Josimar publica 'o mistério do futebol da 777' e 'o fiasco do Vasco'
O Mistério do Futebol da 777
A 777 é proprietária de vários clubes de futebol e consiste em um grupo de investidores privados americanos, que tem um histórico inconsistente em honrar seus compromissos financeiros, e é alvo de várias ações judiciais nos EUA. Mas quem são eles e de onde vem o dinheiro?
Por Paul Brown e Philippe Auclair
Este artigo foi publicado originalmente em inglês em 3 de julho de 2023 como o primeiro de uma série de artigos sobre a 777 Partners.
Poucos conheciam o nome da 777 Partners no mundo do futebol até setembro de 2021, quando a “empresa de investimentos alternativos sediada em Miami” adquiriu 99,99% das ações do clube italiano Genoa CFC por um valor estimado em 150 milhões de euros.
O futebol era quase como uma nota de rodapé na lista de atividades do grupo fundado em 2015 pelos empresários americanos Joshua C. Wander e Stephen W. Pasko, que iam de empréstimos controversos até aviação de custo baixo. Eles compraram uma pequena participação no Sevilha FC, campeão da Liga Europa em 2018 (Europa League), e aumentaram ainda mais sua participação dois anos depois comprando mais 1.200 ações chegando a ter 7,5 por cento do clube espanhol. No futebol era só isso.
No entanto, em menos de dois anos, a 777, uma empresa privada que insiste em não investir o dinheiro de outras pessoas, mas apenas a fortuna de seus donos, tornou-se proprietária de vários clubes, sendo superada apenas por alguns operadores em termos de profundidade e amplitude de seus investimentos em futebol de clubes, como por exemplo o City Football Group de Abu Dhabi.
O Sevilha foi apenas um teste e o Genoa CFC, o trampolim. Um gigante do futebol brasileiro, o Vasco da Gama juntou-se em fevereiro de 2022 ao tradicional clube italiano no portfólio do 777. O Standard Liège, um dos principais clubes do futebol belga juntou-se ao grupo um mês depois. O Red Star, um clube parisiense cujo status excede em muito suas conquistas mais recentes, seguiu em questão de semanas. A 777 também fez o supostamente impossível ao se tornar o primeiro acionista majoritário estrangeiro de um clube da Bundesliga, com o Hertha Berlim SC, quando comprou a participação de 64,7 por cento do bilionário alemão Lars Windhorst em novembro de 2022. A última adição na família de clubes da 777 até o momento foi o Melbourne Victory FC em janeiro de 2023, quando Wander e Pasko pagaram 6,1 milhões de dólares para adquirir 19,9% das ações do clube australiano e prometeram investir mais 20 milhões até 2028, quando então irão controlar 70 por cento de seu capital.
Isso significa que agora a 777 possui, total ou parcialmente, sete clubes de futebol em sete países diferentes em três continentes, por um investimento que a Josimar estima que pode chegar a 900 milhões de dólares no total (*). Isso sem incluir o ônus da dívida, uma quantia colossal para uma empresa que nem de longe é tão rica quanto outros fundos de ações dos EUA, e que recentemente voltaram seus olhos para clubes europeus.
Perdas significativas
A Clearlake Capital, por exemplo, que tem uma participação de 60 por cento no Chelsea e acabou de comprar 100 por cento do clube francês RC Strasbourg, administra 72 bilhões de dólares em ativos. A Elliott, que financiou a compra do Milan pelo empresário chinês Li Yonghong e retomou a posse do clube quando Li deixou de efetuar seus pagamentos, tem tamanho semelhante. A 777, em comparação, alega controlar 6 bilhões de dólares em investimentos, um valor que não é possível confirmar, pois, como é a regra para empresas privadas americanas, as contas da empresa não são disponíveis ao público.
Através do Relatório de Condição Financeira de uma de suas subsidiárias, a 777 Re. Ltd., pode-se ter uma idéia sobre a estrutura corporativa e as finanças do grupo. O relatório está arquivado junto às autoridades das Ilhas Bermudas, um paraíso fiscal onde está sediada a subsidiária, e mostra que a empresa registrou um prejuízo de 26,7 milhões de dólares, antes de descontar os impostos, no ano encerrado em 31 de dezembro de 2021.
O tamanho dos gastos da 777 é ainda mais impressionante porque eles não compraram apenas ativos de futebol. Eles também assumiram os consideráveis passivos deles, comprometendo-se a gastar nos próximos anos dezenas, centenas de milhões a mais em aquisições de jogadores, encargos de dívida e infraestrutura. Nenhum de seus clubes é lucrativo. Na verdade, o império de futebol da 777 parece ter perdas significativas.
