Anderson Martins: 'Sou vascaíno, todos sabem'
Anderson Martins nasceu no dia 21 de agosto de 1987. Ele faz aniversário junto com o Vasco, um dos finalistas da Copa do Brasil contra o Corinthians. São dois dos gigantes do futebol brasileiro que ele defendeu na carreira e que decidem neste domingo quem leva a taça para casa. Direto de Fortaleza, mas com pressão dos filhos para correr para o Maracanã, ele não titubeou nem por um segundo sobre a torcida para a final:
-- Sou vascaíno, todos sabem.
Aposentado desde 2022, Anderson está no quarto período de Engenharia Civil na Unifor e tem a empresa KLS no ramo de construção civil - sigla em homenagem aos três filhos, Keimuel, Samuel e Lemuel. Ao ge, ele lembrou momentos de felicidade da carreira que começou com David Luiz e Hulk no Vitória, do sofrimento com as lesões e contou da expectativa para a grande decisão no Maracanã.
Entrevista: Anderson Martins
ge: Você pagou de jogar em 2022 e não voltou ao futebol. O que anda fazendo da vida?
-- Eu parei no CSA e tentei estudar futebol. Fiz alguns cursos da CBF, de gestão também, para tirar licença, mas nunca chegou a mim aquela vontade de trabalhar no futebol. Acabei retornando para Fortaleza, comecei a cursar o curso de Engenharia Civil. Estou no quarto período. Agora, estou aqui acompanhando meus negócios, acompanhando também a família de perto. Já que eu tinha ficado também muito tempo longe dos meus pais, dos meus irmãos. E a gente também decidiu, junto com a família, tirar esse tempo também aqui para os meninos, meus três filhos já, para eles aproveitarem os avós, a família.
Você tem uma empresa de construção civil?
-- Na verdade, meu pai e meu irmão já tocavam meus negócios, porque na época eu jogava futebol. Quando parei, a gente ia fazer alguns tipos de investimentos no ramo imobiliário e resolvi estudar, me aprofundar para, de alguma forma, tentar ajudar e também ganhar o conhecimento nessa área. Mas eu só dei continuidade àquilo que meu pai e meu irmão já faziam.
É difícil para um ex-jogador, quando para, entrar em uma sala de aula, começar a estudar?
-- O começo, às vezes, é um pouco difícil, mas eu acho que me adaptei rápido. Já tinha bem na minha mente que, quando eu parasse, teria que estudar. A vida continua, a gente é muito novo ainda quando para. E foi isso que eu decidi fazer. Não quis ficar também muito tempo ocioso, porque isso aí, às vezes, gera muita saudade do futebol. E eu já fui ocupar minha mente com outra preocupação e tem sido uma experiência legal. Tenho também procurado evoluir nessa parte. A vida é isso, são fases. Dá um pouco de saudade do futebol, mas a vida continua.
Você saiu muito novo para o Vitória. E teve uma geração de destaque na base do clube baiano.
-- Eu saí de casa com 11 anos de idade. Fiquei um período muito longe do meu pai, da minha família. Na época, eu peguei no Vitória a categoria de (19)86 e (19)87. Eram jogadores que, graças a Deus, tiveram muito sucesso na carreira profissional. David Luiz, teve também o Marcelo Moreno, o Wallace, que passou pelo Flamengo e tanto outros jogadores. O Hulk, que ainda está jogando. Aliás, o Hulk tem que ser estudado, né (risos).
Falando da final de domingo, o que achou do primeiro jogo?
-- Eu achei que o Vasco jogou bem. Achei que o Vasco, por jogar fora de casa, teve uma boa postura. Eu acho que os torcedores estão bem confiantes para esse jogo da final. Mas acho que está em aberto ainda. São duas grandes equipes, de grandes torcidas. Eu tive, graças a Deus, a oportunidade de jogar nesses dois clubes. Eu sei do que representam para o futebol brasileiro. Mas a minha torcida é de que o Vasco consiga esse título tão importante, tão esperado pela torcida. Acho que a torcida, com certeza, merece esse título.
Você vem para o Rio?
-- Eu estou na expectativa aqui. Eu creio que vai dar certo. Até para encontrar também alguns amigos que a gente fez no futebol. Também torcer o Felipe (dirigente), o Pedrinho (presidente), que são caras que a gente gosta, que estão fazendo um grande trabalho. O (Fernando) Diniz também, que eu tive a oportunidade de trabalhar. A gente fica na torcida para que o Vasco saia campeão e que realmente volte àqueles ciclos de conquistas que o torcedor merece. É um clube gigante do futebol brasileiro. A gente fica nessa expectativa. Claro, respeitando também os companheiros que tive a oportunidade de jogar lá no Corinthians. Foi um período breve. Mas a torcida vai ser para o Vascão.
Como foi trabalhar com o Diniz? Ele já era estourado desse jeito?
-- Foi no São Paulo, em 2019. O Diniz é um cara do bem. Todo mundo sabe que esse jeito dele é mais dentro de campo, nos treinamentos. Mas quem conhece ele fora de campo sabe que ele é uma pessoa do bem. Um cara que sempre tratou a gente bem e só posso desejar boa sorte para ele. E fico feliz de ele estar tendo sucesso no Vasco.
Você levou seus filhos na concentração do Vasco em Fortaleza?
-- Foi logo no começo do ano. Acho que eles jogaram aqui contra o Fortaleza ou foi contra o Ceará. Liguei para o Felipe, há um tempo a gente não se via pessoalmente. Aí meus meninos ficaram doidos quando o Coutinho retornou, aquela coisa da música dele. Aí acabei levando lá. O Coutinho foi bem solícito, tirou foto com os meninos. Fiquei bastante feliz. E ter essa oportunidade de levar eles lá para conhecer o Coutinho, pelo que ele representa para o futebol brasileiro, que foi um ídolo lá no Liverpool, do Vasco também. Até hoje eles lembram desse dia.
