.
Autuori aproveitou para citar as manifestações do povo brasileiro nas ruas contra corrupção e o aumento da passagem de ônibus, entre outros temas, para traçar um paralelo com o futebol.
- É um caminho perigoso que o futebol brasileiro está caminhando. Está caminhando porque precisa de dinheiro. O povo está saindo nas ruas por causa disso. O futebol não pode ficar alheio a isso, pagando salários astronômicos porque a torcida acha que tem que trazer um grande jogador. Aí o clube quebra. É preciso falar isso, não é para ter medo.
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