Cruzmaltino e campeão pelo Vasco, Diego Souza fala sobre aposentadoria

Um adeus à distância para diminuir a saudade e relembrar os tantos momentos bons.

Diego Souza decidiu se aposentar. Ponto final a uma carreira de 20 anos, muitos namoros e três casamentos apaixonados: Vasco, Sport e Grêmio. Recordista entre os que vestiram a camisa dos clubes mais tradicionais do Brasil, o agora ex-volante, ex-meia e ex-centroavante assume o papel de torcedor entre Rio, Recife e Porto Alegre.

Foi no Leão, inclusive, que viveu seus últimos momentos como profissional. Diego Souza defendeu o Sport em 11 jogos na última Série B, marcou um gol e pendurou as chuteiras. A decisão foi amadurecida nas férias e anunciada em entrevista ao ge:

- A partir de agora, eu só vejo futebol pela televisão, no estádio. Vou torcer pelos meus amigos, mas eu estou decidindo parar de jogar. Vou curtir um pouco mais os meus filhos, a minha família. Foi bom, gosto bastante da minha profissão, mas decidi que dentro de campo, agora só na brincadeira.

Revelado pelo Fluminense, Diego defendeu ainda Benfica, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Atlético-MG, Vasco, Al Ittihad, Cruzeiro, Metalist, Sport, São Paulo e Botafogo. Desde a estreia aos 18 anos vestindo tricolor até o adeus, foram 943 jogos e 275 gols. Trajetória que o levou a defender a Seleção em sete partidas com dois gols marcados.

- Teve momentos bons para caramba, teve momentos ruins, mas eu sempre estava lá. Eu nunca corri da minha responsabilidade, nunca deixei de estar dentro de campo, até porque era uma coisa que eu sempre gostava muito de fazer. Ainda mais quando era jogo grande. Quando era jogo grande, aí que eu gostava de estar dentro de campo, porque era ali que eu gostava de jogar bem.

Agora aposentado, Diego Souza ainda não tem planos do que vai fazer profissionalmente. O futevôlei e as viagens com a família são prioridade, assim como a torcida pelos três clubes que mais tocaram seu coração. No último domingo, por exemplo, ele já foi ao Maracanã na companhia do filho Davi, vascaíno fanático, no clássico com o Flamengo.

- Eu, com certeza, até o resto da minha vida vou assistir jogo do Vasco, do Grêmio e do Sport.

- Esses três times, não vai ter como. Jogos importantes, finais, alguma coisa eu vou sempre ver. Aqui no Rio com mais frequência, mas com certeza em Porto Alegre e Recife torcendo por essas equipes e podendo festejar muitas e muitas vezes. Até porque, meu filho é vascaíno doente, está agora com a camisa do Vasco, e sabe tudo de futebol. Com certeza vai ser o meu companheiro para curtir como torcedor.

Em longo bate-papo de quase uma hora com o ge, Diego Souza contou com orgulho de cada passagem das duas décadas como jogador profissional. Se declarou ao Vasco em especial, detalhou o tão falado lance cara a cara com Cássio, do Corinthians, na Libertadores de 2012, escolheu o gol mais bonito e não titubeou ao apontar o melhor treinador:

- Papai Renato é fora (de série). Esse fica aqui e os outros disputam entre eles. Treinador igual ao Renato não tem.

Confira a íntegra da entrevista:

Quais são seus planos? O torcedor vai ver te ver nos gramados esse ano? Você vai parar? O que você decidiu?

A partir de agora, eu só vejo futebol pela televisão, no estádio. Vou torcer pelos meus amigos, mas eu estou decidindo parar de jogar. Vou curtir um pouco mais os meus filhos, a minha família. Foi bom, gosto bastante da minha profissão, mas decidi que dentro de campo, agora só na brincadeira.

Foi difícil esse processo de decisão?