O Sevilha, apesar de todos os seus triunfos improváveis na Liga Europa, perdeu quase 60 milhões de euros nos últimos dois anos. O Genoa CFC anunciou prejuízo de 61,7 milhões de euros na temporada 2021-22, enquanto o déficit do Vasco da Gama foi de pouco menos de 22 milhões de dólares no mesmo período. O Standard Liége não se saiu nada melhor em 2021-22, perdendo 20,2 milhões de euros, e o Red Star ficou no vermelho na casa dos 2,4 milhões, uma fortuna para um clube que joga no National, o terceiro nível da pirâmide do futebol francês. A contabilidade do Hertha Berlim SC para 2021-22 revela uma perda de 79,6 milhões de euros (em comparação a 83,3 milhões no ano anterior), o que torna mais fácil entender por que Windhorst estava ansioso para encontrar um comprador. Por último, o Melbourne Victory FC ficou 4,5 milhões de dólares em prejuízo na temporada passada.
O apetite da 777 por clubes de futebol não parece ter sido prejudicado por esses números sombrios. Eles pretendem preencher a grande lacuna em seu portfólio com um clube inglês. O nome da empresa foi mencionado recentemente em relação a uma possível aquisição do Everton FC, com pelo menos uma oferta real de compra. A redação da Josimar foi informada mais tarde que a conversa sobre uma aquisição completa pode ter sido apenas um exercício de relações públicas útil para ambos os lados. Depois disso os clubes ingleses West Ham e o Sheffield United também foram vinculados à empresa dos EUA, embora nenhuma proposta concreta tenha sido feita em nenhum dos casos.
“Não faz sentido para mim”
A questão é: qual é a lógica por trás do esforço de construção do império da 777? Exceto o Sevilla e, até certo ponto, o Melbourne Victory FC, os clubes que eles adquiriram até agora compartilham algumas características-chave. Todos eles são instituições, símbolos que ressoam na história do futebol, clubes que conheceram dias melhores em termos de sucesso em campo, mas que ainda contam com apoio considerável dos fãs. Seu potencial é real, com uma ressalva importantíssima: para realizá-lo, será necessário um financiamento extra considerável e sustentado, e até mesmo isso pode não ser suficiente em ligas como as da Bélgica, França, Brasil e Itália, onde a lucratividade é um sonho quase inacessível. Uma coisa é comprar um clube, e outra bem diferente é continuar injetando dinheiro nele apenas para fazê-lo sobreviver, como eles fizeram e terão que fazer no futuro próximo para cada um dos clubes.
Além disso, não é como se a 777 tivesse identificado um único ativo em dificuldade, e que com algum tempo, muita imaginação e bastante dinheiro poderia ser transformado em uma mercadoria valiosa e negociada com lucro, como a Elliott fez com o Milan, quando o vendeu para outro investidor americano, a Red Bird Capital Partners. Não é como se pudessem recorrer aos meios que Clearlake tem à sua disposição, o que lhes permitiria jogar um jogo a longo prazo, como os associados de Todd Boehly estão preparados para jogar com o Chelsea e, agora, com o RC Strasbourg. Eles não podem recorrer ao tipo de apoio estatal (direto ou indireto) com o qual o Grupo City Football, o fundo soberano saudita PIF ou a Qatar Sports Investments podem contar para promover suas ambições. Eles não podem nem mesmo recorrer a outros investidores privados para financiar sua campanha de aquisição, já que a 777 afirma que todo o dinheiro que estão investindo e, até agora, perdendo, está vindo dos bolsos de seus donos.
O modelo da 777 é único, e de acordo com vários corretores de financiamento de futebol que a Josimar consultou, é improvável que seja replicado. “Em termos puramente financeiros”, disse um deles, “não consigo ver como eles vão ter retorno sobre o investimento, mas consigo ver como eles podem perder muito mais dinheiro. A coisa toda não faz sentido para mim.”
Então, quem são exatamente os homens por trás da 777 e de onde vem o dinheiro deles?
O problema Josh
A imagem da empresa é Josh Wander, formado da Universidade da Flórida com um histórico atribulado e que viu seu nome aparecer repetidamente em tribunais nos EUA.
O primeiro problema de Wander com a lei, ocorreu quando ele foi preso por tráfico de drogas aos 21 anos. Sua prisão, no Dia dos Namorados de 2003, não foi a única vez em que ele caiu em desgraça com as autoridades dos EUA. Ele foi preso mais duas vezes na Flórida, seu estado natal, em 2009 e 2018, por outras acusações menores, e, ao longo dos anos, tanto ele quanto muitas das empresas não relacionadas ao futebol dentro do grupo ou relacionadas ao portfólio da 777 foram nomeadas em uma série de outros casos judiciais extremamente polêmicos e, às vezes, profundamente chocantes nos EUA, alguns dos quais ainda estão em andamento.