Todo mundo lembra da Copa do Brasil de 2011 com o Vasco, mas em 2017 teve a arrancada na última Libertadores que o clube disputou. Como foi?
-- Foi no meu retorno do Catar. Eu sabia do desafio que seria o retorno por conta de ter ficado bastante tempo fora e também pelo Vasco que naquele momento não estava vivendo bom momento. Tanto na tabela como também de situações extracampo que tinham acontecido. Algumas confusões. Eu cheguei num momento bem conturbado. Mas, graças a Deus, depois da chegada, se não me engano, do Zé Ricardo a gente conseguiu encontrar o caminho. E também alguns jogadores começaram a se destacar, como o Paulinho, o Mateus Vital, com a experiência também do Nenê e de outros jogadores, a gente conseguiu dar uma arrancada boa. Fiz dupla com o Breno, tinha o Paulão também. Até o próprio Ricardo Graça que está agora no Japão.
-- Eu costumo falar para a minha família, até para os meus filhos que o papai foi muito feliz de ter realizado um sonho de criança. Porque eu sou vascaíno, como todos sabem. E ter a oportunidade de jogar no Vasco... eu me vi ali como um torcedor dentro de campo. Consegui ter uma boa passagem nas vezes que estive ali defendendo. E, realmente, eu defendi as cores do Vasco de coração mesmo. Eu estava ali como um representante da torcida. Foi uma experiência bacana que eu vou levar para o resto da minha vida.
Você saiu do Vasco para o Catar, depois para o São Paulo. Como essas decisões funcionavam para você? Isso tem a ver com as lesões que você sofreu na carreira, de aproveitar as oportunidades?
-- Eu tive uma lesão muito séria ainda no Vitória. Quase eu fico sem jogar futebol. Foi em 2006, se não me engano. Tive uma lesão grave que foi por causa dela que a minha carreira encurtou. Infelizmente no futebol nós temos que tomar decisões. Não só no futebol, como na vida. E, às vezes, pelo calor da emoção, o torcedor não entende algumas escolhas. Mas a minha decisão de ir para o Catar, de também ter escolhido ir para o São Paulo, é porque a vida do atleta é uma carreira curta. Eu tinha muitos problemas físicos. Tanto que já no meu final de carreira eu não consegui ter aquela sequência por conta das minhas lesões. Às vezes a gente tem algumas escolhas. Mas sempre pensando no futuro da família. Também pensando nas condições físicas. Só você realmente sabe as suas condições físicas. E tem que aproveitar as oportunidades da vida.
Sonho de Seleção não poderia te impedir de sair para o Catar?
-- Eu tive duas convocações. Uma na Seleção sub-18 e sub-20. Foi na sub-20 que eu acabei me lesionando. Foi nessa época. Eu sabia das minhas limitações físicas. E hoje para você ter uma carreira sólida na Seleção você tem que jogar em grandes centros da Europa. Não que no Brasil você não tenha essa oportunidade. Mas dentro das oportunidades que me apareceram na época, a gente conversou com a minha família e acabou decidindo que a melhor decisão seria ir para o Catar. Por conta das minhas lesões. Dos riscos que eu tinha. Se fosse para uma liga que me exigisse mais, eu poderia não conseguir ter uma carreira mais longa. Não que a liga do Catar não exigisse, mas tinha menos jogos. Isso acaba encurtando a carreira do jogador. Mas foram decisões que foram tomadas. Não tem como se arrepender.
Você jogava com dor?
-- Muito, muito, por muito tempo. Até hoje eu sinto as sequelas dessas minhas lesões. Muita infiltração. Muitos problemas musculares por conta desses problemas que eu tive no joelho. E são as coisas que nós carregamos quando estamos atuando no futebol. Mas não me arrependo. Foram momentos felizes. Graças a Deus eu tive a oportunidade de jogar nesses clubes e sempre procurei dar o meu melhor. E sou muito grato pela carreira que eu consegui construir.
Gosta dessa dupla de zaga do Vasco atual?
-- O Robert Renan é um número 10 jogando ali na defesa. Eu particularmente sou fã dele. Gosto muito do estilo dele de jogar. Eu já acompanhava nos jogos da seleção de base. Também no Corinthians, logo quando ele subiu. Ele tem a minha torcida, o meu desejo é que ele construa uma carreira sólida. Ele tem muito potencial. E com certeza a gente vai ficar na torcida não só para ele, como também para o Cuesta.
Em 2011 você viveu essa atmosfera de tirar o Vasco do jejum de títulos. Hoje, vive outro momento parecido. Como era viver isso?
-- A gente fica na expectativa porque sabe do anseio da torcida. Sabe do que o Vasco representa para o futebol brasileiro. E a gente sabe também da seriedade que o Pedrinho encara, o amor que ele tem pelo clube. Largou tudo para reconstruir o clube. Tomando, às vezes, muita pancada. A gente sabe que não é fácil isso. Às vezes, quando o resultado não vem, as pessoas se aproveitam dos momentos ruins para falar mal do trabalho. Mas a gente sabe que ele é sério. Porque a gente conhece as pessoas que estão ali. Eu acho que estou com o mesmo sentimento de quando eu estava lá em 2011. Não vejo a hora que o jogo acabe, que a torcida consiga comemorar esse título. Vai ser como se eu estivesse jogando. Na verdade, a gente vai estar jogando junto. Torcendo junto.
Fonte: ge