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Análise: Na Série B, o Vasco foi um espasmo

Se pensarmos apenas nos 90 minutos, o resultado de São Januário é o retrato de um imenso contraste. De um lado, havia um Botafogo ordenado, mentalmente em paz para executar uma estratégia. E que nem precisou exibir o tempo todo a sua melhor versão para golear: após minutos bem difíceis no início, bastou explorar as gritantes descompensações que havia do lado oposto.

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Já o Vasco era um time com problemas estruturais sérios, agravados por um desequilíbrio emocional que o fazia precipitar ataques e, na perda da bola, perder qualquer senso de organização para defender.

Se pensarmos no desfecho da temporada, com um Botafogo virtualmente reconduzido à elite e um Vasco dependente de um milagre absolutamente improvável, o que se tem é um contraste de trajetórias neste 2021. Houve um momento, já com o segundo turno em andamento, em que os vascaínos viram seu time subir o nível. Coincidiu com as chegadas de Fernando Diniz e Nenê, mas durou algo como meia dúzia de rodadas. Se o Vasco e suas esperanças nesta Série B foram um espasmo, o Botafogo teve mais de um turno inteiro de consistência de resultados.

Com Enderson Moreira, no comando desde 24 de julho, a seis rodadas do fim do primeiro turno, o Botafogo venceu 15 vezes e só perdeu três, num total de 22 partidas. Nem sempre foi brilhante, vistoso, mas desenvolveu mecanismos executados com muita segurança, a ponto de ter sofrido apenas dez gols nestas partidas.

É verdade, no entanto, que os primeiros dez minutos em São Januário anunciavam um jogo muito diferente do que terminou ocorrendo. Houve razões, por alguns instantes, para achar que o Vasco recuperaria sua melhor produção, totalmente esquecida nas últimas rodadas. O time se agrupava em torno da bola e até criava chances.

O Botafogo tinha dificuldades para se defender, mal conseguia reter a bola e via Diego Loureiro trabalhar. Mas a impressão durou até um escanteio favorável aos vascaínos pouco antes dos 12 minutos. O posicionamento do time nas imediações da área para tentar controlar o rebote ou impedir o contra-ataque alvinegro beirava a calamidade. Com extrema velocidade, a bola passou de Oyama a Warley até chegar a Marco Antônio.

Foi o bastante para o Vasco desabar, seja sob o ponto de vista tático ou emocional. E o Botafogo parecia pronto para lidar com a situação do rival. Por definição, já é um time que não se incomoda de defender para agredir com objetividade, mas em São Januário o perfil do time alvinegro revelou-se fatal para o momento vascaíno. Numa outra faceta do time, o segundo gol saiu de uma bola que movida do lado direito ao esquerdo, até o cruzamento achar Navarro diante de um rival sem resposta. Passados seis minutos do gol, a expulsão de Léo Mattos fazia mais do que revelar o descontrole de um Vasco batido: encerrava o jogo.

Marco Antônio ainda voltaria a marcar em novo contragolpe que encontrava os donos da casa absolutamente desequilibrados defensivamente, e Diego Gonçalves transformaria a tarde em goleada após uma bola parada. Até o apito final, não houve mais tanta coisa relevante em termos táticos e técnicos, apenas a confirmação de que Oyama era o grande jogador da partida. O volante combateu, passou, ligou contragolpes, fez quase todo o jogo passar pelos seus pés.

O jogo, em si, já era uma contagem regressiva para a festa alvinegra e para o fim de 90 minutos que pareciam intermináveis para os vascaínos. O quarto rebaixamento, consolidado na temporada passada, ao que parece não era o ponto mais agudo de uma crise que faz do campo a face mais visível de um clube fragilizado. O torcedor do Vasco, ao que tudo indica, viverá em 2022 uma quinta disputa de Série B num espaço de 14 temporadas, um calvário que parece não ter fim.

O Botafogo também é um clube em busca de reconstrução. O acesso, que aumenta receitas num clube afundado num passivo gigantesco, não é o bastante, está longe de significar um trabalho encerrado. Mas oferece à torcida algo que não se pode desprezar: doses de orgulho, autoestima e, principalmente, mobilização. Para gigantes que vivem crises profundas, manter a chama acesa é uma das condições para a retomada ser possível.

Fonte: ge