Análise: Vasco vive seu pior momento na história

Situação financeira é caótica e ficará ainda pior com uma permanência na Série B. Dano maio, porém, será na imagem do clube. 

Me perdoe, mas se você me disser que antes da Série B, você imaginava que o Vasco, time com maior folha salarial da competição, com contratações consideradas de “Série A”, estaria na 9ª colocação, na 22ª rodada, presumo que está mentindo. Eu fui um dos que acreditava piamente que o Vasco faria uma segunda divisão tranquila. Errei. Errei por acreditar que havia um trabalho sendo construído por Marcelo Cabo, teoricamente especialista em Série B. Errei em acreditar que essa diretoria, finalmente, colocaria o carro chefe do clube, que é o futebol, nos trilhos. Mas acertei quando falei sobre a montagem desse elenco. Hoje é cristalino ver tudo o que escrevi neste parágrafo.

Começando pelo ex-treinador, que muitos tentam justificar que sua troca não deveria ter acontecido pelos resultados atuais com Lisca, mas esquecem que ele deu aval/pediu as 10 contratações realizadas no início da temporada. Ele também não conseguiu, mesmo com meses de trabalho, fazer o Vasco jogar bem nem sequer um jogo na Série B. Consequência disso foi a não entrada do time no G4 sob seu comando e, obviamente, a demissão.

Agora partimos para o lado de fora do campo, quando vemos um ainda jovem diretor de futebol tomar as rédeas do departamento do clube. E ele fez mudanças importantes, como a profissionalização e contratos para proteger o Vasco de jogadores que só oneravam o clube com vínculos longos de valores absurdos. Mas ele também falhou. Montou um elenco baseado em aposta na experiência de jogadores em declínio ou após graves lesões. Na minha avaliação, tirando Zeca, todos eram incógnitas. Todos. E até o Zeca vem decepcionando. É um time que não tem meia de criação e, Marquinhos Gabriel, que supostamente faz a função, não entrega. Cano, a estrela solitária, sofre com uma equipe que nunca jogou para ele. A zaga toma gols de bola aérea há meses. E a única contratação para o setor na janela veio como reserva do Cuiabá.

Mas talvez o maior dos problemas esteja na figura mais importante do clube. O presidente Jorge Salgado, que vem tirando dinheiro do próprio bolso para suprir compromissos no Vasco, me parece ser tudo, menos presidente. Digo isso porque, se ele está precisando tirar do bolso, é porque a promessa de campanha sobre um investimento milionário não foi cumprida. É porque a promessa de campanha sobre novos patrocinadores e dinheiro novo no Vasco, que possa ajudar o panorama do clube, não foi cumprida. É porque a promessa de campanha de que o Vasco teria um futebol forte novamente, mesmo na Série B, não foi cumprida. Financeiramente, a gestão está fazendo o que dá até. Mas em todos os outros aspectos é falha.

Um presidente que, mesmo com seu próprio clube sendo prejudicado constantemente por erros de arbitragem, sempre coloca o diretor de futebol para falar. Faz pouquíssimas aparições. Quando faz, não parece transparecer o tamanho do problema que o Vasco se encontra e nem que vai dar soluções para ele. Estamos falando do pior momento esportivo e institucional da história do Cruz-Maltino. E, por todo o cenário exposto nesta coluna, estou lado a lado com Murphy: ainda pode piorar.

Solução? Esticar a corda e contratar jogadores capazes. Lisca tem seus defeitos, óbvio, mas o material humano que o Vasco tem hoje é pouco para o tamanho do desafio que vai ser vencer de 10 a 12 partidas em 15 restantes. A situação financeira é caótica, mas ela ficará ainda pior com uma permanência na Série B. E quer saber? O dano maior de mais um ano na Série B não vai ser nos cofres. Mas sim na imagem já desgastada do Club de Regatas Vasco da Gama. Na dor que torcer para esse clube causa aos vascaínos hoje. E que talvez, após quatro rebaixamentos e uma permanência na segunda divisão, seja irreversível no sentimento de apoio incondicional. Ninguém aguenta mais. A verdade é essa.