Alecsandro diz se fica no Vasco comenta ambiente no clube
Depois de uma sessão de fisioterapia em São Januário, Alecsandro deixou o Rio de Janeiro na noite da última terça-feira e, rumo a Fortaleza, deu início às suas férias. O principal objetivo será descansar e curtir a família. Mas durante o próximo mês, apesar do corpo relaxado, a cabeça não vai parar. O centroavante ainda tem um ano de contrato com o Vasco. No entanto, admite que não vai fechar seus ouvidos a conversas com clubes que aproveitam a crise financeira cruz-maltina para fazer propostas.
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, Alecsandro deixa claro que sua intenção é permanecer no Vasco em 2013, mas diz ter recebido duas propostas concretas - uma de um clube brasileiro e outra de um clube do Oriente Médio - e está atento às movimentações do mercado. Ao mesmo tempo, garante confiar no esforço da diretoria para dar fim à crise econômica que coloca em risco sua permanência e a de outros jogadores.
- Como não trabalho com a mentira, admito que a possibilidade de sair existe. Sei que estou no mercado, que tenho minha valorização. Mas a realidade é que tenho mais um ano de contrato com o Vasco e espero cumprir. Quero ficar, até porque a diretoria já me mostrou que o planejamento do clube é com o Alecsandro à frente do ataque. Fico feliz por saber que a camisa 9 vai continuar a ser minha - disse. Com 26 gols em 58 partidas disputadas, Alecsandro fechou o ano com média de 0,45, passando perto da meta pessoal de 0,5 traçada no início. Presença frequente no campo, fechou a temporada atrapalhado por lesões musculares, consequência, segundo ele, do excesso de jogos. Ele terminou 2012 como segundo jogador que mais entrou em campo pelo Vasco, ficando atrás apenas do goleiro Fernando Prass. Para ele, apesar de os objetivos da equipe não terem sido atingidos, a avaliação, pessoal e coletiva, é positiva.
GLOBOESPORTE.COM: Qual sua impressão sobre o ano de 2012 do Vasco?
Alecsandro: Em termos de grupo, lógico que não conquistamos nosso objetivo principal. Terminamos o Brasileiro em quinto, a primeira colocação depois daquela que era a nossa meta. Nada disso estava programado, porque queríamos lutar pelo título e chegar novamente à Libertadores. Acho que deixamos passar uma boa oportunidade de voltar a essa competição. Mas a minha avaliação geral é positiva, pelas circunstâncias. Assim como nosso torcedor, nós somos exigentes. Então, se não conquistamos esse objetivo, não foi por falta de esforço ou culpa de alguém.
Em termos pessoais, qual é sua avaliação da temporada?
Quando eu tinha seis gols no Brasileiro, disse que pela sequência que vinha tendo brigaria pela artilharia, pois imaginava que o goleador faria de 20 a 23 gols. Foi o que aconteceu, o Fred terminou com 20 gols. Minha avaliação pessoal é positiva, mesmo ficando nove rodadas sem fazer gol e sofrendo duas lesões no fim. Terminar a temporada com 26 gols foi bom, levando em consideração que outros centroavantes como Fred (30), Barcos (28) e Luis Fabiano (31) tiveram números semelhantes. De repente, se não tivesse me machucado, poderia ter disputado mais três ou quatro partidas e aumentado minha marca pessoal.
Você foi um jogador frequentemente visto em campo em 2012, mas teve problemas físicos na reta final. O corpo pagou a conta pelo excesso de jogos?
Tive um desgaste grande pelo acúmulo de jogos. Não tem como culpar ninguém até porque todos trabalharam para que eu jogasse. Foi válido, mas claro que em alguns momentos joguei com dor. Em algumas partidas, por exemplo, eu poderia ter saído antes do fim para descansar, mas perdemos o Tenorio durante muito tempo e não havia um substituto imediato. Em mais da metade dos jogos atuei no meu limite, e isso é o que faço na minha carreira. Acabei forçando, e no fim a musculatura acabou gemendo. O jogo contra o Atlético-MG foi o que eu mais joguei com dor. Mas como o Vasco vinha de seis derrotas seguidas, queria ajudar o time a sair daquela situação. Fiz tratamento quase até entrar em campo, marquei um gol no empate por 1 a 1 e ajudei a dar fim àquela sequência (assista ao vídeo).
O Vasco teve um primeiro turno de Brasileirão excelente, com mais de 80% de aproveitamento. Que momento você identifica como o início da queda de rendimento do time?