Voltando ao começo quando ainda era estudante, Wander foi preso com um pacote contendo 31,2 gramas de cocaína que estava sendo rastreada por agentes da força-tarefa Antidrogas (Drug Task Force). Wander alegou que a cocaína era para ele e um amigo e, um ano depois, não contestou as acusações de tráfico de cocaína e posse de materiais para drogas em um tribunal da Flórida. Ele foi condenado a 16 anos em liberdade condicional. Uma reportagem publicada na época afirmou que ele evitou uma possível sentença de 26 anos de prisão com sua declaração, com um porta-voz do Gabinete do Procurador do Estado alegando que “um caso relacionado está sendo investigado e Wander deve cooperar para poder ser liberado “.
Nessa altura, Wander já havia se formado na universidade, onde ele conheceu vários associados que mais tarde se juntariam a ele na 777, e entrou no mundo dos acordos estruturados, onde ele alega ter ganho seu dinheiro. As empresas desse setor geralmente oferecem uma quantia para pessoas que foram recompensadas com pagamentos periódicos para resolver uma ação judicial decorrente de um processo de reivindicação por lesão corporal ou morte injustificada.
Enquanto trabalhava como diretor de aquisições para a Serviços de Ativos Estruturados LLC (Structured Asset Services LLC) em 2009, Wander recebeu uma carta de referência de Andrew Savysky, o presidente da empresa na época, em apoio a várias moções relacionadas aos termos de sua liberdade condicional. A carta foi enviada ao tribunal. Mas então, Savysky a retirou dramaticamente e em vez disso, processou Wander, alegando que ele “se apropriou indevidamente de informações confidenciais da empresa e segredos comerciais e contrário a isso, violou os termos de seu contrato de trabalho”. Savysky escreveu a um juiz da Flórida em setembro de 2010, dizendo: “Independentemente do resultado do processo, não posso mais manter minha carta de referência”. Entre a escrita dessas duas cartas, Wander foi preso novamente em julho de 2009 por não comparecer ao tribunal.
SuttonPark
Após deixar a empresa de Savysky, Wander conheceu Steven W. Pasko, um ex-corretor imobiliário que mais tarde se transferiu para um banco de investimento, e a dupla foi cofundadora da SuttonPark Capital em 2010, “uma empresa de investimento de propriedade independente”. A SuttonPark cresceu rapidamente e atualmente afirma ser “o principal agregador atacadista e prestador de serviços de acordos estruturados nos Estados Unidos”. Várias fontes que trabalharam para a 777 disseram a Josimar que esta é a única empresa em seu portfólio que consistentemente gera grandes quantias de dinheiro.
Mas Wander simplesmente não consegue manter seu nome fora dos tribunais. Em 14 de outubro de 2011, ele se envolveu em problemas com o Bellagio, um famoso resort e cassino de Las Vegas que aparece como cenário central do sucesso de bilheteria de Hollywood Onze Homens e um Segredo. O Bellagio lhe adiantou 78.000 dólares em crédito, mas foi forçado a levá-lo ao tribunal quando ele deixou o resort tendo pago apenas 5.000 dólares. Em novembro do ano seguinte, tendo pago parte da dívida, um tribunal do estado de Nevada ordenou que ele liquidasse o restante além dos custos processuais, colocando sua dívida pendente em 54.500 dólares. Em 6 de novembro de 2018, Wander ainda não havia pago todo o dinheiro e os documentos judiciais mostram que ele havia feito cinco pagamentos menores ao longo de 2013, nenhum dos quais de mais de 10.000, mas que, juntos, totalizaram 43.000 dólares. Mas como agora a dívida já acumulava juros pós-julgamento de 6.353 dólares, Wander ainda devia ao Bellagio 17.853 dólares quando uma declaração juramentada de renovação foi apresentada ao tribunal.
Agora um figurão na Flórida, ele começou a estabelecer seu nome entre os ricos e famosos e, em 2012, foi fotografado na boate LIV em Miami festejando com o astro global do esporte LeBron James e seus companheiros de equipe do Miami Heat, na noite após o Heat vencer o campeonato da NBA daquele ano. James e seu companheiro de equipe Dwyane Wade cantaram em microfones, dançaram no palco e atiraram para o ar com armas de ar comprimido, enquanto Wander observava usando um par de óculos imensos de aro vermelho. O magnata da mineração e do mercado imobiliário Wayne Boich, que ajudou a fundar a 777 Partners, também foi fotografado com eles.