Olha, eu já vinha me preparando há algum tempo, e o ano passado facilitou bastante para decidir parar de jogar. Na minha carreira inteira, eu nunca tive lesões, nunca fiquei mais de um mês parado. E, ano passado, eu sofri demais com lesões, com o meu joelho que eu tinha operado e com uma hérnia que eu já vinha carregando há algum tempo. Isso tudo fez com que eu parasse para pensar. Ainda bem que foi no final, mas está tudo bem e decidi parar de jogar com a cabeça bem tranquila.

Você volta ao Sport e foi um ano muito difícil. Você é um grande ídolo lá. Eu queria saber como foi viver esse ano de Série B sem conseguir o acesso. Isso de alguma forma te fez acelerar também esse processo de amadurecimento da decisão pela aposentadoria?

Não, isso não tem nada a ver. Eu só tenho a agradecer por tudo que eu vivi com a camisa do Sport, toda a recepção que eu tive nessa minha volta ao Recife. Mas todos lá sabiam que as minhas condições de campo eram um pouco mais difíceis. Eu sempre fui bem sincero, muito franco, e eu estava mais por presença de surfar naquela onda do Sport, de poder subir para primeira divisão. A segunda divisão é sempre muito complicada, muitos times, muitos jogos. Eu joguei até mais do que eu esperava. Tive que atuar em situações que não eram mais ou menos o combinado. Mas foi tudo bem. Não conseguiu o acesso, que é uma coisa que acontece no futebol. As frustrações aparecem. Não era o que a gente gostaria, mas isso acontece o tempo inteiro no futebol. Nem tudo é da maneira que a gente planeja. Foi onde eu terminei, onde eu gostaria de ter realmente voltado a vestir aquela camisa por tudo que aconteceu, uma história bonita. E eu já estava decidido, independentemente do que fosse acontecer, a parar de jogar e seguir agora a minha vida como uma pessoa normal, um pai de família.

A gente sabe que a torcida do Sport quer muito que você faça um jogo de despedida vestindo a camisa do clube. Isso é uma coisa que está nos seus planos? Você tem conversado com o clube sobre essa possibilidade?

Olha, não. Eu não conversei com ninguém ainda. Só quem sabe dessa situação, é até a primeira vez que eu falo sobre isso, é meu pai, minha família, meu empresário. Não tem muito na minha cabeça dessa situação de fazer uma despedida. Se acontecer vai ser legal, mas se não acontecer também vai continuar bem tranquilo. Até porque foi muito legal o que eu vivi dentro de campo e isso ninguém vai apagar, isso vai ficar na minha cabeça pra sempre.

Diego, 20 anos de carreira não são 20 dias. Dá para resumir, para tentar definir o que foi a sua carreira dentro de campo?

Assim... se você parar pra analisar tudo é muito engraçado, é difícil, porque desde de criança a gente tem que abdicar de tudo, né? Falar assim é... porque... porque vem lembranças de tudo que... Porque vai lembrando de certas coisas, de tudo que me fez chegar até aqui, então isso... Nossa, vai ser difícil falar (risos segurando o choro). Vai ser difícil para falar, porque... a gente acaba abdicando da nossa vida particular, de família, de amigos, de tudo. E entra nesse mundo de futebol, que é uma vida totalmente à parte. Quando a gente consegue superar isso tudo, que a gente para para pensar em tudo que a gente abdicou, tudo que a gente teve que dizer não... desde 16 anos, vai jogar bola com os amigos, não pode, tem que dormir cedo, porque tem que acordar cedo para treinar, tem que estudar, tem que fazer isso, tem que fazer aquilo.

Desde muito novo você aprende a lidar com a responsabilidade e com esse profissionalismo, que só assim você consegue ter sucesso na sua carreira. Então não é fácil, ser um jogador de futebol de alto nível é muito trabalhoso. E a gente às vezes vê algumas críticas a alguns atletas, mas só quem sabe é quem passa, de tudo que tem que abdicar, tudo que tem que trabalhar e absorver sozinho, muitas vezes, e realizar. Porque você pode ser o maior profissional, ou o melhor, pessoa de grupo, o que mais treina, mas quando chega na hora do jogo, se não conseguir colocar para fora, as coisas não caminham da maneira que você pensou e que você trabalhou para aquilo. Foi muito difícil, mas valeu muito a pena, porque com isso eu consegui mudar o patamar da minha família. Porque a gente vem de uma situação de baixo, mas eu sou muito feliz e muito grato de tudo que aconteceu na minha carreira.

