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Aldir Blanc diz em seu livro que rivalidade entre Vasco e Flamengo começou e

\"Livro No livro \"Vasco: A Cruz do Bacalhau\", lançamento da Ediouro, o escritor e compositor Aldir Blanc, em parceira com o jornalista José Reinaldo Marques, apresenta a história do Vasco em detalhes, com perfis de grandes ídolos, relação de títulos e curiosidades sobre o clube.

Os autores, vascaínos fanáticos, transmitem em seus textos as verdadeiras emoções que só quem é louco por futebol conhece.

Em um dos capítulos, eles narram a conquista do Campeonato Carioca pelo Vasco no ano de 1923, sugerindo que foi nessa época que surgiu a grande rivalidade entre os cruz-maltinos e os rubro-negros.

Leia sinopse de \"Vasco: A Cruz do Bacalhau\".

TRIUNFO ESMAGADOR
Mil novecentos e vinte e três é um ano histórico para o Club de Regatas Vasco da Gama. Foi quando o Vasco fincou sua âncora entre os clubes da primeira divisão do futebol carioca, conquistando um troféu exibido com muito orgulho em São Januário. Não importa o Vasco ter perdido para o Flamengo a sua penúltima partida. Os milhares de torcedores que se apinharam nas Laranjeiras para assistir àquele jogo sabem que a alegria do Flamengo só durou algumas horas, pois no dia seguinte acordaram de ressaca e com um grito zumbindo em seus ouvidos: \"O Vasco é campeão!\"

Aldir Blanc narra a história do Club de Regatas Vasco da Gama

E o Vasco da Gama levantou mesmo a taça de maneira incontestável. Fez a melhor campanha nos dois turnos. Jogou 14 jogos, obteve 11 vitórias e apenas uma derrota. O ataque cruz-maltino balançou a rede dos adversários 32 vezes. O time sofreu 19 gols e terminou o campeonato com saldo de 13. Quem tiver a oportunidade de olhar a crônica esportiva daquela época verá que a imprensa foi unânime em afirmar que o Vasco da Gama sagrou-se campeão com todos os méritos. \"O triunfo que acaba de obter o time da Cruz-de-malta é esmagador e desses que nem os seus inimigos podem contestar. Venceu porque foi mais forte e inteligente. Resistiu a tudo e pôs em prática um jogo inteligente e produtivo\", escreveu o jornalista Raul Loureiro, do jornal O Imparcial, para uma edição especial do Sport, sobre o triunfo vascaíno.

Reclamam os vascaínos que a conquista do Campeonato Carioca de 1923 não foi invicta por causa de um lance polêmico no jogo contra o Flamengo, no qual o juiz Carlito Rocha, benemérito do Botafogo, prejudicou o time anulando um gol que poderia ter sido o gol de empate. E, a considerar a veracidade dos fatos sobre este jogo, tudo indica que a grande rivalidade existente hoje entre Vasco e Flamengo começou nesta época.

Mário Filho relata, em O sapo de arubinha - Os anos de sonho do futebol brasileiro, que os jogadores rubro-negros entraram no estádio com remos embrulhados em jornal. Tinham combinado que assim que a partida começasse, a encrenca comeria solta. Segundo o cronista, a descida das pás nas cabeças dos vascaínos deveria acontecer com mais intensidade em caso de gol. Começou o jogo e, segundo o cronista, os torcedores cruz-maltinos foram agredidos indiscriminadamente.

O Flamengo abriu o placar: 1 x 0. Pouco tempo depois fez o segundo gol, para a euforia da sua torcida e dos torcedores dos outros clubes que também torciam pela derrocada vascaína. O primeiro tempo acabou com essa vantagem rubro-negra no placar. Mas os torcedores do time do Vasco, acostumados com as viradas do time no segundo tempo, acreditavam que a história poderia mudar. No início do segundo tempo, Cecy fez um gol a favor do Vasco da Gama. Aos torcedores da Cruz-de-malta não era permitido comemorar sob a pena de levar com os remos na cabeça. O Flamengo fez mais um gol. O Vasco como sempre lutava, até que o jogador Arlindo, aos 41 minutos, marcou o segundo do time. Ainda fez um outro gol, o tal que acabou sendo anulado pelo intimidado Carlito Rocha, e que gerou muita reclamação por parte dos vascaínos prejudicados, afirmando que o gol fora lícito. Final de partida, Flamengo 3 x 2 no Vasco. Pascoal, autor do gol e jogador de grande prestígio no clube cruz-maltino naquela época, nunca se conformou com a anulação, como mostra esse depoimento para a revista Placar. \"Só perdemos aquele jogo por causa do Carlito Rocha. Eu fiz um gol quando faltavam nove minutos para terminar a partida e ele anulou, alegando que a bola havia entrado por cima numa abertura inexistente.\"

Mesmo depois de tanta pressão, a carreira do Vasco não foi abalada. É claro que um título de campeão invicto seria mais saboroso. Mas o importante é que o Vasco foi ainda mais forte na busca do título. Bastava uma única vitória contra o São Cristóvão no penúltimo jogo e o título estaria assegurado por antecipação. O São Cristóvão chegou a fazer 2 x 0, dando a esperança de que poderia estragar a festa vascaína, porém - porém... - mais uma vez brilhou a estratégia do técnico Ramón Platero. O Vasco virou o jogo e, com um gol de Cecy e dois de Negrito, cobriu-se com a faixa de campeão.

O Flamengo e os outros tentaram, mas não conseguiram sabotar a festa. O Vasco fizera uma brilhante campanha, em que merecem ser destacadas as atuações dos valorosos Nélson Conceição, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Pascoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito. Os cruz-maltinos fazem também saudação a Adriano Rodrigues dos Santos, vice-diretor de futebol na época, e ao técnico Ramón Platero, responsável pelo padrão do time, difícil de ser superado pelos demais competidores. E um outro motivo de orgulho para os vascaínos sobre o título de 1923 é que, naquele ano, o Vasco, além de atropelar os seus adversários e se sagrar campeão, foi vitorioso também contra o preconceito.

Fonte: Folha Onine