Futebol

Análise: Vasco e Flamengo precisam melhorar

Mal jogada na maior parte do tempo, a final da Taça Rio terminou sendo salva pelo que, habitualmente, vem disfarçando a calamidade que é o formato de disputa do Estadual: um gol no fim, a dramaticidade, as torcidas, a celebração da rivalidade. É possível que o gol de Arrascaeta seja lembrado por muito tempo, ainda que, em alguns anos, pouca gente seja capaz de explicar exatamente o que ele valeu. Mas o fato é que, analisado o que houve de futebol no Maracanã no domingo, é justo olhar para o futuro com doses de preocupação. Flamengo e Vasco têm ambições distintas na temporada, o contexto dos dois clubes torna injusto avaliá-los com o mesmo grau de rigor. Mas ficou claro que, para cada um realizar suas pretensões, será preciso melhorar.
 

Um dado sobre o Vasco neste Estadual é alarmante: o time jogou 180  minutos, ou seja, dois jogos contra os reservas do Flamengo e não ganhou. Pior, jamais foi dominante. Até poderia ser um atestado da disparidade financeira que permitiu ao Flamengo construir um grande elenco. Mas, como veremos mais adiante, nem sempre este dado é verdadeiro.

O Vasco sofre uma preocupante limitação de repertório. Não há nada de errado em acreditar num modelo de contragolpe, mas o time tem sido excessivamente conservador sem que, ao seu modelo, de fato controle os jogos. Terminou nas cordas a semifinal da Taça Rio contra o Bangu. No domingo, permitiu que a  versão do time reserva do Flamengo que chegava aos minutos finais do clássico, cheia de reservas, fizesse a partida acontecer ao redor da área vascaína. Este Vasco tem contragolpeado pouco e não mantém a sensação de solidez defensiva exibida  no inicio da temporada. Contra o Flamengo, até defendia bem, mas os últimos rivais haviam finalizado mais do que o desejável.

Individualmente, há peças rendendo menos do que se imaginava. O Vasco planejado no início da temporada não aconteceu. Marrony e Tiago Reis são boas aparições, mas jogadores experientes têm dado pouco suporte. Lucas Mineiro começou bem o ano, mas por vezes sua dupla com Bruno Silva faz a construção de jogadas começar deficiente. Maxi López não encontrou sua forma no terceiro mês de temporada, algo que também vale para Bruno César, bem abaixo do jogador que o Vasco imaginou ao contratá-lo. Hoje, o time de Alberto Valentim vive da capacidade de aceleração pelos lados, depende demais de criar condições para cruzamentos na área. E fundamental: parece perder intensidade, cair fisicamente ao longo do jogo.

 

O caso é que a temporada do Vasco, salvo uma grande surpresa, estará salva com boas campanhas nos torneios de mata-mata e um Brasileiro tranquilo, sem sustos. E, para tal objetivo, o futebol atual talvez não seja suficiente. Já o Flamengo se prepara para ser uma força dominante no cenário nacional, competir em todas as frentes, tentar ganhar as quatro frentes que se apresentam. E, quando se trata de disputar no topo da pirâmide  nacional turbinado por milhões em contratações, logo surge a inevitável comparação com o Palmeiras. Mais precisamente, com a estratégia do Palmeiras: ter um elenco que lhe permita alternar times inteiros e seguir vivo, como no ano passado, até as fases finais de Brasileiro e Libertadores.

E os jogos em que usou reservas acenam com uma realidade: o elenco do Flamengo ainda não tem o peso que tem o do Palmeiras. O destino da equipe fica muito encomendado a jovens que, ao longo da temporada, podem se revelar soluções. Mas ainda não foram testados a tal ponto. Não é simples imaginar o time que jogou ontem sustentando rodadas seguidas do Brasileiro, caso esta necessidade de apresente. Não significa que o Flamengo não tenha condições de brigar em quatro frentes. Apenas lembrar que,  quem conseguiu tal feito no país,o fez com mais peças experientes e estabelecidas no cenário nacional.

 

Ao poupar sua dupla de zaga, o Flamengo termina por recorrer a Dantas ou Thuler, ambos de 20 anos. Ou aos dois juntos, dadas as frequentes lesões de Rhodolfo. Na lateral direita, a pressão sobre Rodinei deverá ser suavizada pela chegada de Rafinha, no meio do ano. Na esquerda, Trauco tem tido dificuldades para defender o lado do campo.

No meio, os desequilíbrios na formação do elenco se mostram mais claramente. Em especial nas duas posições mais atrasadas: primeiro e segundo volante. Hugo Moura é jovem demais e Piris, muito mais marcador do que passador, altera muito a forma de iniciar a construção de jogadas. Já Ronaldo, embora seja interessante observar seu desenvolvimento ao longo do ano, ainda oscila demais.

Nos jogos em que poupa Éverton Ribeiro e Diego, Abel Braga termina por colocar Arrascaeta como meia central, o que abre espaço nas duas pontas. Vitinho jogou bem contra o Vasco, mas termina por ser obrigatório, de início ou no decorrer das partidas, recorrer a outros jovens nas pontas. Ontem, jogaram Vitor Gabriel, Lucas Silva e Bill.

A qualidade técnica do elenco permite ao Flamengo disputar todos os títulos. E nada impede que os jovens se afirmem. O caso é que, na história, é difícil encontrar casos de levas inteiras de garotos desabrochando juntos. O desafio é não permitir que alguns desequilíbrios entre titulares e reservas criem a tentação de esticar demais a corda quando Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil coexistirem. O preço pode ser alto.

Fonte: Globo Online