Análise: Faltou liderança para gerir o Vasco em 2021?
Blog fala com Alexandre Campello, último presidente vascaíno na Série A: ele não sabe quem pode unir o clube.
Além ter visto da arquibancada o primeiro time do Vasco campeão brasileiro, em 1974 (aos meus 9 anos), fui setorista do clube, pelo Jornal do Brasil, em 1991, 1994 e 1996. Nesta última etapa, tive ótimas resenhas e posso dizer que me tornei amigo dos médicos do futebol, Clóvis Muñoz, Fernando Mattar e Alexandre Campello. Acostumei-me a ver o clube conquistando, e como não me acostumo a ver um gigante se atolando na Série B, entrevistei o último presidente vascaíno na Série A, o 44º presidente da história do clube, o mesmo Campello dos anos 90, agora com 61 anos. Para tentar entender o que levou o Vasco a esse período trágico e como ele pode acabar. Conversar com Campello foi bom, mas as perspectivas não são animadoras. "Não vejo nenhum nome capaz de unir o clube".
Confiram os principais trechos da resenha:
Ricardo Gonzalez - Por que o Vasco caiu (Nota do blog: por conta da extensão do calendário em 2021, Campello entregou a presidência a Jorge Salgado com o Brasileiro em andamento, e o Vasco ainda na Série A) e por que não conseguiu subir?
Alexandre Campello - O Vasco caiu porque faltou atitude à atual gestão. Porque entregou a gestão do futebol a um jovem de 30 anos (Nota do Blog: Alexandre Pássaro) que nunca teve a experiência de conduzir de fato o futebol de um grande clube. A atual gestão assumiu o futebol fora da zona de rebaixamento, com a promessa de que tinha R$ 70 milhões e colocaria os salários em dia. Entretanto não cumpriu. Os jogadores e a comissão técnica se sentiram traídos. A falta de comando no futebol fez com que a equipe não alcançasse o acesso à Série A.
R.G. - O que você gostaria de ter feito a mais na sua gestão e não conseguiu? E por que não conseguiu?
A.C. - Eu gostaria de ter investido mais no futebol. Infelizmente a falta de recursos financeiros e as dificuldades de convencer grandes jogadores a virem para o Vasco dificultaram esse processo.
R.G. - Se o presidente Jorge Salgado te procurasse pedindo uma orientação sobre o caminho a trilhar em 2022, que ações você apontaria para o clube?
A.C. - Eu diria a ele que mantivesse a austeridade nas despesas do clube, mas que não desse tantos ouvidos aos seus vice-presidentes. Que investisse mais no futebol porque é o futebol quem traz recursos e somente com o aumento de receitas se pode pagar as dívidas. O futebol de base também precisa de atenção. A venda de ativos faz muita diferença nas receitas de um clube. Acho que ele também tem o dever de tentar pacificar o clube. E não deveria ser passivo nos movimentos de perseguição política que seus pares têm empreendido.
R.G. - Sobre essa pacificação: a figura de Eurico Miranda parece ainda pairar sobre o Vasco. Os que o apoiavam não conseguem se unir aos que o combatiam. É possível algum dia haver essa união? Como conduzir isso e quem seria o nome para conduzir isso?
A.C. - Não vejo nenhum nome capaz de unir o clube. Acho que o problema é maior do que apenas "os admiradores do Eurico" e os "críticos do Eurico". O Vasco hoje tem um número absurdo de grupos políticos. Quem assume a presidência acaba tendo de conviver com grupos que, dentro da gestão, pensam mais em seus grupos do que no Vasco, e que trabalham mais por esse grupo do que pelo crescimento do clube.
R.G. - O Vasco resiste financeiramente se não conseguir subir novamente em 2022?
A.C. - Resistir, resiste. O Vasco é gigante. No entanto vai ficar cada vez mais longe dos outros grandes e aí iria demorar muito mais ainda a se recuperar. Um ano na segunda divisão a meu ver representa uma estagnação de dois ou três anos.
R.G. - O que você tem feito? Só medicina? Ainda participa da vida do clube? Gostaria de participar mais ou já deu sua cota?
A.C. - Eu tenho me dedicado à medicina, sim. E também a projetos pessoais junto com a minha esposa. Eu gosto muito de empreender. No momento só penso na minha família, o que não significa que não continuo acompanhando o clube e torcendo. Torcendo muito!
R.G. - Você é jovem e conhece muito bem o Vasco. Pensa numa nova candidatura? Talvez num momento menos conturbado do que aquele quando assumiu a presidência (de 2018 a 2020)...
A.C. - Eu tenho certeza de que conheço muito bem o Vasco, e sei que poderia ajudar muito o clube. Mas acho difícil uma nova candidatura...
No próximo post sobre a crise do Vasco, a palavra de Ademar Braga, outro profissional com quem resenhei muito nos anos 90. Ex-preparador-físico do Vasco (por oito anos, entre os anos 80 e 90) e da Seleção Brasileira (na Copa do Mundo de 1990), como coordenador de futebol subiu com o Botafogo da Série B para a A em 2015. Portanto, sabe o caminho que o Vasco precisa trilhar...
Fonte: Globo EsporteMais lidas
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