Mas Wander foi intimado ao tribunal na Flórida mais uma vez em janeiro de 2013, acusado pelo Banco American Express Centurion, no Estado de Utah, de não pagar uma fatura de cartão de crédito. A empresa fechou sua conta em abril de 2013, alegando que ele devia 245.516 dólares. Em agosto, ele foi ordenado pelo tribunal a pagar o valor total, mais os custos processuais. Em novembro, ele havia pago a dívida integralmente.
Em 2015, Wander havia fundado a 777 Partners junto com Pasko, que é descrito por fontes próximas aos dois como o mentor dele, e a Sutton foi incluída no portfólio da 777.
“Estes homens são nojentos”
Mas a essa altura, a SuttonPark, até hoje ainda de propriedade da 777, estava se envolvendo em casos legais onde acusações sérias foram feitas contra eles, duas das quais giravam em torno de duas jovens vulneráveis e infelizes, Lyndsy Goney e Tierra Douglas. Ambos os casos continuam em andamento.
Lyndsy Goney tinha apenas 13 anos quando ficou gravemente ferida depois que um caminhão bateu no carro em que ela era passageira. Como resultado desse acidente, Lyndsy fez um acordo de 1 milhão de dólares. Sem apoio ou acompanhamento, ela se tornou viciada em drogas e perdeu todo o seu dinheiro. Durante 2016 ela vendeu sua anuidade em etapas para uma subsidiária da SuttonPark chamada Liberty Settlement Solutions LLC por apenas 273.556 dólares. A mãe e o pai de Lyndsy, Lori e Rodney Goney, mais tarde entraram com uma ação judicial alegando não apenas que a Sutton “tirou vantagem da condição de viciada e da necessidade de dinheiro de Lyndsy, e pagou a ela um preço irracionalmente baixo”, mas que a empresa “fez a compra sequestrando Lyndsy e seu filho, mantendo Lyndsy nas drogas e demonizando seus pais”, em violação à Lei de Organizações Influenciadas por Crime Organizado e Corruptas (RICO na sigla em inglês).
A chave para o caso é a alegação feita em documentos judiciais, vistos pela Josimar, de que a Sutton “investiu e controlou um empreendimento que conduzia um padrão de atividades de crime organizado”, incluindo “sequestro, suborno, extorsão e tráfico de substância controlada”. Nenhuma das alegações foi provada no tribunal.
A Josimar contatou Lori Goney para perguntar sobre as alegações que ela fez sobre agentes trabalhando para a Sutton. Ela disse: “Esses homens são nojentos. Eles são horríveis. Eles deram drogas para Lyndsy. Eles tiraram meu neto. Ele tinha três anos! Eu tentava encontrá-los todas as noites. Eles não a queriam perto de mim, porque eu estava tentando acabar com isso. Eles pegavam o celular dela. Alguns deles. Toda vez que eu pegava o número dela, eles mudavam. Eles a mantinham em hotéis. Foi assim por meses. Até que finalmente a encontramos e a levamos para casa. Mesmo assim, eles tentaram chantageá-la. Eles a filmaram depois de deixá-la drogada no hotel e disseram que se ela não parasse, eles iriam espalhar isso nas redes sociais. Eles são totalmente sem limites. Eles são pessoas más.”
Lori alega que associados da empresa a ameaçaram e, após relatar isso ao tribunal, sua advogada Farva Jafri recebeu uma mensagem ameaçadora que está sendo investigada pelo FBI. Um boletim de ocorrência policial confirma essas alegações.
“Estas empresas exploram pessoas”
Joshua Wander era presidente da SuttonPark na época em que os supostos crimes ocorreram e a ação judicial foi aberta. Ele ainda está relacionado como “fundador” da empresa no LinkedIn. Pasko continua relacionado como sócio-gerente e CEO da SuttonPark no site da empresa.
Por mais extraordinários que os detalhes desse caso possam ser, ele está longe de ser a única ação judicial desse tipo movida contra a SuttonPark.
Em 2017, uma mulher esquizofrênica de 24 anos do estado do Missouri chamada Tierra Douglas, concordou em vender pagamentos periódicos no valor de 2,2 milhões de dólares para a mesma subsidiária da SuttonPark, a Liberty Settlement Solutions, pela qual ela recebeu uma quantia única de 500.000 dólares. Tierra foi hospitalizada para tratamento de saúde mental seis vezes antes de conhecer a Liberty. Filha única, ela estava recebendo os pagamentos isentos de impostos, como resultado de uma ação judicial movida após a morte injustificada de seu pai em um acidente de caminhão quando ela tinha apenas 14 anos. Seu caso contra a Liberty e a Sutton alega que ela nunca recebeu aconselhamento jurídico em momento nenhum durante as negociações para vender seus pagamentos. A ação judicial aberta em 2019, também alega que logo após a Liberty comprar seus pagamentos, seu dinheiro desapareceu em um golpe de investimento em hip hop envolvendo os artistas de rap Cool e Dre, que também são nomeados como réus no caso. Em vez de ser usado para financiar a produção de um álbum de música, do qual ela receberia direitos autorais (royalties), alega-se que seu dinheiro foi usado para construir uma piscina.
