Antônio Lopes impediu saída de Juninho Pernambucano em 96
Antônio Lopes tem no currículo, além de títulos, o mérito de revelar jogadores que se transformariam em craques. Romário e Edmundo são os maiores exemplos. Mas o treinador teve a competência também de evitar que futuras promessas se perdessem no caminho. Quinze anos depois, ele revela que Juninho Pernambucano estava de saída do Vasco, ainda garoto, devido a problemas de relacionamento. Como enxergava enorme potencial no jogador - de volta ao clube recebendo salário mínimo - impediu seu retorno ao Sport. Para sorte da dupla e do Vasco, entre 1996 e 2001 o clube conquistou os títulos mais importantes de sua história e Juninho foi coroado o Reizinho de São Januário.
Juninho comemora gol pelo Vasco na final da Copa Havelange de 2000
Foto: AE
Lopes assumiu o time em 96, no lugar de Zanata. O Vasco fazia péssima campanha no Campeonato Brasileiro e lutava para não ser rebaixado. O grupo tinha Carlos Germano, Felipe, Pedrinho, Ramon e Edmundo a espinha dorsal do grupo que conquistaria o Brasileiro do ano seguinte. Mas, naquele momento, o ambiente entre os jogadores não era dos melhores. Com apenas 20 anos, Juninho estava incomodado com o que se passava da porta do vestiário para dentro e pediu para sair. Foi quando Lopes entrou em ação.
Ele era muito menino e não concordava com algumas coisas. Não cabe aqui dizer nomes, mas se sentia desprestigiado em ver alguns com tratamento diferente de outros. Eu tinha acabado de chegar e soube que ele estava querendo ir embora. Chamei ele para conversar e o convenci. Fiz ele ficar, conta Antônio Lopes.
Além de Juninho, Ramon também estava insatisfeito. De fato, o ano de 1996 para o Vasco é para ser esquecido. Depois de perder os dois turnos do estadual para o Flamengo, o time foi mal no Brasileiro e os problemas internos só aumentavam. Com toda truculência atribuída ao ex-presidente Eurico Miranda, o dirigente tinha o hábito de preservar treinadores. Mas, naquele ano, ele deu cartão vermelho para Carlos Alberto Silva e Zanata em menos de quatro meses. Sem falar nas brigas com Edmundo, que acabava de repatriar do Corinthians e foi apresentado à torcida em São Januário chegando de helicóptero.
Este era o cenário que incomodava Juninho. Revelado pelo Sport e destaque da Seleção Brasileira de novos, o meia era uma promessa. Lopes apostava no futebol do jogador e acreditava que para o ano seguinte, com a contratação de alguns reforços e saída de outros, Juninho teria mais espaço no time. Este foi um dos argumentos usados para convencê-lo a permanecer em São Januário.
Não queria que ele saísse. Ele tinha uma qualidade incrível, precisava era amadurecer, ganhar confiança, ritmo de jogo, e isso tudo ia acontecer naturalmente no decorrer da minha passagem pelo Vasco. Ele entendeu.
Valeu o esforço. Juninho colocou no currículo um estadual (98), dois Brasileiros (97 e 2000), um Rio-São Paulo (99), uma Mercosul (2000) e a Libertadores de 98. Filho de militar, o meia conheceu Renata, com quem se casaria e teria duas filhas. Jogador de comportamento discreto, a vida regrada, acredita Lopes, contribuiu para que ele fosse um atleta disciplinado e sem lesões.
Juninho nunca foi um cara da bagunça. Não bebia, não fumava, treinava muito, nunca se machucou. Era um jogador exemplar. Hoje ele tem 36 anos? Nesta fase, o maior problema de um jogador é o aspecto físico. Quanto a isso o Vasco não precisa se preocupar. Juninho sempre cuidou, vai dar certo de novo em São Januário, observou o treinador.
Títulos foram muitos ao lado do meia. Porém, o mais marcante foi a conquista da Libertadores. Na semifinal, o Vasco eliminou o River Plate em Buenos Aires. O time precisava do empate para se classificar, perdia de 1 a 0 e Juninho empatou, numa cobrança de falta inesquecível até hoje para a torcida vascaína.
Ele cobrou magistralmente aquela falta, mandou a bola na gaveta. Era um jogo duro, dentro da casa do adversário, muita pressão, e ele foi lá e decidiu. Este, sem dúvida, é o momento dele que guardo com mais carinho, conta Lopes.
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