Antes do Botafogo, o último campeão "direto" tinha sido o Vasco, em 1998
Há coisas que só engrandecem o Botafogo.
Num campeonato em que sofreu uma goleada histórica por 6 a 0, em que os fantasmas de três vicecampeonatos para o maior rival reapareceram em outra final, com o adversário tido como favorito, o alvinegro fez jus ao epíteto de Glorioso e conquistou o 19o título estadual de sua história, certamente um dos mais comemorados por sua torcida.
Na emocionante final de ontem no Maracanã, venceu quem mais quis o título, quem mais se preparou para ele e quem mais mereceu. Com gols de pênalti do argentino Herrera e do uruguaio Loco Abreu, o Botafogo fez 2 a 1 no Flamengo, que descontou com Vágner Love, artilheiro do Estadual (15 gols).
O título da Taça Rio, somado ao da Taça GB, fez do alvinegro campeão por antecipação. O último havia sido o Vasco, em 1998. A torcida comemora um título depois de quatro anos e, requinte de alegria, saboreia uma vitória sobre o Flamengo numa decisão, o que não acontecia há 21 anos, desde o gol de Maurício que pôs fim ao jejum também de 21 anos no Estadual de 1989.
Colecionador de taças no futebol carioca, Joel Santana conquistou seu sétimo Estadual. Já deveria estar acostumado, mas uma frase sua dá a dimensão da importância desta conquista.
Deus é tão justo que me tirou de lá (África do Sul) para me pôr aqui, nessa alegria extravasou o treinador, afirmando que a conquista o fez superar a perda da chance de disputar a Copa do Mundo.
Além de acabar com a sina dos vices, o clássico de ontem exorcizou ainda o fantasma da arbitragem. Depois de perder títulos em que acusou o rival de favorecimento no apito, e ganhou em resposta a pecha do chororô, o Botafogo venceu num jogo em que o árbitro teve atuação rigorosa e precisa.
Jogo teve 17 cartões Depois do equilíbrio inicial, o alvinegro passou a rondar a área rubro-negra. E chegou ao gol aos 23 minutos. Num escanteio, Angelim puxou Fábio Ferreira e o árbitro deu pênalti. No lance, Angelim levou amarelo um dos 17 cartões que Gutemberg de Paula distribuiria na partida.
Herrera cobrou no meio do gol, e Bruno caiu para a direita.
Então o Botafogo cometeu o erro de recuar excessivamente, e o Fla passou a dominar. Andrade tirou Toró e pôs Vinícius Pacheco, que entrou bem. Hostilizado pelos alvinegros, Adriano era figura nula. A rigor, deu um voleio sem jeito e uma cabeçada errada no primeiro tempo. O Flamengo tinha domínio inócuo.
Até que, aos 45, veio o empate.
Michael driblou pela direita e cruzou. Adriano, puxado por Fábio Ferreira, dividiu na cabeçada, e a bola sobrou para David, que entrou de peixinho. Jéfferson fez defesa parcial e Vágner Love empurrou para o gol.
Adriano falha na hora agá O empate deixou o Maracanã com a sensação de que o filme dos últimos três anos poderia se repetir. Aos 19 do segundo tempo, quase a virada: Vinícius fez ótimo lance pela esquerda e ofereceu o gol a Love. O atacante bateu em gol e Fábio Ferreira apareceu para salvar.
Aos 25, o clássico e o campeonato começaram a se decidir.
O experiente Maldonado puxou Herrera e o juiz deu novo pênalti para o Botafogo. Mudou o batedor, mas a bola foi de novo no meio do gol. Loco Abreu, consciente, deu um toquezinho por cobertura. Bruno caiu para o lado e a bola ainda tocou o travessão antes de entrar.
Com um jogador a mais e 2 a 1 no placar, o título parecia decidido.
Mas muita coisa ainda aconteceria. Aos 31, Fahel segurou Ronaldo Angelim na área.
Outro pênalti, e Herrera, descontrolado, partiu para cima do árbitro. Expulsão indiscutível.
Quando ajeitou a bola sobre a cal, aos 33 minutos, era Adriano que estava na marca do pênalti. Bateu mal, no canto esquerdo, e Jéfferson fez a defesa do título.
O sofrimento que fez com que a torcida só gritasse é campeão após o apito final teve ainda ares de crueldade aos 42, quando Somália salvou gol certo de Rodrigo Alvim, e aos 44, quando Jéfferson brilhou novamente, em chute de Love.
Mas não tinha jeito. O drama, na vitória, engrandece. E hoje o Botafogo acordou um pouco maior.
Botafogo: Jéfferson, Antônio Carlos, Fahel e Fábio Ferreira; Alessandro, Leandro Guerreiro, Túlio Souza (Caio), Renato Cajá (Edno) e Somália; Herrera e Loco Abreu. Flamengo Bruno, Léo Moura (Petkovic), David, Angelim e Rodrigo Alvim; Toró (Vinícius), Maldonado, Willians e Michael (Fierro); Vágner Love e Adriano. Juiz: Gutemberg de Paula. Cartões Amarelos: Bruno, David, Angelim, Rodrigo Alvim, Toró, Maldonado, Vinícius, Willians e Love (Flamengo); Fábio Ferreira, Alessandro, Leandro Guerreiro, Túlio Souza, Cajá e Somália (Botafogo). Cartões Vermelhos: Maldonado e Herrera.
Renda: R$ 1.677.565,00. Público: 50.303 pagantes.
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