O Diego moleque, que sonhava ser jogador de futebol, imaginava uma carreira como essa?

Cara, muito difícil. Muito difícil até porque a gente só tem o sonho, a força de vontade, a fé (emocionado). E a gente foi buscando, a gente foi superando obstáculos, e quando foi ver, as coisas aconteceram. E, graças a Deus, eu tive a personalidade, a vontade e a determinação de vencedor. E consegui passar por cima de tudo que estava na minha frente naquele momento para me tornar um Diego Souza.

Uma coisa que me chamou a atenção: quando você estava falando que decidiu parar de jogar, você falou "agora eu vou ser uma pessoa normal, um pai de família". Você sentia falta de ser essa pessoa nos últimos anos?

Sem dúvida, porque meu filho ia jogar bola, todos os pais estavam, e eu não. Aniversário do meu filho, muitas das vezes eu jogando ou viajando. Aniversário da minha filha, eu jogando ou viajando. Aniversário dos meus pais, eu só falava por telefone, a trabalho. Então você realmente fica bem distante das pessoas que querem o seu bem, das pessoas que sempre te ajudaram e que, naqueles momentos de felicidade... claro, você está buscando melhor pra todo mundo, todo mundo sabe da responsabilidade que eu tinha, mas a gente acaba… pros meus filhos acaba sendo ruim, porque eles não entendem. O Davi já entende, já tem 15 anos. A Manuela tem 12. Mas quando é novo, independentemente de você estar trabalhando, eles não entendem porque toda hora tem ausência do pai, então, é complicado.

Diego, você foi um cara que, só aqui no Brasil, passou por dez clubes gigantes. E impressiona que mesmo às vezes não ficando tanto tempo em um time, você conseguiu criar vínculos e criar histórias muito bacanas com muitos times diferentes. Como é que um jogador consegue isso?

Olha, eu sempre fui de verdade. Eu sempre assumi as minhas responsabilidades e sempre fui um jogador que independentemente do time que eu estava no momento, eu sempre joguei muito. Nunca fiquei machucado, sempre estava dando a cara tapa. Teve momentos bons para caramba, teve momentos ruins, mas eu sempre estava lá. Eu nunca corri da minha responsabilidade, nunca deixei de estar dentro de campo, até porque era uma coisa que eu sempre gostava muito de fazer. Ainda mais quando era jogo grande. Quando era jogo grande, aí que eu gostava de estar dentro de campo, porque era ali que eu gostava de jogar bem. Era naquele momento que você mostrava sua força e realmente mostrava o seu valor. E eu gostava desse tipo de jogo, porque era ali que você realmente olhava para o outro lado e falava “ali é bom? Mas eu também sou! Vamos ver hoje o que vai acontecer".

Você também gostava de um clima de rivalidade? Porque é curioso se a gente notar que você passou pelos quatro grandes do Rio, pelos dois grandes de BH, por dois grandes de SP... você gostava de viver essas rivalidades, essas provocaçõezinhas, às vezes?

Olha, eu nunca fui de falar muita coisa, mas eu gostava dessa rivalidade, sim. Gostava dos clássicos, jogos mais marcantes, mais pesados, onde tinha muita torcida, onde você acorda 9h para tomar café e já vê aqueles zunzunzum e o jogo é só 22h. Então aquela adrenalina de jogos bons, isso sem dúvidas vai deixar muita saudade.

Era isso que eu ia te perguntar agora. Você falou muito das coisas que você perdeu, que você teve que abdicar enquanto jogador. Do que você acha que você mais vai sentir falta agora como ex-jogador?