A Josimar falou com Edward Stone, o advogado que representa Tierra Douglas no caso e ele ainda está tentando recuperar o dinheiro dela da SuttonPark. “Eles disseram que ela teria um acordo de royalties”, explica Stone. “Ela nunca viu um centavo. Entramos com uma ação judicial alegando que eles se aproveitaram de um adulto deficiente e que a coisa toda foi orquestrada. Os pagamentos que a Tierra Douglas vendeu estão indo para a SuttonPark. A SuttonPark é basicamente uma grande lata de lixo no negócio de acordos. Eles compraram um monte de empresas e diferentes direitos de pagamento. Eles estão totalmente cientes do que aconteceu aqui. Para Tierra Douglas é uma tragédia, pois ela perdeu tudo. Estas empresas exploram as pessoas.”
Enquanto tudo isso estava acontendo, a 777 estava dando seus primeiros passos no futebol, comprando uma participação no Sevilha FC em 2018. Em fevereiro do mesmo ano, Joshua Wander foi preso novamente, dessa vez pelo Departamento de Polícia de Miami Beach por não registrar um carro.
Seu nome então apareceu em uma ação judicial de 2019 na Virgínia, alegando que a 777 havia entrado em um negócio de empréstimos ilegais com a Rosebud Lending, uma credora predatória formada pelo braço de desenvolvimento econômico dos Rosebud Sioux, uma tribo nativa americana. A Rosebud é acusada em documentos judiciais vistos pela Josimar de mirar mutuários vulneráveis com empréstimos de curto prazo, com taxas de juros de três dígitos de até 790 por cento. Os consumidores geralmente renovam os empréstimos ou fazem novos empréstimos quando não conseguem pagar seus empréstimos originais, criando um círculo vicioso.
A ação judicial alega que a Rosebud “celebrou acordos com a 777 Partners… para fazer e cobrar empréstimos usurários sob o nome Zoca Loans.” E continua dizendo: “Com base em informações e crenças, Josh Wander… ajudou a desenvolver o negócio de empréstimos ilegais, incluindo a negociação do acordo… e o registro do domínio da Zoca Loans.”
Segundo as alegações, a Rosebud fez e coletou estes empréstimos ilegais nos EUA sob vários nomes diferentes e é organizada sob as leis da Tribo Sioux Rosebud “com o propósito duplo de evitar leis estaduais e federais e proteger os participantes não tribais da empresa de responsabilidade”.
Flair
Em busca de novas oportunidades de investimento em outros mercados, a 777 começou a se ramificar no setor de aviação, adquirindo em 2019 uma participação de 25% na Flair Airlines, uma companhia aérea canadense de baixo custo. Mas enquanto a Flair crescia rapidamente, ela teve a posse de quatro jatos de passageiros Boeing 737 MAX devolvidos em 11 de março de 2023, pelos quais a companhia aérea culpou uma “conspiração” e entrou com uma ação judicial de 50 milhões de dólares. Os jatos tinham sido alugados para a Flair, mas, de acordo com a locadora, a empresa irlandesa Airborne Capital, os pagamentos mensais que deveriam ter sido feitos pela 777 não se materializaram. Oficiais de justiça assumiram o controle de um avião três horas antes de sua partida do Aeroporto Internacional da Região de Waterloo, programada para às 07:20, com dois veículos policiais saindo da pista e o voo cancelado, deixando famílias que estavam esperando para voar para férias em Orlando, na Flórida, abandonadas.
A denunciante Jocelyn Harris, vice-presidente de finanças da Flair até o final de 2020, mais tarde alegou que a Flair devia à 777 Partners cerca de 129 milhões de dólares até o final de 2020, e que o empréstimo veio com uma taxa de juros de 18 por cento. Desde então, ela entrou com uma ação de demissão injustificada e assédio contra a empresa. Desde seu investimento na Flair, a 777 também adquiriu a companhia aérea australiana de baixo custo Bonza.
Porém, a 777 se viu novamente sujeita a ações judiciais. Em uma reclamação apresentada no estado de Delaware em fevereiro de 2023 pelo ex-diretor comercial da Flair, Timothy O’Neil-Dunne, a 777 foi acusada de fraude e quebra de contrato. A ação judicial também alegou que a 777 está ganhando dinheiro com as companhias aéreas nas quais possui participações, cobrando a mais deles através de seu negócio de leasing de jatos, a 777 Jet Lessors.
