Arena da Amazônia, palco de Fluminense e Vasco, acumula prejuízos
Atolada à beira do Rio Negro, sem perspectiva de lucro no horizonte e com gastos de R$ 4 milhões por ano com manutenção, a Arena da Amazônia é o estádio relegado da Copa do Mundo. Os números decrescentes de público e jogos atualizam o status de elefante branco continuamente. A disputa pela Taça Guanabara entre Fluminense e Vasco, hoje, às 16h, tem relevância, mas não ajuda a referendar a obra de R$ 700 milhões, injustificável na Manaus sem tradição no futebol.
Na contagem regressiva das partidas, fica exposta a confirmação da teoria sobre a desnecessária construção de um estádio em Manaus. Em 2014, foram 14 jogos, incluindo os quatro da Copa do Mundo. E todos da primeira fase. No ano seguinte, foram 11, contando os três do Torneio Super Series, um campeonato organizado em janeiro com São Paulo, Vasco e Flamengo com o objetivo de não deixar o estádio fechado no primeiro semestre. Este ano, são seis jogos até agora, com este Flu x Vasco.
Para preencher as seis datas de 2016, foi preciso criatividade. O estádio serviu de campo para um amistoso beneficente entre Amigos de José Aldo e Amigos de Antônio Pizzonia (32 mil pessoas), uma partida de futebol feminino e dois jogos da Copa Verde. Em um deles, entre Fast e Águia de Marabá, o público pagante foi de 692 pessoas (R$ 6.920 de renda). Em um amistoso, entre Nacional e Genus, ainda menos torcedores compraram ingressos: 395 (renda de R$ 4,5 mil). O recorde do estádio, com capacidade para 44 mil, é Honduras 0x3 Suíça, com 40.322.
A ausência dos chamados jogos de grande apelo para a torcida e de times locais competitivos explicam a derrocada anunciada. O Nacional, a principal equipe, não frequenta a elite do Brasileiro desde o final dos anos 1980 e disputa atualmente a Série D. Sem representatividade, os manauaras adotaram os times do Rio, responsáveis pelos maiores públicos fora Copa do Mundo — Botafogo x Flamengo, em 2014, deu 39 mil pessoas (R$ 4.118.040 de renda). Mesmo assim, a média anual de presença, segundo levantamento do blog manauara “Bola pro Mato”, caiu de 27 mil, em 2014, para 11 mil, em 2015, e está em 8,2 mil este ano. No total, média de 15 mil em 31 jogos desde a inauguração (552 mil pagantes).
Somente o Corinthians vendeu, este ano, em oito partidas como mandante (sem contar a de ontem com o RB Brasil), 260 mil ingressos e tem média de 32 mil torcedores.
Diante deste quadro, o governo do Amazonas pensa em privatização. Embrionária, a ideia precisa de subsídios para dar consistência ao edital de licitação e convencer as empresas a participarem da concorrência. Enquanto não acontece, a Secretaria Estadual de Esportes busca atrações esportivas e culturais para dar sentido ao termo multiúso da Arena.
PRESSÃO POR ISENÇÕES
Em paralelo a esse trabalho, há uma estratégia de difícil convencimento para a prefeitura de Manaus isentar os times mandantes da cobrança do Imposto Sobre Serviço (ISS), de forma que equipes do Rio possam marcar mais jogos no estádio até o fim do ano. O próprio governo do Amazonas diz ter feito a sua parte para manter o interesse econômico dos cariocas no estádio durante o Brasileiro, apesar da distância de 4 mil km e quatro horas de voo.
— A intenção é mudar o quadro, captando mais jogos do Rio. Antes, os times pagavam o custo do aluguel, de R$ 160 mil, mais 10% da renda bruta, outros 5% para a federação local e também 10% para o fundo estadual do esporte. Além da estrutura de segurança e do quadro móvel. Era pesado. Hoje, pagam os funcionários do quadro móvel e 10% do valor bruto da renda. Tivemos que abrir mão da renda fixa para ganhar no volume e manter a Arena — disse Fabrício Lima, secretário estadual de esportes do Amazonas.
Em contato permanente com os quatro grandes clubes do Rio, o secretário, que assumiu a pasta há um mês, não enxerga outra possibilidade de tornar viável a Arena que não passe pelo futebol carioca. A outra opção é a privatização.
— Algumas empresas se interessaram, mas ainda não tem edital. Por isso, estou sempre em contato com o Rio, que tem público aqui. Queremos fazer de 11 a 12 jogos do Brasileiro, séries A e B aqui em Manaus, aproveitando a falta de estádios com a utilização do Maracanã e do Engenhão para os Jogos Olímpicos. As condições já são mais favoráveis, mas tem que ser bom para o clube e também para o estado — explicou o secretário.
Um olho na tabela, outro na planilha. Enquanto procura por datas, o secretário tem que achar um jeito de pagar as contas. Somente com energia, o custo anual é de R$ 800 mil. Fora funcionários, manutenção de gramado, abastecimento de água...
— Eu ainda estou fazendo o levantamento real. Sei que, fechada ou aberta, o custo é o mesmo. Então, decidi diminuir o aluguel da área externa de R$ 40 mil para R$ 20 mil, para que seja multiúso de fato, com a organização de eventos e shows — disse Lima.
Em uma mobilização semelhante ao lobby junto à CBF e à Fifa para derrotar Belém e ser sede da Copa, Manaus mais uma vez venceu a cidade rival e será uma das cidades a receber seis partidas do torneio de futebol masculino e feminino das Olimpíadas: apenas um do Brasil, da equipe das mulheres. Mas a movimentação financeira, segundo Lima, não irá irrigar os cofres do estádio.
— Vai mexer com a economia local, com a ocupação de hotéis, turismo etc. Quanto à Arena, não muda, porque o Comitê Olímpico Internacional (COI) não paga nada — afirmou o secretário.
Fonte: O Globo OnlineMais lidas
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