Sem dúvida, esses jogos mais marcantes, esses clássicos. Eu levei meu filho agora no Maracanã no jogo entre Vasco e Flamengo. E aquele jogo é um jogo que para mim vai ser marcante, porque eu fiz muitos gols, joguei bem, e foi um clássico que eu tenho mais vitórias do que derrotas. Então vai ser um jogo que sem dúvida, toda vez que tiver esse tipo de clássico, vai dar aquela saudade, porque é um jogo marcante que a gente viveu muito. Como os Gre-Nais também. O Gre-Nal nem se fala. A maior rivalidade do futebol brasileiro sem dúvida é o Gre-Nal. São coisas que você vê que são bizarras, que acontecem antes dos jogos e como fica a semana da cidade. Isso sem dúvida deixa muita, muita saudade pra quem para de jogar futebol.

Você viveu muitos clássicos estaduais, o Gre-Nal é o mais impressionante?

Sem dúvidas. O Gre-Nal para mim é o clássico que você pode classificar como número um, é a maior rivalidade do futebol brasileiro.

Você começa a carreira no Fluminense como volante, vai avançando, avançando e termina como centroavante. Era uma coisa que você esperava que pudesse acontecer?

Não. Eu joguei de volante e às vezes de primeiro volante, de segundo, e fui ganhando terreno. Quando eu subi para o profissional, não tinha muito isso. Quem jogava no meio, tinha que jogar de lateral, de meia, marcando individual... A gente só queria um espaço para mostrar o nosso valor, né?! Hoje em dia, tudo é muito mais apresentável. A Copa São Paulo aparece na televisão, tem Brasileiro no Sportv... Então, quando o menino sobe, todo mundo já conhece as características, onde é bom. Antes, ficava mais no zum-zum-zum de que é bom jogador, mas não viam e não tinha a dimensão de hoje. Eu subi para o profissional e tinha o Romário, no ano seguinte o Edmundo, Roger, Diniz jogava, Jorginho jogava, Magno Alves, Roni, um monte de jogador consagrado e a gente buscando o nosso espaço. Então, do meio para frente era muito difícil jogar por existir grandes jogadores. Jogar do meio para trás para correr por eles, é mais fácil de acontecer. O próprio Carlos Alberto brinca: "Você virou centroavante, mas você corria para mim". E era verdade. Eu jogava de volante e queria ganhar espaço, ter oportunidades.

Depois, tinha gente correndo para você?

Eu no Grêmio, nesses últimos anos, brincava com os meninos que tinham que me ajudar, correr para mim, porque a minha quilometragem já rodou muito. Eles tinham que me ajudar (risos).

Qual foi o maior craque que você jogou, que marcou sua carreira?

Joguei com muitos jogadores... Com Romário, com Neymar, Ronaldinho Gaúcho. Todos esses foram fora de série. Felipe Maestro, Juninho Pernambucano, se eu falar posso ser injusto com algum, mas eu conheço desde os meus 15 anos e foi o cara com maior potencial de jogador que eu presenciei e aprendi muito com ele. Quando eu cheguei ao Fluminense, ele jogava há mais tempo que eu na base e ainda ia estourar. Vi toda a transformação até o profissional, que é o Carlos Alberto. Para mim, na minha carreira inteira, jogando comigo e vendo aos 19, 20 anos... E olha que joguei contra milhões, a favor de um monte, e fui muito bom na minha função também, mas o Carlos Alberto foi um cara fora da curva. É outro problema e ele sabe onde deixou de virar para a direita ou esquerda para que a carreira fosse da maneira que tem que ser. Mas ele foi fora do normal, ele carregava um time. Ele pegava sete atrás marcando, um centroavante, um atacante de beirada mais rápido e deixava ele sozinho para carregar o time. Pegava a bola e levava lá dentro. Fazia isso os 90 minutos com tranquilidade. Foi um moleque que pela personalidade, por tudo que eu vivi no momento que você tem que mudar de patamar, ele foi um cara que me ajudou e foi fora da curva.

E os próximos passos? Você pensa em continuar no futebol?

Não parei para pensar em nada ainda. Não tenho como me afastar do futebol, porque só sei fazer isso. Não tenho como falar que vou trabalhar em outra coisa, não sei fazer nada além do futebol. Gosto muito do dia a dia, do campo, mas agora não pensei em nada. Quero só descansar um pouco e parar para pensar o que é interessante de fazer, trabalhar em alguma coisa. Ficar só em casa também é complicado. Curtir bastante a família, conhecer lugares que ainda não conheci. Gosto de praia, jogo futevôlei. Vou conhecer alguns lugares aí pelo Brasil. Aí, depois eu paro para pensar no que fazer.

