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Análise: acesso do Vasco reflete sofrimento e espírito de luta

De tudo que foi dito até aqui sobre o Vasco, duas verdades pairam como absolutas e incontestáveis desde o início da temporada: a de que o elenco, repleto de deficiências, esbarra na sua própria limitação técnica; e a de que, por outro lado, esse é um time formado por jogadores que se dedicam por inteiro e dos quais pode se esperar sempre, pelo menos, muita entrega e determinação em campo.

Foi dessa forma, com sofrimento e espírito de luta, que o Vasco venceu o Ituano neste domingo e voltou à Série A do Campeonato Brasileiro.

Fica difícil acusar um jogador sequer desse Vasco de em algum momento ter feito corpo mole, de ter tirado o pé de uma dividida. A política que guiou as contratações lá no início do ano, de buscar jogadores comprometidos com o projeto, foi certeira ao menos nesse ponto. O time, sim, levou a briga pelo acesso até a última rodada porque tropeçou nas próprias pernas no decorrer da Série B, levando em conta erros em tomadas de decisão dentro de campo e no planejamento fora dele.

A tensão vascaína era palpável na partida contra o Ituano, transformada em "Batalha de Itu" assim que entrou a bola cabeceada por Joécio na quinta-feira da semana passada, que decretou a vitória do Sampaio Corrêa em São Januário. Zero entrevistas, viagem para Itu antecipada, concentração estendida... O Vasco fez de tudo para espantar o abatimento e despejar o foco nos 90 minutos a caminho. No fim do jogo no Novelli Júnior, os jogadores não esconderam que o alívio e a alegria caminhavam lado a lado depois do acesso.

Dentro dessas circunstâncias, caiu dos céus o pênalti marcado logo aos dois minutos de jogo, com um "quê" do time que entrou em campo para brigar por todas as bolas. São pouquíssimos os jogadores que ganhariam de cabeça como fez Figueiredo no início do lance, pegando a defesa do Ituano de guarda baixa dentro da área. Para completar, Lucas Dias foi expulso. A tensão que se estendeu ao longo da última semana começou a se dissipar com a cobrança convertida de Nenê, aos cinco.

Esperava-se que, com um a mais, o Vasco tomasse as rédeas da partida. Houve um lampejo de ameaça com Nenê cobrando falta e Danilo Boza cabeceando rente à trave, um lance seguido do outro. Mas a verdade é que o Vasco sofreu com um enorme bloqueio criativo - ora, quantas vezes isso não foi dito na temporada, hein?! Não era a noite de Andrey, por exemplo, que não conseguiu reger o meio de campo e acabou expulso no segundo tempo. Mas era a noite de Thiago Rodrigues.

Em outros momentos, a cabeçada de Aylon como manda o manual, forte e para o chão, teria fatalmente entrado. Mas era o dia do acesso do Vasco, e Thiago estava ali para lembrar isso a todos. A defesa aos 26 do primeiro tempo foi algo espetacular, comemorada por Jorginho na área técnica como se fosse um gol. O goleiro voltou a salvar o Vasco aos nove da segunda etapa, em finalização à queima-roupa de Gabriel Barros. O suficiente para deixar de lado as atuações inseguras no segundo turno para ser lembrado por muito tempo como o cara que pegou tudo no jogo do acesso.

Na base da vontade

Apesar da pressão do Ituano no primeiro tempo, o Vasco voltou do intervalo sem alterações e deu o recado de que estava satisfeito com o resultado e que a estratégia era esperar o tempo passar.

Por pouco, a vantagem não aumentou aos seis. Pelo esforço de Gabriel Pec e pela disparada de Luiz Henrique, que fez boa partida improvisado na lateral-esquerda, a bola merecia entrar, mas Jefferson Paulino não deixou o goleiro do Vasco brilhar sozinho e voou para fazer a defesa e estampar um semblante de incredulidade no rosto da dupla vascaína responsável pela jogada. Nenê, em seguida, também deu trabalho em chute de fora da área. E foi só o que fez o time de Jorginho no segundo tempo.

No mais, a equipe fechou a casinha e segurou o resultado com unhas e dentes, sobretudo depois da expulsão de Andrey, aos 11. Zé Gabriel, tão criticado pelos torcedores, entrou para corrigir o meio de campo e fez uma partidaça. Aparentemente a noite em Itu foi das redenções. Mas também houve brilho de quem vem mostrando regularidade, como a dupla de zaga formada por Danilo Boza e Anderson Conceição - em especial o capitão, um monstro nas rebatidas de cabeça.

O Ituano machucou menos do que se esperava do melhor time do segundo turno, mas terminou aplaudido por sua torcida. Um reconhecimento justo. Já os vascaínos, que roeram as unhas durante a maior parte do tempo, transformaram o Novelli Junior em São Januário ali pelos 38 minutos em diante, já que até o empate já garantiria o acesso. Foi difícil, sofrido à beça, mas o Vasco está de volta à Série A do Campeonato Brasileiro. No fim das contas, é só o que importa.

Fonte: ge