Medalhista olímpico, Caio Bonfim revela seu jogo inesquecível do Vasco

Um gol antológico, um título histórico ou uma goleada arrasadora costumam ser os critérios para que um jogo seja inesquecível na cabeça do torcedor - ilustre ou não. No caso do marchador Caio Bonfim, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Paris, uma partida, válida pela penúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2011, ficou eternizada na memória e, principalmente, no coração. Foi no confronto entre Fluminense e Vasco, no Engenhão, que o brasiliense pediu a então "ficante", Juliana, em namoro. O Cruz-maltino era um assunto frequente entre os dois torcedores e, por isso, o atleta, à época com 20 anos de idade, decidiu que o Vasco teria que "participar" do momento.

- Coloquei uma camisa branca por baixo da camisa do Vasco. Nessa camisa branca estava escrito: "Juh, quer namorar comigo?" e um espaço para marcar com a caneta "sim" ou "não". Tive que me preocupar para ela não perceber. A ideia era pedir quando o Vasco fizesse um gol. As nossas famílias torcem para o Vasco, a gente falava muito sobre o assunto - contou Caio, em entrevista ao ge.

Caio Bonfim - que havia assistido a jogos do Vasco em Brasília - decidiu marcar uma viagem para o Rio de Janeiro para ver o clube atuando na cidade pela primeira vez. Comprou as passagens aéreas e providenciou os ingresso de arquibancada. Ele precisava, no entanto, que o Trem Bala da Colina anotasse um gol para realizar o pedido. Foi sofrido, tenso. A agonia durou até os 31 minutos do segundo tempo, quando Alecsandro recebeu a bola do volante Rômulo e cabeceou contra a meta de Diego Cavalieri. A bola ainda bateu nas duas pernas do goleiro antes de estufar as redes.

- O jogo não saía do 0 a 0, e eu estava desesperado. Fiquei gritando: "Pelo amor de Deus, coloca o Alecsandro, que ele vai fazer um gol". Ele estava na reserva. Quando entrou no segundo tempo e marcou o gol de cabeça, levantei a camisa do Vasco e mostrei a blusa branca com o pedido. Mas, como a galera ao redor percebeu que quem fez o gol foi o jogador que eu pedi, todo mundo pulou em cima de mim. Eu mostrei a camisa, mas só quando acalmou eu conseguir ouvir se ela tinha falado sim. Na hora não deu para saber direito, só uns segundos depois. Veio a emoção, mas o nervosismo também. Jovem tem essas coisas, agora estou desinibido. Fiquei muito feliz.

O gol foi importante para manter o Vasco na disputa com o Corinthians pelo título do Brasileirão. O jogo, que deixou Caio Bonfim ansioso pelo gol, acelerou na reta final. O atacante Fred igualou aos 38 minutos, esfriando o clima. Entretanto, Bernardo, que também havia saído do banco de reservas, desempatou aos 45, levando o estádio ao delírio.

- Foi muito legal sair do estádio com a vitória. Eu estava em um jogo que o Romário estava perto de fazer o milésimo, em Brasília, naquele outro que o Aloísio Chulapa engasgou com um chiclete... mas ver um jogo no Rio é bem diferente. O Bernardo estava arrebentando, o gol foi bem no fim do jogo. A gente gostava muito do Dedé. Tinha o Fernando Prass, o Fágner. Foi uma tarde legal pela cidade, a gente sempre gostou de viajar. Depois da vitória, voltamos para Brasília felizes, naquele dia mesmo, 27 de novembro de 2011.

Em 2022, Caio e Juliana Bonfim, casados e pais de dois filhos, levaram Miguel e Theo ao Engenhão. Desta vez, o marchador não ficou na arquibancada. Ele venceu a disputa do Troféu Brasil na pista de atletismo do estádio e aproveitou para apresentar a história de amor às crianças.

- Contamos a eles que o papai e a mamãe começaram a namorar ali no estádio. Conheço o Engenhão, o Maracanã, está faltando ir a São Januário. Tenho que levar os meninos, que já nasceram vascaínos também.

Paixão de família

Natural de Sobradinho, no Distrito Federal, Caio Bonfim escolheu o Vasco por influência dos pais - que também são seus treinadores - Gia e João Sena. A mãe, inclusive, integrou o time de atletismo do Cruz-maltino no fim dos anos 90. O atleta, embora tenha optado pela marcha atlética, sempre adorou futebol e recebia o apoio de um tio, também vascaíno, para assistir ao jogos.

- Quando tinha jogo do Vasco, esse tio levava pipoca, fogos de artifício, fazia churrasco. Ele falava: "Você é vascaíno, tem que acompanhar os jogos". Quando eu comecei, vi que meu coração dava uma acelerada. E aí percebi que aquilo era torcer, aos quatro ou cinco anos, bem criança mesmo. Sempre fui apaixonado por futebol.

Em setembro, Caio Bonfim viveu mais um momento inesquecível. Foi homenageado pelo Vasco no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, antes do jogo contra o Palmeiras.

- Não fiquei perturbando os jogadores porque estavam focados. O Maicon veio falar comigo, conversei com o Felipe Maestro, com o (Rafael) Paiva. Foi muito legal viver os bastidores, ver o aquecimento, ir ao banco de reservas. O Felipe brincou comigo: "Cara, me ensina a marchar porque eu estou precisando". É muito bom ver pessoas admirando seu trabalho. Levei a medalha, ganhei camisa, fui muito bem tratado pelo Vasco. Levei meus filhos, que ficaram muito animados.

Semifinal da Copa do Brasil

Caio e Juliana Bonfim estarão juntos novamente, neste sábado, às 18h30, para acompanhar a semifinal da Copa do Brasil, entre Vasco e Atlético Mineiro, em São Januário. O Cruz-maltino perdeu o primeiro confronto, por 2 a 1, no Mineirão. Caso avance, enfrentará o vencedor de Corinthians x Flamengo, marcado para domingo.

O casal vai assistir em casa. Caio Bonfim está otimista e sonha com o bicampeonato da Copa do Brasil, repetindo o feito de junho de 2011, cinco meses antes do marcante Fluminense x Vasco.

- O Vasco criou espaços, mostrou algumas fragilidades do Atlético, apesar de ser um time de muita qualidade. O que não pode é tomar gol. O Atlético não consegue ser agressivo o tempo todo. Sendo otimista, vai ser 2 a 0 para o Vasco, mas sendo pessimista, 1 a 0 (risos). Se tomar gol cedo, vai ser loucura. A zaga precisa estar concentrada. O Vasco é um time organizado, vai dar bom. Se apertar, cruza na área para o Vegetti (risos).

Caio Bonfim e família em Brasília — Foto: Arquivo Pessoal
Caio e Juliana Bonfim no Mané Garrincha, em Brasília — Foto: Arquivo Pessoal

Fonte: ge

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