Agora que você oficialmente não é um jogador em atividade, vou te perguntar qual era o seu time de infância.

Qual a dúvida que você tem? Eu falei que Vasco x Flamengo é o clássico que eu ganhei mais jogos com a camisa do Vasco, que vou sentir saudades, e fiz muitos gols. Sem dúvidas, eu torcia para o Vasco. Eu perdi muito da essência de torcedor porque quando você começa a jogar na base a rivalidade é muito grande. Então, você abraça a camisa que você veste de novo. Com 15 anos, eu jogava no Fluminense e na minha carreira inteira tudo que eu joguei, eu ganhei. Estaduais, Brasileiro... Juvenil primeiro ano, juvenil segundo ano, juniores, e subi para o profissional. Então, a rivalidade com Flamengo, Vasco, Botafogo, Madureira que tinha um time muito forte com André Lima, Muriqui e outros mais, você acaba abraçando aquilo e perde um pouco do torcedor. A gente é muito novo, vivencia Maracanã e tal... Depois, você só joga futebol. Eu subi para o profissional e tenho um carinho muito grande pelo Fluminense, que me deu oportunidade e era um time muito forte, que me fez ter essa rivalidade. Você abraça e quer vencer de todas as maneiras os clássicos. Você quando é novo encontra com um menino aqui e quer vencer, não quer abrir mão da zoeira, da brincadeira. Era muito importante se manter vencendo, nosso time era muito forte e venceu bastante na base.

Como ex-jogador, além do Vasco, tem algum outro clube que você torça?

Eu com certeza até o resto da minha vida vou assistir jogo do Vasco, do Grêmio e do Sport. Esses três times, não vai ter como. Jogos importantes, finais, alguma coisa eu vou sempre ver. Aqui no Rio com mais frequência, mas com certeza em Porto Alegre e Recife torcendo por essas equipes e podendo festejar muitas e muitas vezes. Até porque, meu filho é vascaíno doente, está agora com a camisa do Vasco, e sabe tudo de futebol. Com certeza vai ser o meu companheiro para curtir como torcedor.

Vamos fazer uma bate-bola por respostas mais rápidas. A primeira pergunta é qual o clube que mais te marcou.

Sem dúvidas, o Sport, o Grêmio e o Vasco me marcaram. O Sport e o Grêmio por muito mais tempo, e o Vasco por ser o clube que eu torcia na infância, por ter conquistado uma Copa do Brasil depois de muitos anos de fila. Fico feliz por encontrar crianças da idade do meu filho que falam que estava difícil e de tudo que representamos em 2011 e 2012 com a camisa do Vasco. Fico feliz pela história que fiz com essas três camisas e vou levar comigo para sempre.

Qual o título mais marcante?

A Copa do Brasil com o Vasco foi o título mais importante por tudo que envolvia aquele ano e a camisa do Vasco com bastante tempo de espera. Foi sem dúvidas o mais importante.

Seu gol preferido ou o mais bonito?

Esse aí eu posso dizer que fui privilegiado. Fiz alguns gols bonitos. Tive um gol em um Palmeiras x Atlético-MG do meio de campo, tive um gol com a camisa do Vasco que dou um chapéu no goleiro, um que dou um chapéu fora da área e faço um gol pelo Vasco... São alguns gols legais, mas o mais é o que eu pego a bola de primeira e faço um gol importante do meio de campo, de muito longe (pelo Palmeiras).

Qual foi o maior acerto da sua carreira?

Acho que foi ter confiado em mim. Confiei muito no meu potencial, nunca tive medo de assumir responsabilidade, de jogar aqui ou ali. Então, a confiança no meu trabalho e na minha pessoa quando colocava na cabeça que realmente queria aquilo e ia em busca. Isso foi o mais importante. Tive muitos acertos e isso foi o principal.

