Alan Kardec e Jardel tiveram começos de carreira parecidos

A descrição parece bem familiar àqueles que acompanham futebol desde o início da década de 90. Centroavante, alto, bom cabeceador, alguma dificuldade com os pés, revelado no Vasco. Com dois anos de profissional, já fez alguns gols decisivos mas não consegue, de jeito nenhum, conquistar a torcida. Termos como “bonde” e “poste” são comuns para descrevê-lo e, sem muitas oportunidades no time titular o atacante acerta sua transferência por empréstimo para um clube gaúcho. Quem é ele?

Se você pensou em Jardel, errou em cheio. O centroavante em questão é Alan Kardec, que acaba de ser convocado para o Mundial Sub-20 e acertou sua ida para o Internacional por empréstimo até maio de 2010. Aos 20 anos de idade e dois de profissional, o carioca de Barra Mansa já coleciona algumas boas histórias e gols decisivos na carreira que, ao menos no início, segue o mesmo rumo do ex-ídolo de Grêmio, Porto e Galatasaray.

Sua história nos profissionais do Vasco teve início na semifinal da Taça Rio de 2007, contra o Botafogo. Num jogo em que todos prestavam atenção em Romário, que poderia fazer seu milésimo gol a qualquer momento, Alan entrou no segundo tempo, quando o Fogão vencia por 4 a 3. Em sua segunda jogada, empatou o jogo com uma cabeçada mortal. Os cruzmaltinos perderam nos pênaltis a vaga para a final, mas o centroavante começou a ganhar espaço na equipe.

No Brasileirão daquele ano, Kardec protagonizou outro momento importante. A partida contra o Internacional, no Beira Rio, marcava a despedida de Alexandre Pato do clube, e todos os holofotes estavam apontados para o então novo reforço do Milan. O vascaíno, porém, roubou a cena; na vitória por 2 a 0, fez um gol, naturalmente de cabeça, e a jogada do segundo, marcado por Leandro Amaral. Mas a equipe caiu de rendimento nos jogos seguintes e o centroavante foi um dos “eleitos” pela torcida, que passou a pegar no seu pé sistematicamente.

No início de 2008, ele conseguiu, teoricamente, o que parecia impossível: ser o pivô de uma briga entre Romário e Eurico Miranda. Kardec vivia um jejum de gols, e o baixinho, então técnico da equipe, queria sacá-lo do time para preservá-lo. Eurico bateu o pé por sua escalação e limou Romário do comando técnico, colocando Alfredo Sampaio em seu lugar. Na ocasião, especulava-se sobre o interesse do Palmeiras e de algumas equipes europeias em seu futebol.

Reserva durante a desastrosa campanha do Vasco no Brasileirão 2008, Kardec voltou a viver um bom momento no Sul-Americano Sub-20, no início desse ano. Convocado após o corte de Marquinhos, o centroavante ficou no banco durante a competição inteira, mas o gol marcado de pênalti contra a Argentina pode ter sido determinante em sua carreira. O centroavante havia entrado poucos minutos antes e nem era o batedor oficial, mas assumiu a responsabilidade e mostrou que, embora mais limitado tecnicamente do que alguns companheiros, é extremamente maduro para a idade, algo que se diz em São Januário desde a sua promoção.

Sem muitas oportunidades na colina, o centroavante segue para o Internacional, onde provavelmente será reserva. O clube gaúcho só conta com Alecsandro para jogar como referência no ataque e, embora o recém-contratado Edu seja excelente cabeceador, Kardec poderá ser muito útil em alguns momentos, especialmente quando abastecido pelos excelentes cruzamentos de Kleber, que poderão consagrá-lo assim como o paraguaio Arce fez com Jardel no Grêmio.

A última coincidência entre a carreira dos dois é a convocação para o Mundial Sub-20. Mas Kardec, ao que tudo indica, será titular, ao contrário de Jardel, reserva da equipe campeã mundial em 1993, na Austrália. Os próximos anos dirão se o novo reforço colorado fez jus ou não à comparação com o maior centroavante do futebol português nos últimos 30 anos. Só nos resta esperar.