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Análise: Classificação traz alívio, mas mostra carências do Vasco

A forma como Raniel vem se mostrando decisivo, algo que se repetiu em Araraquara, é sinal de um acerto do Vasco na formação do elenco para 2022. A quantidade de intervenções do goleiro Thiago Rodrigues diante da Ferroviária, ajudando a garantir a classificação na Copa do Brasil, até poderia ser encarada da mesma forma. No entanto, parece retratar de forma mais concreta a dificuldade vascaína num jogo que terminou com 22 finalizações do time paulista contra apenas quatro dos comandados de Zé Ricardo. Culturalmente, é até natural que o treinador seja colocado no foco das discussões. Mas a pálida atuação da noite de quarta-feira foi, acima de tudo, um painel das carências deste Vasco. E muitas delas têm a ver com um time que ainda não está formado e com um elenco que tem claras lacunas.

O gol marcado aos 26 minutos de jogo foi mais um destes lances que mostram como Raniel se adaptou ao Vasco, e como Nenê segue sendo influente em lances de gol. O passe para o centroavante foi sob medida. No entanto, o lance deu início a uma tentativa de resistência que mostrou um time que nem foi sólido para evitar que o rival criasse chances importantes, nem teve escape de contragolpe. Ainda no primeiro tempo, Tcharlles fez um gol mal anulado pela arbitragem.

Zé Ricardo tinha uma questão a resolver: os últimos jogos davam sinais de que a dupla de volantes formada por Matheus Barbosa e Juninho não dava consistência. Por vezes cabia aos dois cobrir porções grandes de campo, em especial porque Nenê, por motivos compreensíveis, fica mais liberado da tarefa de recomposição. A entrada de Zé Gabriel, opção de Zé Ricardo em Araraquara, em tese buscaria reforçar o setor. No entanto, a formação impunha uma adaptação. Sem a bola, cabia a Juninho fazer a recomposição pelo lado direito, evitando que Nenê se sacrificasse tanto na hora de defender. O resultado foi que o Vasco não melhorou tanto a proteção de sua linha defensiva, especialmente no centro do campo. O time não ganhou a consistência esperada, além de seguir sem escape de contragolpe.

Defendendo muito perto de sua área, o Vasco mostrou outra lacuna importante da formação do elenco de 2022: a ausência quase total de homens de velocidade pelo lado. Gabriel Pec, que faz bom início de ano e, no cenário atual, torna-se quase imprescindível, é uma exceção em termos de características. Durante parte do primeiro tempo, ora dando opção de passe pelo lado esquerdo, ora atravessando o campo para buscar jogo na direita, era opção solitária para ligar contra-ataques. Zé Ricardo já buscou diversas soluções para os lados do campo, uma delas com Bruno Nazário, que tem grande dificuldade na função. Em dado momento da atual temporada, tentou escalar três zagueiros, trazendo Nazário para o meio-campo e usando uma dupla com Pec e Raniel mais soltos. Até aqui, Zé Ricardo tem feito um certo contorcionismo para driblar carências.

O fato é que a escalação não impediu o Vasco de ser envolvido pela Ferroviária, que faz um Campeonato Paulista apenas razoável. A boa notícia é que a estreia de Quintero, reforço crucial para um setor com pouquíssimas opções, trouxe boa proteção da área, num jogo em que os zagueiros acabaram sendo muito exigidos. Anderson Conceição, aliás, fez boa partida. Mas tudo isso sinalizava o volume de jogo dos donos da casa. Weverton e Edimar, laterais que têm oscilado demais, sofriam muito na marcação das jogadas pelos lados da Ferroviária.

No segundo tempo, entre uma defesa e outra de Thiago Rodrigues, Zé Ricardo se viu sem tantas alternativas para mudar a cara do jogo. Tanto que, ao tirar Raniel, aparentemente por cansaço, colocou Getúlio, que não é exatamente um jogador talhado para o contragolpe em velocidade. Para o lugar de Juninho, recorreu ao jovem Andrey dos Santos, outro meio-campista. O Vasco se limitou a resistir.

Por mais rapidez que consiga dar ao trâmite político que envolve a aprovação da venda da SAF para o grupo 777 Partners, não é simples imaginar um fluxo de recursos ainda nesta janela de transferências. É possível que o Vasco comece a disputa da Série B com um elenco formado a partir de dificuldades similares às que levaram à construção do grupo atual. Será preciso ter criatividade para suprir carências. Este é um passo mais importante do que se limitar a discutir o futuro do treinador.

Fonte: Blog do Mansur - Globoesporte