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Aprovado nos gramados, Allan se esforça para passar de ano na escola

Para a tristeza de Allan, o título brasileiro da Segunda Divisão não conta pontos quando o assunto são as questões de Matemática, Português e História. Aprovado com louvor no primeiro ano como profissional do Vasco, o jogador ainda não está totalmente em férias. Aluno do 3oAno do Colégio Percepção, em Irajá, Allan se esforça para compensar o tempo perdido e concluir o Ensino Médio.

Sem assistir às aulas desde julho por conta da rotina de treinos, viagens e concentrações, Allan recebeu uma série de trabalhos dirigidos para compensar o tempo fora da escola. O jogador está sendo acompanhado por professores e terá até o dia 22 de dezembro para entregar os exercícios. Pelo menos em uma matéria ele já está aprovado.

– O melhor dia era o de Educação Física. Eu jogava futebol toda quarta e quinta – afirmou o fominha.

Indiretamente, Allan se afastou dos estudos por causa de Dorival Júnior. O treinador observou Allan entre os juniores e chamou o garoto de 18 anos para treinar com a equipe principal. A primeira chance apareceu em setembro, contra o Atlético Goianiense. A partir daí, a presença de Allan na sala de aula se tornou praticamente impossível.

– Olha, o pior é que senti falta da escola, das aulas e dos amigos. Quando eu era dos juniores, treinava de manhã e estudava à tarde. Mas isso é algo que escolhi para mim, é um sacrifício que valerá a pena – afirmou.

Nos corredores do colégio, Allan é descrito como bom rapaz. A popularidade é visível, mudança radical na vida de quem passou a vestir a camisa de um dos maiores times de futebol do país da noite para o dia. Entre os professores, Allan também goza de prestígio. Ainda assim, não há privilégios. Existe sempre espaço para o bom e velho puxão de orelhas.

– Eu sempre disse que ele é um abençoado. O mais importante é seguir calçando as sandálias da humildade. Ele não é bagunceiro, mas gosta de falar em sala, ser o centro das atenções – brincou a professora Simone, de História e Geografia.

A trajetória de Allan no Vasco e na escola
O começo Filho mais velho de uma família de oito irmãos, Allan começou a chamar a atenção de Dorival Júnior e fez a estreia com a camisa do Vasco no segundo tempo da partida contra o Atlético Goianiense, em 5 de setembro.

Guinada Morador de Ramos, nos arredores do Piscinão, Allan teve a rotina alterada graças à inclusão no grupo profissional.

O jogador, de 18 anos, passou a ser reconhecido nas ruas do bairro.

Responsabilidade Já firme no elenco do Vasco, Allan visitou o colégio, foi recebido com festa e encaminhado a cada sala pela diretoria para servir de exemplo aos alunos mais novos. Um menino do Ensino Fundamental perguntou se era o Kardec

\"Buscamos atrair os alunos pelo futebol\"

Aloísio da Rocha, coordenador geral do colégio

Trabalho no colégio há 30 anos e sempre procuramos fazer esse trabalho especial com alunos de alto desempenho esportivo. Eles têm aulas na parte da tarde, enquanto os outros alunos assistem às aulas de manhã. Além disso, são todos eles bolsistas. Eu me lembro de uma propaganda que mostrava uma criança sendo pescada pela escola e a isca no anzol era uma bola de futebol. É exatamente isso que tentamos fazer aqui. Tentamos atrair os alunos com a prática esportiva e aliar as duas partes. Já fizemos excursões por vários lugares do mundo, entre eles Dinamarca, Argentina e Estados Unidos.

Bate-bola com Allan

O que mudou desde que você virou titular do Vasco?
No colégio, todo mundo vem falar comigo, o pessoal me zoa, elogia. Há torcedores do Flamengo que dizem que ser campeão da Segunda não vale, mas é tudo brincadeira.

E com as meninas?
As mais novas me procuram mais, pedem para tirar foto comigo, pedem autógrafos. Teve uma que me abraçou e disse “Ai, que calor!”.

E como vai ser agora? Vai conseguir passar?
Olha, o pessoal aqui me ajuda muito. Quando passei a jogar com os profissionais, eu avisei a eles, que entenderam a situação. Vou estudar estes dias para poder terminar o ano.

Pedrinho e outros craques foram alunos
Allan não é o primeiro jogador vascaíno a estudar no Colégio Percepção. Pedrinho, ainda criança, jogou bola pela escola enquanto fazia parte das divisões de base do Gigante da Colina. Outros jogadores também conhecidos passaram pelo colégio, que tem projeto voltado para alunos de alto desempenho.

Os rubro-negros Erick Flores, Lennon e Guilherme Camacho estudaram com Allan antes de também serem obrigados a interromper os estudos por conta da rotina no Flamengo. Paulo Sérgio, atualmente no Figueirense, também passou pelo colégio de Irajá.

O atacante Wellington Silva, do Fluminense, também estudou no Percepção. O jogador foi companheiro de Philippe Coutinho no Mundial Sub-17 deste ano.

Nos corredores, a quantidade de troféus conquistados em torneios nacionais e internacionais chama a atenção. Desde a antiga Sétima Série no colégio, Allan se orgulha de ter conquistado o primeiro título fora do país aos 14 anos, em competição disputada no Chile.

Fonte: Lance