Brasileirão 2024 é marcado pela 'imprevisibilidade'
Rodada sim e outra também as vinte torcidas da Série A, da primeira à última colocação na tabela, convivem intimamente com a esperança e o desespero. Porque, se é verdade que o Brasileiro passa pela maior concentração de títulos da sua história (Palmeiras e Flamengo venceram cinco das últimas seis edições), também continua tendo como uma de suas grandes qualidades a imprevisibilidade da maioria de seus confrontos.
Favoritos sempre há, obviamente, mas praticamente não existe aquele embate que levaria o cidadão a apostar a única TV da casa na carpeta mais próxima. A zebra não apenas relincha ocasionalmente, mas desfila em tapete vermelho a cada quarta e domingo. No meio da semana, por exemplo, o Flamengo aventurou-se em Caxias do Sul -- onde foi derrotado pelo Juventude, reforçado pelo General Inverno. O orçamento dos rubro-negros na atual temporada passa de R$ 1 bilhão, enquanto os gaúchos dispõem de R$ 90 milhões, uma diferença de mais de dez vezes.
Ontem mesmo, no Maracanã, uma equipe que recém retorna da Série B venceu ninguém menos que o atual campeão da Libertadores, que aliás segura a inglória lanterna da competição. O Brasileiro não é apenas traiçoeiro: ele é um moedor da razão. E, antes do Fluminense, o Vitória havia batido Inter e Atlético-MG, mas perdido para o Vasco, que goleou o São Paulo, que havia sido derrotado pelo Cuiabá, que enfiou cinco no Fortaleza, que agora (agorinha), nesta última rodada, chapiscou um sonoro três a zero no atual campeão, Palmeiras.
O Brasileiro, portanto, é aquele fenômeno que cientistas da revista Nature definiriam como "briga de foice no escuro". Uma terra onde gigantes tombam e os menores são mestres da capoeira. Entre as explicações possíveis para este constante alvoroço, uma delas é cultural: em um país de dimensões continentais onde o futebol é uma força cultural onipresente, são muitos os clubes de massa -- tradicionais, amparados por torcidas, cidades, comunidades e com respaldo econômico que pode não fazer frente ao Flamengo, mas que os permite ao menos serem competitivos.
Há também a desesperadora evidência de que o Brasileiro manda para o arcabouço da segunda divisão nada menos que quatro equipes. Em uma competição equilibrada e com várias camisas pesadas, um naco de rebaixados deste porte obriga os times a tentar conquistar pontos contra quem quer que seja, desprezando probabilidades e orçamentos, para que a vida seja mais amena no inclemente entrevero das últimas rodadas.
Conforme o andar da carruagem, é claro, geralmente despontam os favoritos. No entanto, sempre haverá alguma trampa à espreita entre um Alfredo Jaconi e um Barradão e no imenso meio do caminho. É exatamente esse tipo de coisa que faz do Brasileiro um delírio a ser compartilhado de norte a sul. Poderia ser ainda mais imprevisível se houvesse uma distribuição de receitas mais igualitária, mas isso é assunto para outro momento -- talvez depois do inevitável vice-campeonato do Criciúma.
Fonte: Coluna Douglas Ceconello - ge
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