E o maior erro ou arrependimento?

Já respondi essa pergunta para mim algumas vezes e não me arrependo da nada. Eu brinco com o Maicon, falo para ele que meu único erro foi não ter ido para o Grêmio antes. Eu sempre quis estar onde me sentia bem, jogando e feliz, eu conquistava o que era necessário se me sentisse bem, mesmo que a equipe não disputasse título ou não brigasse com todas as forças. Eu estar bem era o mais importante, porque é difícil você se sentir bem-quisto no trabalho, estar disposto a fazer aquilo todos os dias com alegria, e isso me deixava feliz. Não era qualquer coisa que me tiraria aquilo. Eu falo isso com o Maicon porque tive a proposta para jogar no Grêmio de 2017 e brinco que o maior erro foi não ter ido. Se eu tivesse ido, ia conquistar a Libertadores e teria batido todos os recordes de gol da Arena do Grêmio. Eu sou o maior artilheiro da Arena e teria batido recordes porque o time era tão bom, seria muito mais fácil de fazer gol. Na brincadeira, ele concordava. Mas tirando isso, acertei em seguir no Sport. O time brigou para não cair, mas o meu ano foi muito bom, voltei para a Seleção, joguei eliminatórias. Então, foi muito bom. Foram coisas que de repente mudariam uma trajetória porque o Grêmio realmente era muito bom e eu jogando de centroavante naquele time sem dúvidas conseguiria reagir com muito mais facilidade.

E faltou alguma coisa na sua carreira?

Olha, disputei uma final de Libertadores e fiquei no meio do caminho em algumas. Ganhar a Libertadores seria importante, mas fora isso não faltou empenho, dedicação, carinho, não faltou nada. Foi tudo na intensidade boa e da maneira que Papai do Céu quis. Só em eu não ter me machucado muito, poder ter trabalhado com saúde em todas as equipes que joguei, sou um cara privilegiado. A gente sabe como é difícil encarar as pedras no caminho, mas esse tipo de pedra graças a Deus o meu caminho tinha menos pedras de lesão. Isso foi maravilhoso por não ter que me recuperar. Vejo meus companheiros sofrendo demais com isso, tive poucas agora no final e já foi muito ruim. Imagina se eu tivesse tido no decorrer da carreira. Sou muito grato por isso.

Momentos dentro de jogos que tenham te marcado ou feito você remoer quando deitava a cabeça no travesseiro.

Nada tira meu sono. Muitos me perguntam do lance que o Cássio pega minha bola o que poderia ter sido. Mas isso nunca tirou meu sono. Já fiz não sei quantos gols daquela maneira e perdi outros gols daquela maneira. Na minha profissão, com a minha equipe e minha qualidade, acontecia de estar naquela situação muitas vezes. Fui muito mais feliz do que triste, mas fui triste algumas vezes. Naquele momento, ele foi muito mais feliz. Era uma rivalidade boa, já vínhamos desde o ano anterior batalhando com o Corinthians no Brasileirão. Era uma equipe muito parecida com a nossa em termos de competitividade, de qualidade, e calhou de encontrar em uma quartas de final da Libertadores. É um lance onde eu ganho a jogada, eu corro, e pensei em tirar a bola do Cássio. Tirei e ele pegou. A gente acabou caindo nas quartas de final, tínhamos potencial para sermos campeões...

Muitas pessoas não sabem o que envolve um time de futebol e pensam que é dar desculpa de um lance onde errei. Não, não vou dar desculpa nunca. O Cássio foi mais feliz. Eu poderia ter feito outra coisa? Não sei. Eu optei por tirar e fazer o gol. Se a gente ganha uma Libertadores daquele tamanho, a estátua do Dinamite e do Romário deveria ter mais umas 30 por tudo o que envolveu aquele ano e aquela equipe se abraçou para poder chegar aonde chegou desde 2011. Isso vale muito mais do que qualquer gol ou situação. Se você olhar e perguntar a todos eles, estávamos há não sei quantos meses de salários atrasados, imagem nem se fala, deixamos de concentrar véspera de jogo, mas nunca deixamos de honrar a camisa do Vasco ou perder a essência do nosso futebol.

