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Análise: Torcida deixa Castan sem clima no Vasco

Vaias aos gols do Vasco, gritos de "time sem vergonha" antes, durante e depois do empate com o Remo (2 a 2), além de pedidos de cartão vermelho para jogadores da própria equipe. O clima azedo sobressaiu e ressignificou o apelido do Caldeirão de São Januário. Os mais de mil vascaínos presentes ao estádio estiveram lá para queimar quase que a totalidade do elenco que fracassou na tentativa de recolocar o clube na elite, e a figura central da "fogueira vascaína" foi Leandro Castan, perseguido do primeiro ao último minuto de jogo. O dia 19 de novembro de 2021 teve cara de capítulo final de uma intensa relação entre o zagueiro e a Cruz de Malta. Pelo menos na Colina Histórica.

Mesmo com contrato válido até o fim de 2022, Castan, de 35 anos, não tem mais clima para seguir no Vasco. Antes atacado nas redes sociais, o zagueiro não teve trégua durante os mais de 90 minutos que ficou em campo contra o Remo. Para se ter uma noção, foi xingado em alto e bom som durante a execução do Hino Nacional Brasileiro, momentos depois de o time ser chamado de "sem vergonha" pela primeira vez.

Vaiado a cada toque na bola, o camisa 5 ouviu os gritos de "ei, Castan, vai tomar no c..." inúmeras vezes no primeiro tempo. Aos 34 minutos, o tom subiu ao escorregar diante de Erick Flores, e o Remo quase abrir 2 a 0 - não o fez porque Neto Pessoa furou feio. O erro grosseiro trouxe novas ofensas e a manifestação: "o nosso Vasco não precisa de você".

Para completar, ainda no primeiro tempo, foi provocado com o grito: "Castan, sai do Instagram". Muitos torcedores o ironizam por ser atuante na citada rede social. Na volta do intervalo, mais ataques: o chamaram de "ateu" num claro deboche à fé do jogador, que é religioso.

Castan não teve paz durante o jogo inteiro. Nenhum toque na bola foi perdoado, e furadas em que não conseguiu alcançá-la também renderam manifestações raivosas. Agora, justiça seja feita: apesar do ambiente pesado contra si e de não ter jogado bem, o capitão deu opção de passe o tempo inteiro, até mesmo no campo de ataque. Não se omitiu e tentou alguns cruzamentos da ponta esquerda na busca pela virada.

O fim da relação parece saudável para as duas partes. São 144 jogos com a Cruz de Malta em mais de três temporadas - o primeiro deles em 12 de agosto de 2018, contra o Palmeiras. Leandro Castan foi importantíssimo em seus dois primeiros anos de São Januário, tanto com boas atuações como na questão da postura, de botar a cara para bater nos momentos duros. De 2020 em diante, porém, o nível de atuações do Vasco e de Castan se confundiram. Ambos caíram muito.

Outrora exaltado como o melhor zagueiro do Brasil em famosa rima com um palavrão, Leandro Castan teve que ouvir, também em meio a palavrões, de que o Vasco não precisa mais dele. Talvez ele também não precise passar mais por isso. Aguardemos os próximos capítulos de um filme que se aproxima de um final nada feliz.

Xingamentos desde o aquecimento

Como se sabe, Castan é capítulo à parte de uma tarde ácida em São Januário. Mas não só o capitão foi alvo da ira da torcida. Quando os goleiros Lucão, Vanderlei e Halls subiram ao gramado para o aquecimento, às 18h22, começaram os xingamentos. Somente o último foi poupado.

Às 18h31, os jogadores de linha pintaram no campo, e a maioria foi ofendida. Nenê, Cano e Riquelme escaparam. O trio, aliás, foi aplaudido na maioria das jogadas tentadas. E é preciso ressaltar: os três foram mal. O camisa 77 errou em tomadas de decisão importantes, o argentino perdeu chances que não costuma desperdiçar, e o lateral falhou feio no primeiro gol.

Morato é o segundo maior alvo, e torcida se enche de ironias

Para terminar de ilustrar o cenário de protesto constante em São Januário, impossível não citar as inúmeras ironias dos vascaínos. Depois de chamar o time de "sem vergonha" durante o Hino Nacional e na corrente da equipe minutos antes de a bola rolar, endereçou cantos debochados a alguns dos jogadores.

Morato, de longe o maior alvo depois de Castan, teve de ouvir "Sai do Vasco, Morato sai do Vasco" em ritmo da tradicional "Dá-lhe, Vasco". O público também pegou no pé de Léo Matos, xingado mesmo após marcar o primeiro gol vascaíno, e Romulo.

O "uh, tá maneiro" que precede "German Cano é artilheiro" em música alusiva ao centroavante rendeu dois deboches. Um a MT e outro ao próprio argentino.

O meia foi chamado de "cachaceiro", enquanto Cano, de "pipoqueiro". Se os ataques ao prata da casa tiveram adesão de quase toda a torcida, a provocação ao gringo logo foi abafada por vaias da maioria. Ouviu-se também o curioso "ei, Pec, vai fazer o ENEM" numa ironia à juventude do meia-atacante.

Fonte: ge