O Vasco tinha um time, uma boa estrutura. Diretoria, jogadores e torcida vinham andando juntos até a eliminação da Libertadores. Depois daquela derrota para o Corinthians, da forma frustrante como aconteceu, começou uma queda. Ela não foi aparente, ainda nos seguramos nas rodadas seguintes do Brasileiro. Mas num todo a desclassificação refletiu na venda de jogadores, na falta de patrocínio, na saída do treinador... Aquele jogo acabou nos trazendo prejuízos que aparecerem algumas semanas à frente.
Durante a Libertadores o ambiente interno era melhor do que neste fim de ano?
Na Libertadores também havia atraso de salários, mas o objetivo era maior do que tudo. Sabíamos que com as vitórias os patrocínios apareceriam e as coisas se resolveriam. Quando saímos, tudo teve um desfecho ruim. O clube precisou se desfazer de alguns dos seus melhores jogadores. Mas em nenhum momento culpo o presidente. Convivo com ele e sei as dificuldades que passa. Era impossível não ocorrer a negociação de atletas.
E já chegou ao limite a sua paciência e a dos demais jogadores com o atraso de salários?
Em mais da metade dos jogos atuei no meu limite, e isso é o que faço na minha carreira.\"
Alecsandro: O jogador tem de ser inteligente e não pode agir na emoção. Em alguns momentos tivemos o Roberto Dinamite no vestiário explicando o porquê da situação. Sempre acreditamos que as coisas vão melhorar. Sabemos que a maior parte dos problemas vem das gestões anteriores. No ano passado, quando cheguei, a diretoria tinha recursos e fez um grande time, conquistamos resultados importantes. Mas claro que há um desgaste de todos, e o Vasco, pela sua grandeza, tem de se resolver e não esperar o amanhã. Não diria que estou no meu limite porque vejo o clube se movimentando.
Está otimista em relação às perspectivas para o ano que vem?
Com essas dificuldades, claro que existe a possibilidade de alguns jogadores saírem. Podem ocorrer contratações, mas é mais difícil. O primeiro passo é montar a diretoria com profissionais que podem trazer bons frutos para o Vasco. Não se constrói um prédio pela cobertura. Primeiro precisa ser feita a base. Com certeza teremos uma resposta positiva, então esse meu limite vai se estender por mais um tempo.
Qual a sua expectativa em relação ao elenco do Vasco para 2013? Do jeito que está, a equipe começa o ano que vem enfraquecida?
Se formos pensar no elenco, vamos começar abaixo em comparação a 2012. Mas ainda há um mês para contratações. Lógico que esperamos começar bem o ano, mesmo com as dificuldades que ainda vão existir em janeiro. De qualquer maneira, o Vasco precisa fazer um grande Carioca, porque com bons resultados, de uma forma ou de outra, você consegue melhorar o extracampo. Vamos brigar pelo título estadual para começarmos o ano da melhor forma. Muitos não dão importância, mas o Carioca já derrubou muito treinador e já mandou muito jogador embora.
E você? A expectativa é cumprir o contrato que termina no fim de 2013?
Já ouvi declarações de jogadores dizendo que não sairiam de seus clubes e dois dias depois foram embora. Como não trabalho com a mentira, admito que a possibilidade de sair existe. Sei que estou no mercado, que tenho minha valorização. Mas a realidade é que tenho mais um ano de contrato com o Vasco e espero cumprir. Quero ficar, até porque a diretoria já me mostrou que o planejamento do clube é com o Alecsandro à frente do ataque. Fico feliz por saber que a camisa 9 vai continuar a ser minha (risos). O clube vive situação difícil, e se houver uma proposta financeira interessante para ambas as partes a gente analisa. Se for melhor para todo mundo, eu saio.
Dessa forma, vai ser possível estar completamente relaxado nas férias?
Não dá para desligar completamente. Leio muita coisa pela internet. Mas vou viajar, dar atenção à família e descansar. Tenho um acordo com meu procurador que, em termos de proposta, ele me passe somente o que tiver no mínimo 75% de possibilidade de acontecer. Nada abaixo disso ele me passa, porque o que mais tem no mercado é gente querendo ganhar dinheiro e oferecendo o jogador a qualquer clube. Pelo mercado, acredito que possa receber algumas ligações dele, mas só depois do meio-dia (risos).
E existe alguma negociação que está no mínimo nesse patamar de 75%?
Existem duas situações, uma do Brasil e outra do exterior, que o meu procurador já comunicou à diretoria do Vasco. Uma, o Vasco descartou num primeiro momento. Ela seria bom para mim, mas não seria viável para o Vasco. Tenho que respeitar. Estou bem tranquilo, porque meu principal objetivo é ficar aqui e fazer 50 gols pelo clube - hoje estou com 39.