O caso alega que a empresa compra aviões Boeing 737 com desconto de cerca de US$ 42 milhões e, em seguida, os aluga para suas próprias companhias aéreas por US$ 52 milhões, obtendo um lucro de até US$ 10 milhões por avião no momento da entrega. Documentos também alegam que essas companhias aéreas seriam capazes de garantir aluguéis menos custosos no mercado aberto, e que empréstimos intercompanhias a taxas de juros acima do mercado também geram receita adicional para a 777 Partners. Essas alegações ainda não foram provadas no tribunal.
A Flair também está enfrentando uma ação judicial de seu maior investidor doméstico, a Prescott Strategic Investments, que é parcialmente de propriedade do ex-CEO da Flair, Jim Scott. A Prescott também nomeou a 777 na ação.
Joshua Wander e sua empresa agora possuem participações em vários clubes de futebol ao redor do mundo e investiram 7 milhões de libras em dezembro de 2021 para adquirir uma participação de 45% na Liga Britânica de Basquete (British Basketball League). Eles também possuem uma participação majoritária no London Lions, um time da LBB (BBL na sigla em inglês), que ganhou uma Tríplice Coroa doméstica na temporada passada. A 777 estava em negociações sobre um investimento na LBB há meses, durante as quais Joshua Wander conseguiu comprar uma cobertura de US$ 8 milhões, com cinco quartos e seis banheiros em um empreendimento de condomínio de luxo à beira-mar em Miami Beach. O imóvel tem 1.630 metros quadrados de espaço interno e 2.346 metros quadrados de área externa. Mas os registros mostram que a compra, feita por Wander e sua esposa Alison, foi financiada por um empréstimo de US$ 5 milhões da JPMorgan Chase. E uma fonte, falando sob condição de anonimato, disse a Josimar que o financiamento contínuo da LBB pela 777 está em dúvida.
As alegações contra a 777 de contas não pagas e pagamentos atrasados, em particular, continuam até hoje. Em uma ação judicial movida pelo Fundo Vida Longevity em julho de 2022, a 777 Partners, a SuttonPark e a empresa subsidiária Signal Funding são acusadas de inadimplência em um empréstimo de US$ 60 milhões feito quase 18 meses antes. O caso continua em andamento.
E em março de 2023, a 777 recebeu uma intimação judicial da American Express por uma fatura de cartão de crédito não paga de US$ 324.002.
Então, como a 777 pode sobreviver quando tantos de seus clubes de futebol, companhias aéreas e empresas conectadas parecem estar com dificuldades financeiras? Um ex-funcionário da 777, falando sob condição de anonimato, disse: “Todas essas empresas estão perdendo dinheiro. Esporte? Prejuízo. Aviação? Prejuízo. Mas quem vai assumir o prejuízo? Os parceiros do consórcio. Esses caras são trapaceiros. Eles alegam ser autofinanciados, que investiram seu próprio dinheiro nisso. Mas eles não podem ter tanto dinheiro quanto dizem que têm. Simplesmente, isso não é possível. Mas eles não precisam de muito dinheiro. Porque o que eles realmente fazem é desviar o dinheiro. É uma grande falcatrua. O mesmo dinheiro está sempre em movimento. E eles estão administrando isso de forma cada vez mais eficaz.”
A 777 afirma em seu site ser “investidores destemidos” construindo “uma empresa autossuficiente que não depende de bancos e investimento de terceiros”. Suas operações certamente causaram muito transtorno ao redor do mundo. Mas a Josimar entende que o financiamento inicial veio de fontes externas, incluindo o Grupo Boich Investment e a Leadenhall Capital Partners, uma gestora especializada em seguros e investimentos com sede em Londres. E fontes familiarizadas com as finanças da 777 também afirmam que financiamento adicional veio de grupos de capital privado, assim como uma série de indivíduos de alto patrimônio líquido que ainda não foram mencionados publicamente. Mas as mesmas fontes perguntam se tudo isso é sustentável, uma pergunta que alguns fãs dos vários clubes de futebol da 777 também estão se perguntando agora.
Resistência no Red Star
Para a maioria dos fãs dos clubes que foram trazidos para a esfera de influência da 777, isso fez sentido, pelo menos no início. Os investidores americanos prometeram tratar todos os seus clubes igualmente. Não haveria clubes ‘alimentadores’, nenhuma hierarquia pré-estabelecida que sufocaria alguns em benefício de outros, nenhuma instrumentalização e nenhuma exploração. A “família de clubes” da 777 funcionaria como uma rede orgânica.
