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Análise: Zé Ricardo pode ser mais uma vítima do ambiente conturbado vascaíno

Depois de um 2021 extremamente decepcionante, o Vasco iniciou o planejamento para a próxima temporada. Entre as medidas já adotadas, está a chegada de Zé Ricardo para comandar a equipe. É o retorno de um treinador que tem bons trabalhos na curta carreira, mas momentos de queda brusca também. Voltar para a Série A, porém, não passa só por isso.

É preciso que o Vasco se profissionalize! Por mais dura que possa parecer a frase anterior, é a realidade. E analisando detalhes do 2021 do clube, isso é nítido. O time não era desorganizado taticamente ou fraco tecnicamente para a disputa da Série B em maio deste ano. Dizer isso é revisionismo ou falta de entendimento do cenário que levou ao desempenho sofrível na competição.

Para a o nível da Segunda Divisão, o Gigante da Colina tinha sim um elenco entre os melhores, e Marcelo Cabo não fazia um trabalho ruim até o término do Estadual. Então qual foi o motivo da decepção? Em primeiro lugar o ambiente repleto de interferências externas e a péssima estrutura para manter um desempenho ao menos mediano. Isso influenciou demais até mesmo no comportamento dos jogadores.

Não foram poucos os momentos de apatia, desconcentração e nervosismo excessivo por parte dos atletas com todos os treinadores que passaram pelo Vasco em 2021. As limitações administrativas, financeiras e estruturais precisam ser minimizadas com uma gestão competente. Isso começa no presidente do clube e passa pelos membros da diretoria, até chegar ao staff técnico. Não é segredo que o Cruzmaltino não teve nem sombra desta realidade. Não havia unidade de pensamento e coordenação nas ações.

O cenário fez com que diversos atletas rendessem menos do que poderiam. Perderam desempenho pela ausência de um acompanhamento mais profissional nas diversas disciplinas responsáveis por isso. Se desmotivaram com facilidade e a confiança foi para a ''estaca zero''. Mesmo com bons inícios, Marcelo Cabo e Fernando Diniz tiveram seus trabalhos totalmente minados com o passar dos jogos e semanas. Não há profissional que sustente.

Longe de dizer que não houve erros por parte dos treinadores e que os jogadores não possuem parcela de culpa no desastroso 2021, mas sim que as limitações individuais se tornam mais decisivas, principalmente quando não há a estrutura mínima para que o trabalho se sustente em meio às oscilações que todos os clubes passam no conturbado calendário.

Novo treinador

Zé Ricardo iniciou bem suas passagens pelos profissionais de Flamengo, Vasco e Botafogo. Sabe organizar uma equipe. Tem um perfil tático bem parecido ao de Marcelo Cabo, por exemplo. Monta quase sempre um 4-2-3-1 como plataforma e tem predileção que suas equipes trabalhem com a bola, instaladas no campo de ataque. Possui ótimo histórico de formação de jogadores. Costuma ter boa relação com os elencos que dirige.

Usa sempre um volante mais fixo e outro com mais liberdade para infiltrar na área rival. Solta os laterais em amplitude no campo de ataque e promove a flutuação dos pontas para o meio, visando gerar superioridade no setor e mais linhas de passe para controlar o jogo. Defensivamente suas equipes oscilam mais. Mesmo tendo bons momentos de postura reativa no Vasco e no Botafogo, não é esta a sua principal característica.

O ponto fraco dele foi lidar com os problemas táticos e técnicos que surgiram e fazer algumas mexidas profundas quando a oscilação foi mais forte nos três grandes cariocas. Acabou sucumbindo depois de alguns meses de trabalho. Recentemente não teve boas passagens nos curtos trabalhos feitos no Fortaleza, Internacional e no futebol do Catar.

Apesar disso, é um profissional capacitado para conduzir o Vasco em 2021, como alguns que passaram recentemente por lá também eram, mas o clube precisa mudar. O que acontece dentro do campo é muitas vezes reflexo das limitações impostas pelo dia a dia. Nem sempre se supera esse cenário.

Fonte: UOL Esporte