Fizemos os protestos que tínhamos que fazer. Até porque, falaram que iam acertar em janeiro, chegou janeiro, fevereiro, março, abril e nada acontecia. E seguimos fortes! Os líderes do grupo foram fundamentais para aquilo não desandar, seguimos com o foco e fomos fortes até onde deu. Não que perdemos por isso, mas lá no fundo os Deuses do futebol falaram. A sorte acaba puxando um pouquinho, bateu na luva dele e a bola foi para fora. Queria muito ter conquistado muito mais pelo Vasco, sem dúvidas, mas foi um ano difícil. Tudo o que desmoronou depois daquilo ali não foi à toa. Infelizmente, as coisas eram maquiadas e os jogadores que estavam naquele momento foram muito fora da curva para deixar tudo de lado, entrar em campo e ganhar.

Desde 2011, quando, jogando dentro ou fora de casa, ganhávamos de todo mundo. Fomos até a última rodada brigando com o Corinthians. E com todo o respeito, sendo muito prejudicados. Só eu fiz uns três gols legais e que fomos prejudicados sem o resultado da partida. Merecíamos, sim, ser campeões do Brasileiro e chegar mais longe na Libertadores. Não foi dessa maneira, mas sempre fomos de verdade e foi muito legal.

O melhor técnico com quem trabalhou?

Trabalhei com bastante, muitos, mas Papai Renato é fora (de série). Esse fica aqui e os outros disputam entre eles. Treinador igual ao Renato não tem. É difícil encontrar um cara que dá toda liberdade, tranquilidade, confiança para você só jogar futebol. É fora da curva. Sabe muito de bola, conhece, jogou muito, e sabe lidar no dia a dia. É uma coisa que alguns chegam próximo, mas não têm a personalidade que ele tem para lidar com tudo quanto é tipo de situação. De A a Z, ele sabe lidar com todo tipo de situação da mesma maneira sempre. Isso não tem preço. É um cara que todo jogador merecia ter uma oportunidade de trabalhar para saber o que eu estou dizendo. É um cara fantástico, virou meu amigo, e torço muito por ele.

Você jogou em nove dos chamados 12 clubes grandes do Brasil, jogou no Sport que também é muito grande, e teve uma longevidade em clubes de massa. Isso te dá orgulho?

Sem dúvidas! Fui um cara bem-quisto pelas melhores equipes do Brasil. Me dá orgulho, meus amigos falam que eu só joguei em time grande e fico feliz. Sempre em equipes de massa, de torcida, e eram sempre jogos com equipes de rivalidade, que era o que me motivava a jogar e entrar em campo com muito mais raiva. Eu acho que todo esporte se a gente não entrar com raiva para ganhar, não consegue dar o melhor.

Você falou da identificação por Vasco, Sport e Grêmio. Um é o seu clube de coração, mas o que os outros dois te entregaram tanto para cativar esse carinho?

As torcidas. O que a torcida do Sport fez comigo em Recife foi fora do normal. Eles me abraçaram, me carregaram no colo praticamente. Só joguei futebol, me dediquei e fiz por onde. Fiz o que um jogador tem que fazer de verdade. Me dediquei, esbravejei e defendi com unhas e dentes as cores da camisa do Sport. Eles valorizaram muito isso. Com o Grêmio, foi a mesma coisa. Tinha tido uma história com o clube em 2007 e não fiquei por questões extracampo. Eu era do Benfica, o Grêmio ia comprar, mas eles não quiseram mais vender. Acabou que fui para o Palmeiras. Já tinha essa história e voltei depois de 13 anos para conseguir ter uma nova relação, jogando em uma posição diferente, fazendo gols... Foi bem legal, porque eu já conhecia e sabia como funciona jogar no Grêmio. São duas equipes que, sem dúvidas, marcaram demais a minha carreira por tudo que os torcedores me abraçaram e fizeram querer, gostar e sempre em campo lembrar do que faziam por mim para retribuir.

Fonte: ge

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