Nem todo mundo acreditou nessa visão. Os torcedores mais leais (ultras) do Red Star certamente não, um clube que foi fundado em 1897 pelo futuro presidente da Fifa, Jules Rimet e traça sua identidade de sua história única de oposição ao fascismo, e cujo Estádio Bauer recebeu o nome de um resistente comunista judeu que foi executado pelos nazistas em 1942. Em 15 de abril de 2022, os ultras do Red Star, furiosos por ver seu clube comprado por capitalistas americanos que não tinham nenhuma conexão com sua história, interromperam um jogo em casa contra o FC Sète, jogando bombas de fumaça no campo. A partida teve que ser abandonada e, embora não tenha havido repetição desse ato, a oposição à propriedade da 777 está tão feroz como sempre naquele canto do subúrbio parisiense.
O Fiasco do Vasco
Em outra parte, o envolvimento da 777 seguiu sobretudo o mesmo roteiro de três atos. Primeiro ato, esperança. Segundo, cair na realidade. Terceiro, desilusão. A melhor ilustração dessa história provavelmente é o que está acontecendo no Vasco da Gama.
O comunicado oficial do Vasco descreveu-a como “a maior transação da história do futebol brasileiro”. A 777 havia comprado 70% das ações do clube da Sociedade Anônima de Futebol, acionista majoritária do Vasco, em troca de 700 milhões de reais (o equivalente a 150 milhões de dólares) e se comprometido a assumir a dívida do clube, que totalizava o mesmo valor. A 777 pagou 190 dos 700 milhões de reais em 2022, 70 milhões como empréstimo para colocar as contas do clube em dia e o restante como injeção direta de dinheiro, de acordo com o cronograma acordado (*). Até então, tudo bem.
Joshua Wander fez promessas que falavam aos desejos mais queridos de todo fanático vascaíno. Em março de 2022, ele disse à mídia local que o próximo jogo contra o Flamengo seria o último em que o Vasco da Gama sofreria uma desvantagem financeira em relação ao seu feroz rival. Os resultados em campo deram margem para otimismo, para começar. O tradicional gigante carioca, que havia sido rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro na temporada 2020-21, se recuperou imediatamente e foi promovido – uma promoção apertada, conseguindo a última vaga para o acesso. É verdade que o retorno ao nível de elite do futebol brasileiro tem sido uma decepção até agora: no momento em que este artigo foi escrito, o Vasco está novamente instalado na zona de rebaixamento, 13 pontos atrás do Flamengo, 21 atrás do líder Botafogo. Talvez alguma inconsistência fosse de se esperar.
Mas o que não era esperado foram os problemas de fluxo de caixa, que logo afetaram o clube e explicam por que hoje o Vasco ainda está atrás do Flamengo, cuja folha de pagamento é quase cinco vezes maior. Em 31 de dezembro de 2022, o último balanço disponível mostrou passivos de 773,3 milhões de reais (163 milhões de dólares) e um déficit de 594,5 milhões de reais (124 milhões de dólares). A maior parte do dinheiro investido pela 777 parece ter sido engolido pelos encargos da dívida, pagamento de atrasados e custos operacionais, deixando pouco para investir na melhoria do elenco. Mais preocupante, os credores começaram a fazer fila para exigir o pagamento de suas dívidas, credores que incluíam clubes que venderam jogadores para o Vasco e ainda estavam esperando o pagamento em maio deste ano.
Dois desses clubes, o Atlético Tucumán da Argentina e o Nacional do Uruguai, ameaçaram levar o assunto à Fifa e exigir que o Vasco fosse punido com uma proibição de transferência, caso eles não pagassem pelo zagueiro Manuel Capasso e o lateral ‘Puma’ Rodríguez, respectivamente, que custaram o total de 3,5 milhões de dólares. Os intermediários nessas transferências também parecem não terem sido pagos. De acordo com a mídia local GE, o Vasco também está em atraso nos pagamentos devidos a dois de seus jogadores estrelas, Andrey Santos e Lucas Piton, da seleção italiana. Há poucos dias, o jornalista local Jorge Nicola afirmou que um pagamento de 300.000 reais devido ao Naútico pelo empréstimo do jogador de 21 anos Mateus Carvalho, ainda não havia sido pago.
Mais recentemente, em 29 de junho, o Comitê Deliberativo da SAF, que ainda detém menos de um terço das ações do Vasco, convocou uma reunião extraordinária para discutir as finanças de seu clube, na qual foi revelado que em novembro de 2022, o Vasco SAF havia feito um empréstimo de 5 milhões de dólares para uma empresa de serviços financeiros chamada F3EA Holdings, que tem sede na Flórida e faz parte do grupo 777 Partners. Embora a maior parte desse empréstimo já tivesse sido paga, ele foi arranjado sem o conhecimento do Conselho de Administração da SAF, algo que o presidente do Comitê Deliberativo da SAF, Carlos Fonseca, chamou de “abuso de poder”. O motivo pelo qual uma empresa da 777 Partners precisaria de um empréstimo de 5 milhões de dólares de um de seus próprios ativos não foi esclarecido na reunião ou pelo próprio 777 Partners, que não estavam presentes na reunião extraordinária.
O quadro também foi escurecido pelos incidentes sérios que marcaram uma derrota recente em casa para o Goías, e viram o Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Brasil determinar que nenhum torcedor do Vasco seria autorizado a assistir às próximas cinco partidas do seu time. A lua de mel acabou de verdade.
Problemas, problemas, problemas
O reinado da 777 também não foi livre de problemas em outros lugares, com o Hertha Berlim SC sendo um caso particularmente doloroso. Para jogar sal na ferida, o clube de Berlim viu seu vizinho, o Union Berlin de propriedade e administrado pelos fãs, se classificar para a Liga dos Campeões, enquanto eles terminaram em último na Bundesliga 1 e foram rebaixados. Esse rebaixamento teria tido consequências catastróficas, se a federação alemã não tivesse concordado com o adiamento do pagamento de um empréstimo com juros altos de 40 milhões de euros tomado pelo Hertha. Se a federação alemã não tivesse sido tão complacente, o clube alemão da 777 teria perdido seu status profissional e sido rebaixado para a quarta divisão. Desde então, o empréstimo foi renegociado para que o Hertha tenha mais dois anos para pagá-lo, mas com uma taxa de juros quatro por cento mais alta.
Os fãs do Hertha não põem a culpa do rebaixamento do clube apenas nos ombros dos novos donos americanos e apontaram as decisões bizarras (especialmente no recrutamento) tomadas pelo antigo dono como o fator-chave por trás do desastre. Mas muitos deles esperam tempos difíceis pela frente, já que a temporada de 2023-24 da Bundesliga 2 está se moldando como uma das mais competitivas da história do futebol alemão, com grandes clubes como Hamburgo SV, Hannover 96, Kaiserslautern e Schalke 04 todos competindo pela promoção, onde o Hertha não aparece como um dos favoritos, já que não está claro se a 777 tem os meios ou a intenção de injetar mais dinheiro no clube. A revista alemã Kicker até sugeriu que Josh Wander poderia recorrer a investidores externos, incluindo o fundo soberano saudita PIF, para sustentar as finanças do Hertha Berlim SC.
Mesmo quando suas performances mostraram melhora, outros clubes da 777 tiveram, e ainda têm sua cota de problemas e polêmicas. O Genoa CFC foi rebaixado, depois promovido para a Série A após uma única temporada na segunda divisão. Mas essa conquista veio depois da perda de um ponto imposta no meio da temporada pela federação italiana, depois que o Genoa CFC perdeu o prazo de 16 de dezembro definido para pagar seu imposto de renda. O clube se declarou culpado e desde então liquidou sua dívida com o tesouro.
Por último, o Sevilha, com outra Liga Europa na sua sala de troféus, não é visto como uma “história de sucesso” da 777. O fundo americano é apenas um acionista minoritário no clube da Andaluzia, e sua principal contribuição para sua história recente tem sido tentativas de ganhar influência dentro do conselho do clube, que foram recebidas com xconsiderável oposição local. Por mais que tentem, a polêmica nunca está longe, sempre que, e onde quer que a 777 esteja envolvida.
Josh Wander, SuttonPark e a 777 Partners foram contatados para comentar.
(*) E não 12%, como afirmou à imprensa o representante da 777 na diretoria do Sevilha FC, Andrés Blazquéz em entrevistas, que também é presidente do Genoa CFC.
(*) A participação da 777 no Hertha Berlim SC agora é de 78,8%, incluindo ações que foram adquiridas de outros acionistas.
(*) Em dólares, Sevilha FC, 65 milhões (estimado); Genoa CFC, 175 milhões; Vasco da Gama, 137 milhões; Standard Liége, 55 milhões; Red Star, 19 milhões; Hertha Berlim SC, 374 milhões (estimado); Melbourne Victory, 6,1 milhões (aumentando para 21 milhões).
(*) A 777 se comprometeu a injetar mais 120 milhões de reais em 2023 (com vencimento em setembro), 270 milhões em 2024 e a última parcela de 120 milhões em 2025, quando o clube é suposto de ficar sem prejuízo.
Fonte: Josimar Football
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